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Planejamento e livre mercado

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JOÃO LUIZ MAUAD *

Muito oportuno o comentário do meu colega Bernardo Santoro sobre planejamento estatal e liberdade de mercado.  Para reforçar o argumento, segue um antigo artigo deste escriba sobre o tema:

Planificação eficiente

“um estadista que pretendesse dirigir a forma como os indivíduos deveriam empregar seus capitais não só entregar-se-ia a um trabalho totalmente desnecessário, como assumiria uma autoridade que não se pode entregar com segurança a qualquer pessoa, congresso ou senado, e que torna-se ainda mais perigosa nas mãos de um homem suficientemente louco e presunçoso para imaginar-se capaz de exercê-la”. (Adam Smith – A Riqueza das Nações)

Segundo o pensamento desenvolvimentista, o sistema de livre mercado não presta, dentre outras coisas, porque nele impera uma suposta “anarquia da produção”.  Essa falácia sustenta que o liberalismo não dá margem à realização daquelas panacéias que eles apelidaram de “planejamento estratégico”, “planejamento integrado” ou simplesmente “planificação econômica”.

Como muito bem demonstrou Ludwig Von Mises, o capitalismo de livre mercado é, na verdade, um sistema extensiva e racionalmente planejado. Só que o planejamento capitalista se dá de forma pulverizada, através da ação de cada indivíduo. Quem quer que pense numa determinada ação econômica que lhe pode ser benéfica, assim como nos aspectos operacionais da sua consecução, estará realizando parte da “planificação” de uma economia de mercado.

As pessoas planejam comprar imóveis, automóveis, eletrodomésticos, alimentos, roupas e tudo mais.  Planejam que tipo de trabalho querem fazer e, conseqüentemente, que profissões deverão abraçar, bem como a quem devem oferecer as habilidades específicas que possuem.  As empresas, por seu turno, planejam produzir novos produtos ou descontinuar os existentes; planejam alterar seus métodos produtivos ou continuar usando os atuais; planejam abrir filiais ou fechá-las;  contratar novos trabalhadores ou demitir os atuais; aumentar seus estoques ou diminui-los, fazer novos investimentos ou não.

Muitos exemplos de planejamento rotineiro por indivíduos, famílias ou empresas podem ser encontrados.  A “planificação econômica” privada ocorre em todas as partes e a todo momento num sistema de livre mercado. Todos participam dela, consciente ou inconscientemente.  Entretanto, para muitos (a maioria), ela é imperceptível, quando não invisível.

De acordo com o professor George Reisman, “um gigantesco e extensivo planejamento econômico privado não somente existe, mas é totalmente coordenado, integrado e harmônico no capitalismo”.  Todo esse planejamento, dos indivíduos, das famílias e das empresas, está regulado por um mecanismo sólido, autônomo e extremamente eficiente, denominado “sistema de preços”.  Quem quer que planeje adquirir bens e serviços, de qualquer natureza, irá inevitavelmente considerar os respectivos preços e estará sempre pronto a mudar seus planos em função das oscilações do mercado.  Também os que pretendem vender alguma coisa estarão prontos a alterar seus planos na eventualidade de mudança nos preços praticados.

As empresas, por sua vez, baseiam seus planos em perspectivas de faturamento e custos de produção.  Uma empresa bem administrada deverá possuir agilidade para alterar os seus planos em vista de mudanças nos níveis de oferta e demanda dos seus insumos e produtos, cujo principal termômetro são os preços do mercado.

Vamos supor que, por causa de uma gripe aviária, os cidadãos resolvam alterar os seus padrões de consumo e passem a consumir mais peixe e menos frango.  É lógico que, para manter a rentabilidade, os supermercados e restaurantes deverão alterar os seus padrões de oferta, aumentando as quantidades de peixe e reduzindo, na mesma proporção, as de frango.  Essas alterações, por seu turno, irão determinar outras mudanças de planos e compras por parte dos seus fornecedores, dos fornecedores dos fornecedores e assim sucessivamente, até que o sistema inteiro tenha sido re-planejado para adaptar-se à vontade soberana dos consumidores.

Portanto, o “termômetro” dos preços leva a que os agentes do mercado estejam continuamente se re-planejando, em resposta às alterações de temperatura da oferta e da demanda, de forma que cada participante esteja sempre buscando otimizar os seus lucros / benefícios ou, de modo inverso, minimizar as suas perdas.  Essa é a maneira pela qual se assegura que cada processo produtivo seja gerenciado de modo tal que acabe colaborando para maximizar a eficiência do sistema como um todo.

Por sua própria natureza, o intervencionismo tira dos indivíduos não só a possibilidade, como o interesse pelo planejamento, cuja realização fica restrita a meia dúzia de burocratas, sob a absurda e virtualmente perturbada crença de que seus cérebros “especialíssimos” poderiam alcançar a capacidade de um Deus onisciente e onipresente.  Como resultado, o planejamento racional do mercado dá lugar à ineficiência econômica, ao desperdício de recursos escassos, aos privilégios de toda sorte e à corrupção sistêmica.

* ADMINISTRADOR DE EMPRESAS

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