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Perigos da igualdade

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FELIPE BASTOS GURGEL SILVA*

A situação seguinte trata-se de um problema extremamente corriqueiro nas maiores empresas do Brasil e do mundo. A empresa em si precisa selecionar poucas dezenas de jovens recém-formados para seu programa de Trainee, no qual a mesma procura rotacionar os selecionados entre diferentes áreas de modo que os mesmos possam ter uma visão holística da companhia e, futuramente, possam vir a assumir posições de liderança na instituição. Como se trata de uma empresa que é associada a excelentes oportunidades de carreira e crescimento profissional, centenas de milhares de universitários se candidatam ao referido programa. Dado a impraticabilidade de se entrevistar a todos, a empresa utiliza alguns critérios de filtragem. Primeiro, seleciona-se apenas àqueles que estudaram em universidades e instituições de excelência. Posteriormente, filtros como domínio da língua inglesa são aplicados, até que por fim provas de raciocínio lógico são utilizadas de modo a reduzir o pool de candidatos a apenas algumas dezenas. A partir de então passam a ser conduzidas entrevistas.

Bom, o processo em si dificilmente seria aclamado pela Justiça ou pela sociedade (salvo talvez alguns acéfalos) como sendo “preconceituoso”. Bom, paremos nossa breve história por enquanto, mas não sem esquecermo-nos de um importante detalhe. Quer queira quer não, após aplicar filtros por faculdade e por quociente intelectual, a amostra final reduzida com certeza absoluta já não é mais “representativa” da população geral – e ninguém acha isso errado. Nem deveriam!

Pois bem, essa introdução serviu apenas para remeter a outra notícia que li semanas atrás. O título era bem direto: “Ativistas na França acusam a Abercrombie & Fitch de contratação discriminatória”. Não era de se estranhar que um dos “pilares” da Revolução Francesa, a tal “Égalité”, fluísse no sangue dos manifestantes. Segundo eles a empresa utilizava critérios de aparência física para selecionar empregados que atuariam como modelos para a empresa. Não é preciso ser um gênio para entender o paralelo que pretendo traçar, mas minha conclusão é justamente alertar para o julgamento de valor que fazemos e os riscos que corremos ao utilizar o conceito de “igualdade” em sua versão literal ou extremista.

Com certeza a “patrulha do politicamente correto” não liga para fato de a Ambev selecionar 15 trainees dentre mais de cem mil candidatos utilizando, dentre outros critérios, habilidades analíticas dos candidatos. Agora quando nos referimos ao caso da Abercrombie, o “sentimento de revolta” aflora dentre àqueles que defendem a “igualdade de oportunidades”. Afinal, que absurdo selecionar pessoas baseado em critérios de beleza! O problema (que obviamente ativistas não têm capacidade intelectual de compreender) é que tudo isso não passa de um julgamento de valor – e que ambos os critérios de “QI” e “atributos físicos” são muito mais semelhantes (embora não correlacionados) do que pareçam. O QI de uma pessoa como característica fenotípica é essencialmente determinado por carga genética (QI dos pais) e pelo meio (estímulo a atividades intelectuais, leitura, ciências etc.). E as características estéticas (físicas)? Bom, seriam também fruto de… Carga genética e meio (exercícios físicos, etc.). Assim sendo, por que as julgamos de forma tão distintas. Por que consideramos correto (ou até meritocrático) a seleção por uma prova de lógica e ao mesmo tempo ativistas chamam de “fascismo” a seleção de modelos com base em suas características físicas.

Vários argumentos plausíveis podem ser utilizados para explicar, não justificar, tal fenômeno. O problema que surge a partir de então é outro. Os riscos de considerarmos a “igualdade” na sua versão literal e deixarmos a ditadura politicamente correta dominar conceitos de nossa sociedade.

