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O “Time dos Sonhos” e o sonho de liberdade

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BERNARDO SANTORO*

Ontem eu vi o excelente documentário “The Other Dream Team“, que conta a história dos jogadores e do time de basquete da Lituânia que disputou as Olimpíadas de Barcelona em 1992,  apenas dois anos após a sua independência. A Lituânia é um pequeno país báltico de 3 milhões de habitantes que foi ocupada e anexada à União Soviética por 50 anos, a partir do infame pacto Molotov-Ribbentropp (o acordo entre a Alemanha nazi e a Rússia comunista para dividir a Europa entre eles).

A imagem da caveira enterrando a bola na cesta foi feita pela banda americana “Grateful Dead”, que patrocinou a ida dos atletas para os jogos, por entender que eles representavam um sonho: o sonho de liberdade.

A partir daqui, passo a contar o enredo, então quem tiver interesse de assistir o documentário como novidade, sugiro que pare por aqui e veja o filme.

A história começa mostrando as péssimas condições de vida dos lituanos, e como o regime stalinista mandava todos os opositores para campos de concentração na Sibéria. Como os lituanos já eram grandes fãs de basquete, o esporte servia como válvula de escape para os que estavam presos na terra gelada. É uma parte sombria e até arrastada do filme, que começa a ficar mais agitado em seguida, ao focar na história do time.

Nas Olimpíadas de 1988, a União Soviética venceu os EUA na final do basquete, sendo que os EUA só haviam sido derrotados em Olimpíadas apenas uma vez na história, dada a imensa predominância do país no esporte, de onde se vê o tamanho do feito alcançado. Dos cinco titulares, quatro eram lituanos, e apenas dois dos doze jogadores inscritos eram russos.

Os jogadores relatam a vergonha que era ganhar uma medalha de ouro para um país invasor e opressor, mas a vontade de vencer típica de um atleta de alto nível falou mais alto. Nesse primeiro momento já temos um vislumbre do mecanismo socialista de culto à personalidade quando, antes das Olimpíadas, os atletas foram obrigados a visitar o túmulo de Lênin. Os lituanos declaram que a vontade que eles tinham era de cuspir lá dentro.

Outra revelação interessante do filme é sobre a péssima qualidade de vida dos lituanos em virtude da falta de livre-mercado, que acabava criando uma imensa rede de mercado negro. Os jogadores contam que quando iam jogar no exterior, compravam tudo o que podiam com todas as suas economias, para levar de volta à Lituânia e revender, como típicos empreendedores, pois a falta de produtos básicos e também eletrônicos era muito grande.

Esse sentimento se torna mais forte com o depoimento de Sarunas Marciulionis, que foi draftado para a NBA em 1987 e só conseguiu autorização da burocracia soviética para ir pros EUA em 1989. Marciulionis, que estava acostumado a sempre encarar enormes filas para pegar alimentos básicos na sua terra natal, lembra que chorou no dia que entrou em um supermercado pela primeira vez, em Oakland, onde jogou a maior parte da sua carreira americana. Quando ele relembra desse fato fica claramente emocionado, e isso nos serve de reflexão, pois volta e meia nos esquecemos do verdadeiro milagre civilizatório que é a existência de um lugar como o supermercado.

Sobre esse draft e a total falta de liberdade da população lituana, cabe registrar a imensa dificuldade que esse jogador teve para poder sair. Na reunião em que ele conseguiu a autorização para ir jogar no Golden State Warriors, de Oakland, a gerente do time conta que tinha mais de 20 burocratas presentes, todos querendo saber quanto cada um deles ganharia para conceder tal autorização, como se fossem senhores de engenho negociando a alforria de seu escravo, e isso a menos de 30 anos atrás, em plena Europa.

Interessante também notar que o dono do Atlanta Hawks, Ted Turner, que também é dono da famosa rede de mídia CNN, é mostrado com tendo enorme influência junto ao Bureau soviético, e tentou impedir a liberação do atleta a todo custo para que o mesmo assinasse com o seu time. Essa parte do documentário é um forte argumento para quem alega que a CNN é uma emissora fortemente esquerdista e imparcial.

Por fim, nas Olimpíadas, por uma dessas incríveis coincidências da vida, o time lituano chega à disputa da medalha de bronze contra quem? Sim, contra a ex-União Soviética, que em Barcelona disputou sob o nome “Comunidade de Estados Independentes”, pois o país se desintegrou quando as eliminatórias para as competições já tinham sido realizadas, o que obrigou a maioria dos países satélites e a Rússia a jogarem juntos.

A narração do jogo em que a pequena república oprimida de 3 milhões de pessoas derrota o gigante país opressor socialista de quase 150 milhões de pessoas é emocionante. Essa vitória foi esportiva, moral e cultural, pois desde então a Lituânia passou a adotar a economia de mercado, sendo um dos mercados que mais cresce na Europa, a ponto de ser apelidado de “tigre báltico”.

Esse documentário é uma prova audiovisual de que vale a pena sonhar e buscar a liberdade, tal como fizeram os cidadãos desse aguerrido povo.

*DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL

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