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O que você precisa saber sobre Globalismo e outras conspirações

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É difícil definir o que é exatamente o “globalismo”, já que o termo cabe em inúmeras definições diferentes e, muitas vezes, contraditórias. Basicamente, a teoria do globalismo sustenta que elites políticas e empresariais poderosas e secretas (ou não tão secretas assim), conspiram para, eventualmente, extinguir os estados nacionais e instituir um governo mundial centralizado, que ficaria a cargo de uma burocracia bem treinada e sob as suas ordens.

Muitas figuras influentes são acusadas de fazer parte dessa conspiração, que opera através de organizações (privadas, estatais e paraestatais) criadas e administradas no sentido de orquestrar eventos culturais, políticos e financeiros significativos, que causarão crises frequentes, tanto a nível nacional quanto internacional, como etapas de um plano minucioso para conquistar a dominação mundial.

Não por acaso, desde a queda do Muro de Berlim, o fantasma do globalismo vem ocupando espaço nos corações e mentes de muitos reacionários e anticomunistas, que não vivem sem um inimigo poderoso para chamar de seu.

Como toda conspiração que se preze, a teoria globalista foi construída com base em algumas verdades, várias meias verdades, muitas omissões e farta imaginação. Embora esteja atualmente em voga, ela não é nada nova. Em seu livro de 1928, The Open Conspiracy, o escritor britânico HG Wells plantou a semente da teoria ao elaborar planos mirabolantes para uma revolução mundial que estabeleceria um estado tecnocrático mundial, além de uma economia centralizada e planejada. É sugestivo que o próprio Wells tenha advertido, em outro livro, The New World Order, que a implantação do governo mundial sofreria reações extremas:

“Quando a luta parecer estar a caminho de uma democracia social mundial, ainda poderá haver grandes atrasos e decepções, antes de se estabelecer um sistema mundial eficiente e benéfico. Inúmeras indivíduos  (…) odiarão a “nova ordem mundial” e morrerão protestando contra isso.” Bingo!

Os teóricos da conspiração acreditam que o globalismo vem sendo urdido, de forma gradual, há praticamente um século. Entre as evidências, estão a formação da Liga das Nações, em 1919; do Fundo Monetário Internacional, em 1944; das Nações Unidas, em 1945; do Banco Mundial, em 1945;  da  Organização Mundial de Saúde em 1948; da União Europeia e do Euro, mais recentemente. (Não por acaso, episódios como o Brexit são vistos pelos conspiracionistas de plantão como vitórias sobre os globalistas).

Uma conspiração muito popular entre os neocons americanos é que a hipotética União da América do Norte, proposta pelo  Conselho de Relações Exteriores dos EUA e suas contrapartes no México e no Canadá, será o próximo marco na implementação do Globalismo. A teoria sustenta que estão planejando substituir o governo dos Estados Unidos por um governo transnacional. Eles acreditam ainda que as fronteiras entre o México, o Canadá e os Estados Unidos estariam sendo paulatinamente removidas. (Pensou no muro do Trump? Pois é).

Como toda boa teoria da conspiração, o globalismo também conta com um grande vilão – um comandante em chefe – para chamar de seu: o nome dele é George Soros. Se há uma narrativa infalível, é a ideia de que Soros está por trás de qualquer movimento, protesto organizado ou dissidência em geral contra o capitalismo, os valores judaico-cristãos e a civilização ocidental.

Mas quem é George Soros? Trata-se do presidente da Soros Fund Management, um dos 30 empresários mais ricos do mundo. Além de ser um investidor voraz do mercado financeiro e de capitais, Soros é ideologicamente de esquerda, como, ademais, inúmeros outros ricaços acometidos de grandes complexos de culpa por suas fortunas. Por conta desse esquerdismo militante, Soros faz doações e financia muitas organizações sem fins lucrativos de esquerda, e tem apoiado muitos candidatos do Partido Democrata, como Hillary Clinton e Barack Obama.

Em 1984, Soros criou a Open Society Foundations que atua como uma rede de concessão de subsídios a organizações sem fins lucrativos que prestam serviços sociais, ambientais e de mídia. Nada muito diferente do que fazem, do outro lado do espectro ideológico, os Irmãos Kock, por exemplo.

Como em toda teoria da conspiração, qualquer fato isolado é capaz de confirmá-la, mas nenhuma realidade a desmente. Como eu disse outro dia a um amigo, parafraseando Popper, qualquer cisne branco confirma a tese de do globalismo, mas a visão de um cisne negro é apenas e tão somente a exceção que confirma a teoria.   

Assim, a eclosão de teorias globais como identidade de gênero ou movimentos ambientalistas e teorias como a das mudanças climáticas são logo tomadas como criações do movimento globalista. Por outro lado, eles parecem fechar os olhos para o gritante aumento o nacionalismo no mundo – o contraponto natural do governo global. Desconsideram vários exemplos recentes de fragmentação dos Estados, como em vários países da antiga Cortina de Ferro, na Catalunha e em muitos outros lugares. Ao mesmo tempo fingem não ver a eclosão de inúmeros governos populistas, como na Rússia de Putin, cuja retórica está toda calcada no nacionalismo exacerbado, chegando às raias da xenofobia.

Fora isso, as organizações multilaterais como FMI, Banco Mundial e OMC estão cada vez mais fracas e sem poder. Todas as recentes tentativas de acordos globais foram fracassos categóricos. A Rodada de Doha da OMC está enterrada, Kyoto foi outro fracasso histórico em que os interesses nacionais sobrepujaram os internacionais. Além disso, organizações como G7 e G20 revelam muito mais antagonismos do que unidade em suas decisões e propostas. Enquanto isso, têm prevalecido os acordos bilaterais de comércio e de fronteiras.

Teorias da Conspiração semelhantes sempre tiveram algum apelo popular, desde priscas eras, mas nunca se revelaram mais do que são: fantasias.  Exemplos abundam.  Illuminati, Quarto Reich, Sociedades Secretas, Sábios de Sião, Maçonaria são apenas alguns dos mais famosos. Nada contra quem gosta de perder tempo com tais especulações. O problema é que liberais e conservadores têm tempo e espaço escassos, como tudo na vida. E, enquanto nós perdemos tempo e neurônios com esses assuntos, no mínimo desimportantes para a realidade tupiniquim, deixamos de passar mensagens importantes ao cidadão comum.

Nesta semana mesmo, a Folha de São Paulo publicou pesquisa mostrando que 70% dos brasileiros ainda se dizem contra as privatizações, mesmo depois de tantos escândalos de corrupção e ineficiência. Parece claro que está faltando muita informação, a começar pelo termo “privatização”. Será que estes 70% sabem exatamente de que se trata? Ora, meus caros, vamos parar de perder tempo e energia com conspirações distantes e focar no nosso dia-a-dia. Há muito que explicar aos nossos desinformados compatriotas, se quisermos melhorar este país.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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