Primeiro, ambos os critérios de capacidade intelectual (caso do trainee) como de beleza (caso do modelo) são clara e evidentemente considerados pelas respectivas empresas não apenas como importantes, mas essenciais para a execução eficiente das respectivas posições profissionais. Seria um “preconceito” o Exército exigir que seus soldados sejam minimamente capazes de correr 10 km sem cansaço excessivo? Ou exigirmos que pilotos de caça tenham suas visões próximas do ideal? Ou os mesmos ativistas levantariam suas bandeiras estúpidas e destruidoras da “igualdade” contra tais práticas?

Podemos levar o conceito de igualdade a situações ainda mais esdrúxulas. Na minha visão pessoal (egoísta), eu posso exigir da sociedade que se criem cotas para “perna-de-pau” nos times da série A do campeonato brasileiro de futebol. Afinal, é “um absurdo” que o esporte mais popular do país exclua de seu principal campeonato 99,99% da população! Ou melhor, por que não criarmos cotas para “mulheres feias” nos concursos de Miss? Afinal, é uma injustiça que uma certa “filósofa” seja impedida de concorrer simplesmente por ter nascido com atributos de beleza tão ressaltantes quanto a sua “capacidade intelectual” de docente da USP que chama a classe média de “atraso de vida”.

O que esses casos não deixam de ilustrar é o problema central que criamos quando definimos o conceito de “coletivo” como uma massa que deve ser forçadamente feita igualitária e, com isso, matamos o conceito elementar e atômico do “indivíduo” e com o pluralismo fundamental (e belo) existente na sociedade. Foi isso que foi teorizado por teóricos ignóbeis, que nunca pisaram numa fábrica, como Marx. Foi isso que fizeram ditadores comunistas no século XX (e infelizmente ainda o fazem em pleno século XXI). O resultado, em sangue e em destruição de valor, está ai para não ser esquecido.

Não podemos esquecer que a solução é clara e direta. Apenas o livre mercado e o capitalismo são condizentes com o conceito fundamental de liberdade. Liberdade das pessoas de escolherem carreiras que mais se adéquam aos seus perfis (pluralistas). Liberdade dos empreendedores (e dos meios produtivos) de selecionar seus insumos produtivos (inclusive recursos humanos) de acordo com o critério que julguem otimizar sua eficiência produtiva, assim como definir as práticas de negócio que melhor atendam as demandas dos consumidores. Liberdade dos consumidores que por fim escolhem os produtos que melhor otimizam suas utilidades individuais.

Chore a “Tia Professora” do Primário com o que vou dizer, mas quer ela queira, quer não, a igualdade nesse sentido já é inconsistente pelo simples motivos que pessoas são diferentes. Nascemos em locais diferentes, com cargas genéticas diferentes e diferentes níveis de capital financeiro, cultural, político e intelectual. Alguns são mais tímidos, outros mais extrovertidos; uns mais adversos e outros mais propensos a tomar riscos; uns com maior controle emocional, outros de temperamento explosivo. Uns terão como ídolo Albert Einstein, e outros, Machado de Assis.

Aí começamos o ciclo virtuoso do livre mercado. Como agente decisório de minha carreira, escolho seguir o caminho que julgo não apenas satisfazer minhas ambições e prazeres, mas também aquele que me dá maior diferencial competitivo. Decidi não ser jogador de futebol profissional (e virei engenheiro, depois financista) quando aos 11 anos sempre era colocado no banco de reservas. E aí? O que vou fazer? Insistir em ser jogador e exigir alguma ação afirmativa que me garanta a tal “igualdade”? Ou buscar algo no qual possa me destacar. E não falo isso em hipótese alguma menosprezando os jogadores profissionais. Tenho 30 anos e muitos jogadores na minha idade terão acumulado mais patrimônio e riqueza que eu em toda minha vida profissional. E acho justíssimo, dado que seus preços (salários) são definidos pelo mercado – se o Neymar ganha o que ganha é porque o Barça enxerga que o valor que ele agrega é maior que seu salário. Afinal, é uma carreira de risco, na qual poucos chegam ao topo e, mesmo chegando, uma breve lesão pode por tudo a perder.

