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O que você precisa saber sobre a pobreza na África, segundo a economista Dambisa Moyo

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Dambisa Moyo é uma economista natural da Zâmbia, país do continente africano. Seu currículo impressiona: tem PhD em economia pela University of Oxford, foi incluída na lista das 100 Pessoas Mais Influentes do Mundo da TIME. Já teve artigos publicados no Financial Times, WSJ, Barrons e Harvard Business Review. Também escreveu três livros best sellers pelo New York Times: Dead Aid: Why Aid Is Not Working and How There Is a Better Way for Africa (2009), How The West Was Lost: Fifty Years of Economic Folly – and the – Stark Choices Ahead (2011), e Winner Take All: China’s Race for Resources and What It Means for the World, de 2012. E é sobre esse primeiro livro que quero discorrer neste texto.

O principal argumento da obra de Moyo é que a ajuda destinada à África, ao invés de promover o crescimento econômico, condenou o continente à pobreza e à contínua dependência da ajuda internacional para sua sobrevivência. Moyo aponta que, embora bilhões de dólares sejam recebidos anualmente pela África, suas nações continuam atoladas na miséria. O crescimento econômico é extremamente lento e as nações africanas estão se tornando cada vez mais endividadas, com suas economias arruinadas pela inflação. Isso aumenta a instabilidade governamental, a agitação civil e, é claro, paralisa o desenvolvimento social.

A economista destaca que a ajuda é um desastre completo em termos políticos, econômicos e humanitários e suas afirmações são apoiadas com dados: “Nos últimos 60 anos, bilhões de dólares em ajuda ao desenvolvimento foram transferidos dos países ricos para a África. No entanto, a renda per capita hoje é menor do que era na década de 1970, e mais de 50% da população (350 milhões de pessoas) vive com menos de um dólar por dia, um número que quase dobrou em duas décadas.”

Outro ponto que merece destaque é em relação à vitimização que os países ocidentais têm com a África: “A China tem uma população de 1,3 bilhão de pessoas e apenas 300 milhões vivem como nós (com alto padrão de qualidade de vida). Há 1 bilhão de chineses vivendo abaixo desse padrão. Você conhece alguém que está preocupado com a China? Ninguém”.

O pano de fundo por trás de tudo isso é que o dinheiro da ajuda na África é usado para alívio da fome, emergências médicas, abastecimento de água potável e outras necessidades básicas, o que é extremamente importante, mas eles atacam apenas os sintomas e não a causa. Se não houver alocação de capital em produção, as pessoas continuarão a sobreviver mal com ajuda externa, e nunca serão capazes de superar a pobreza. Em outras palavras, além de dar o peixe, é preciso ensinar a pescar e comprar uma rede de pesca. Outro problema, de acordo com Moyo, é que parte desse dinheiro às vezes serve para perpetuar e sustentar regimes totalitários no poder, pois para levar os recursos à população é preciso passar por eles, e grande parte dos recursos se perde devido à corrupção.

Conforme já escrevi aqui no passado, algumas vezes a ajuda humanitária pode até atrapalhar. Para o economista queniano James Shikwati, o envio de toneladas e toneladas de alimentos atrapalha os produtores locais. “Eles param de produzir o pouco que têm, porque são incapazes de competir com os alimentos distribuídos gratuitamente à população. Assim, criam-se novas famílias de pessoas pobres, que passam a depender da ajuda internacional. É uma espiral sem fim”. Outro exemplo citado pelo economista é a indústria têxtil: “Em 1997, havia 137000 empregados na indústria têxtil da Nigéria. Em 2003, eram apenas 57000. Porque os países ricos nos inundam com roupas doadas, que vão abastecer os mercados de rua nas cidades africanas.”

Quando comparamos a situação do restante do mundo com a África, temos noção do quanto a ajuda internacional não tem ajudado a região. Em 1990, havia 280 milhões de pessoas vivendo em extrema pobreza na África; hoje esse número ultrapassa 430 milhões. Para critério de comparação, de acordo com o Banco Mundial, havia 1,9 bilhão de pessoas em extrema pobreza em todo o mundo em 1990, e hoje esse número diminuiu para 736 milhões. Em outras palavras, enquanto mais de 1,1 bilhão de pessoas em todo o mundo emergiram da pobreza extrema nos últimos 30 anos, a tendência oposta ocorreu na África, onde o número aumentou em pelo menos 150 milhões de pessoas.

Nos últimos anos, iniciativas foram tomadas na África para dinamizar a economia, sendo o turismo uma delas. De fato, nas últimas duas décadas, essa indústria teve um crescimento anual de 9%, o que é positivo, mas é preciso muito mais. Um continente como a África precisa de uma diversificação de sua economia, precisa de sistemas políticos mais transparentes e menos autoritários e, ao mesmo tempo, exige um treinamento constante dos membros de suas sociedades para inaugurar projetos econômicos sustentáveis.

A verdade é que nenhuma nação pode progredir ou fazer crescer sua economia com subsídios eternos, sem empreendedorismo e sem empresas privadas. Nem toda ajuda é boa, existe ajuda que mata, como mostra Dambisa Moyo. Sem estruturas econômicas, sem educação e treinamento, sem emprego, as esmolas serão, na melhor das hipóteses, algo meramente paliativo. E eu não tenho dúvidas de que o povo africano é capaz de muito mais.

*Artigo publicado originalmente por Conrado Abreu na página Liberalismo Brazuca no Facebook.

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