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Breve trajetória de Carlos Lacerda

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Respeitosamente, penso ser de um simplismo atroz afirmar que Carlos Lacerda sempre cedeu ao recurso “fácil” do “golpismo”. Não há nada de “fácil” na trajetória lacerdista.

Depois de romper com o comunismo, como jornalista, ele combateu, em sua reta final, a ditadura mais completa da história brasileira, o Estado Novo. Depois, diante do absurdo da manutenção de direitos políticos do ditador, manutenção do sistema político nas mãos da oligarquia da ditadura, legislação eleitoral concebida pelos membros da ditadura – com direito ao ditador “puxando votos” para aliados em vários estados ao mesmo tempo, economia capitaneada por um órgão (o Banco do Brasil) ocupado por membros da ditadura, admitiu a hipótese de uma revolta para impedir que o ditador voltasse ao poder cinco anos depois, o que comparava à volta de Hitler ou Mussolini (algum absurdo na analogia?).

Quando o ditador volta, remonta uma guarda pessoal ilegal, cujo líder depois ordena a morte do próprio Lacerda – aliás, longe de ser o único atentado por ele sofrido.

Ele se opõe aos absurdos de seu governo, que exemplifica de muitas maneiras o populismo à moda do Justicialismo argentino. Em 54 e 55, pregou sim contra a realização imediata de eleições e depois a posse de JK, enxergando nisso a perpetuação de todo o sistema que ele quis derrubar anteriormente e não foi desmontado. Criticou a manutenção do poder de distribuição das cédulas eleitorais pelos partidos políticos fora do local de votação, o que tornava o voto secreto uma piada.

Esse período é o que pode ensejar maiores controvérsias, mas cabe enfatizar que tudo foi defendido de forma pública por ele por meses, sem conspirações ou mistérios.

Em 61, apoiou de início a posse de Jango; depois, efetivamente fraquejou, subordinando seu discurso ao dos chefes militares. Poderia ter cedido à proposta de golpe de Jânio, o presidente que ele ajudou a eleger; teria sido “fácil”, mas ele não o fez.

Em 64, contudo, Lacerda não foi entusiasta de primeira ordem de uma ação militar. Queria ser candidato, queria ser presidente, sabia perfeitamente que uma ação militar ameaçaria esse propósito. Não era um bocó caindo em uma armadilha, como se tenta apresentar. Porém, depois da paralisia do país patrocinada de cima, da anistia a militares amotinados, de receber ameaças de sequestro, assassinato e invasão do Palácio Guanabara, de fato, ele acolheu o movimento. Pode-se discordar de suas ações, mas é preciso avaliá-las devidamente no seu contexto e nele compreender a formação de seu pensamento, o que procuro fazer em meu livro Lacerda: A Virtude da Polêmica. “Fácil”, a meu ver, é fazer julgamentos em 2023.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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