Mais uma vez a pedagoga da 5ª série vai se revoltar com o que eu vou dizer, mas muitas vezes as barreiras que algumas pessoas têm para exercer tais atividades não se tratam somente de pouco diferencial competitivo, mas sim de total inabilidade para a mesma. Por mais que eu queira e me esforce 20 horas diárias eu jamais conseguiria ser jogador profissional de basquete – pelo simples fato de eu ter 1,68m de altura. E ai? Vou pedir cotas na NBA por conta disso? Ou vou querer um banquinho para que eu possa enterrar?

Passemos agora à ponta produtiva (empresas). Como eu disse anteriormente, beleza e QI são critérios de filtragem empregados por empresas diferentes para selecionar funcionários cujas funções são primordialmente diferentes. Não faria sentido, por exemplo, selecionar futuros executivos com base em suas belezas físicas, assim como escolher modelos para bater fotos com as turistas na Champs Elysées com base nos QI´s dos candidatos. Não que “QI” e “beleza” sejam negativamente correlacionadas. Creio que apenas tenham correlação nula, ou algo muito próximo disso.

O que acontece, entretanto, se a empresa adotar um critério de seleção não condizente com a função técnica da vaga em questão? Devemos clamar a ira dos manifestantes e acusar a empresa de “preconceito”. Novamente, julgo que não. Justamente porque quem pagará o preço por essa seleção ineficiente será ninguém mais ninguém menos do que a empresa em si. O que aconteceria se o Barça, por exemplo, utilizasse uma prova de 400 metros nado livre para selecionar seus jogadores? Quem pagaria o preço? Está evidente a resposta. Os jogadores top poderiam ir para outro clube que utilize critérios mais coerentes, clube esse que seria com certeza mais eficiente que o Barça nesse novo critério!

Na ponta final, ou seja, os consumidores, somos soberanos em escolher quais produtos vamos consumir, premiando os vencedores – não os “campeões nacionais”. Um exemplo? Anos atrás soube de uma loja de roupas femininas que, para não deixar suas clientes “constrangidas”, não permite a entrada de homens na loja (não no vestuário apenas, mas no estabelecimento como um todo). E aí? Devem os homens acusarem a empresa de preconceito? Não! Se para a loja o potencial ganho de marketing com algumas clientes que goste da prática compensa a perda de receita oriundas de homens que, como eu, compraria um presente para minha esposa na mesma, paciência!

Bom, quer dizer então que devemos ser contra a igualdade de forma sumária? De forma alguma. Com certeza na sua versão coerente ela foi um dos principais motores da organização social que hoje temos e da solidez de nossas instituições civis. Qual seria então essa forma correta do conceito de igualdade? Seria sua aplicação não no sentido de destruição do pluralismo e da eliminação do indivíduo como unidade fundamental, mas sim no âmbito de direitos civis básicos e fundamentais. Como assim? Simples, se um bilionário ou um mendigo sofrem um crime, que o crime seja investigado com o mesmo afinco e com os mesmos recursos por parte da polícia (e da justiça). Ou se o bilionário e o mendigo cometem o mesmo crime, que ambos estejam sujeitos ao mesmo Código Penal.

Mais ainda. No âmbito de direitos fundamentais até ações vistas como “afirmativas” podem ser aceitas em certo nível. Dado que mobilidade (ou direito de ir e vir com seus próprios meios) é um direito civil básico, que se construam calçadas rebaixadas de forma a permitir que pessoas com dificuldade de locomoção possam exercer tal direito sem maiores constrangimentos – mesmo que tais pessoas correspondam a uma minoria. É justo, coerente e não fere o pluralismo social e o individualismo das pessoas. Ao contrário, protege o individualismo de uma minoria.

Dentro desse contexto o conceito de igualdade não apenas é importante, mas sim necessário. A sua extrapolação é que pode ser demasiadamente perigosa – e deve ser combatida, ao menos que a sociedade esteja disposta a pagar o preço de termos, digamos, a guisa de exemplo, cotas para pessoas com QI abaixo de 80 nas Residências Médicas de Cirurgia.

Engenheiro Aeronaútico pelo ITA.

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