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O povo chileno e o erro milenar

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BERNARDO SANTORO*

Chile-Flag“Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e disseram-lhe: eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações.” (I SAMUEL 8:4-5)

Embora eu seja cristão, não costumo citar muito a Bíblia nesse espaço, pois este é um blog laico. Vou abrir uma exceção hoje porque além de um documento religioso, a Bíblia é um documento histórico (ainda que parcial por questões de fé).

O que está ocorrendo no Chile nesse momento me lembra muito o que aconteceu com Israel na época do fim da vida do Sacerdote Samuel. Na história do povo judeu, antes da instituição do reinado de Saul, o governo era composto de juízes que julgavam com base na lei mosaica e nos costumes locais. Esse método de administração lembra muito, até hoje, os países da commonwealth e, em regra, traz uma maior liberdade para a população administrada, pois há uma redução legislativa que normalmente cria privilégios e favorecimentos pessoais através de lobbies e grupos de interesse organizados.

Contudo, o povo judeu lamentava o fato de não ter um rei, quando todos os povos vizinhos tinham. Os judeus, mesmo em uma terra pouco fértil e pouco extensa em relação aos seus vizinhos, possuíam o melhor padrão de vida da região, mas achavam que não era a falta de rei que criava essa prosperidade, mas sim que essa prosperidade existia apesar da falta de um rei.

Dizia-se que o Sacerdote Samuel falava com Deus. Não importando se Samuel falava com Deus ou consigo mesmo, vejam o que o interlocutor abstrato de Samuel disse a ele:

E falou Samuel todas as palavras do Senhor ao povo, que lhe pedia um rei. E disse: Este será o costume do rei que houver de reinar sobre vós; ele tomará os vossos filhos, e os empregará nos seus carros, e como seus cavaleiros, para que corram adiante dos seus carros. E os porá por chefes de mil, e de cinqüenta; e para que lavrem a sua lavoura, e façam a sua sega, e fabriquem as suas armas de guerra e os petrechos de seus carros. E tomará as vossas filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras. E tomará o melhor das vossas terras, e das vossas vinhas, e dos vossos olivais, e os dará aos seus servos. E as vossas sementes, e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus oficiais, e aos seus servos. Também os vossos servos, e as vossas servas, e os vossos melhores moços, e os vossos jumentos tomará, e os empregará no seu trabalho. Dizimará o vosso rebanho, e vós lhe servireis de servos. Então naquele dia clamareis por causa do vosso rei, que vós houverdes escolhido; mas o Senhor não vos ouvirá naquele dia.” (I Samuel 8:10-18)

A voz (Deus ou não) que falou com Samuel acertou em cheio tudo o que aconteceu a seguir com o povo judeu quando eles substituíram um modelo de maior liberdade por um modelo de intervenção e gestão centralizada.

Agora vamos ver o que está acontecendo no Chile. O Chile, assim como a antiga Israel, é um país de pequena extensão territorial e com parcos recursos naturais (salvo o cobre). Seu modelo de governo é um oásis de moralidade e eficiência no deserto político que é a América Latina. Possui os melhores índices sócio-econômicos mesmo com todas as desvantagens naturais. E isso tudo porque, em dado momento, mesmo com falta de liberdade política, implementou uma agressiva política de liberdade econômica.

Foram realizadas eleições no país no último domingo, e o que estamos vendo é uma guinada rumo a uma postura estatista radical, não só com a eleição da socialista Bachelet, que tenta ser presidente pela segunda vez, mas também pelos seus associados.

No primeiro mandato de Bachelet, seu discurso e prática foi de uma social-democracia moderada, sempre em parceria com o partido democrata-cristão, não fazendo reformas profundas que abalassem a cultura política do país. Nessa eleição, o principal parceiro do Partido Socialista não é o Democrata-Cristão, mas o Comunista, que tem em suas fileiras vários deputados recém-eleitos oriundos do movimento estudantil alinhados com uma política interventora e estatista aos termos de seu ídolo Salvador Allende.

Caso a eleição de Bachelet, nesses moldes, se confirme, o povo chileno terá sua estabilidade econômica e política seriamente ameaçada. Na agenda desse movimento está a criação de uma rede pública de educação e saúde totalmente estatal, intervenção e regulação econômica e protecionismo. Tudo o que os vizinhos latino-americanos sempre fizeram e que sempre levou a maus resultados. Isso ocorre em um momento em que o Chile lidera os indicadores latino-americanos de educação e saúde, dentro de um modelo privado.

Essas políticas serão para o Chile o que a instituição de um rei foi para Israel: um desastre político, social e econômico. E podemos afirmar isso porque esse foi o resultado dessas políticas em todos os países latino-americanos. Já é uma realidade empiricamente constatada.

Nem é preciso ser Deus para antever isso. Basta ser observador.

*DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL

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