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O pior de dois mundos

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JOÃO LUIZ MAUAD*

Como de hábito, levei mais de uma hora para percorrer os 25 quilômetros que separam a minha casa, na Barra da Tijuca, ao escritório, no Centro do Rio.  A velocidade média, como se pode constatar, ficou abaixo dos 20 km/h.  Como não há metrô, trem ou barcas ligando a Barra ao Centro, minha única alternativa seriam os ônibus, que gastam, no barato, mais de uma hora e meia para fazer o mesmo percurso.

Há apenas dois anos, em condições normais de temperatura e pressão, eu costumava levar, no máximo, 40 minutos no trajeto de casa para o trabalho.  De lá para cá, o número de automóveis nas ruas do Rio de Janeiro cresceu exponencialmente, enquanto a infraestrutura viária tem se deteriorado a olhos vistos.

Um dos princípios basilares da ciência econômica nos diz que “incentivos importam”.  Tal princípio é facilmente demonstrável através das curvas de demanda.  Sempre que algum produto fica mais caro, seu consumo diminui e vice-versa.  Pois bem: sucessivos governos federais – no afã de manter o consumo em alta e incentivar o crescimento econômico a qualquer preço – têm incentivado a aquisição de carros, seja através da isenção de IPI, seja concedendo crédito farto nos bancos públicos, seja mantendo o preço dos combustíveis artificialmente baixos.  Como era de se esperar, a “nova classe média brasileira” foi às compras com voracidade, enchendo as ruas das grandes e médias cidades de carros e motocicletas.

Até aqui, nada demais, além, é claro, do sufoco em que se encontra a Petrobras, obrigada a bancar os preços baixos dos combustíveis.  O problema é que os demais entes da federação, especialmente os governos dos maiores municípios brasileiros (falo especificamente de Rio de São Paulo), não entraram na dança do governo federal e resolveram infernizar a vida dos proprietários de veículos, recusando-se a incrementar a infraestrutura viária das cidades.

Picados pela mosca da “mobilidade urbana”, os prefeitos das maiores cidades do país resolveram tirar o pouco espaço dos carros e entregá-lo aos ônibus e às bicicletas, principalmente através das famigeradas pistas seletivas.  Além disso, ao invés de construir pontes e viadutos, como fazem os americanos, insistem em derrubar os poucos existentes, como fez recentemente o prefeito Eduardo Paes, no Rio de Janeiro, na tentativa de transformar a megalópole carioca na nova Amsterdã dos trópicos.  Tudo isso, sem que a cidade maravilhosa disponha de transportes públicos alternativos minimamente decentes. O lema desses prefeitos é o mesmo de um ex-prefeito de Bogotá, para quem democracia significa “um ônibus que passa em boa velocidade enquanto um carro está parado no engarrafamento.” O resultado, como não poderia deixar de ser, é o caos.

Amsterdã é uma cidade pequena, linda, tranqüila e altamente civilizada.  Seus metrôs, pequenos trens de superfície, ciclovias, canais navegáveis e ônibus funcionam perfeitamente, tornando os automóveis, em muitos casos, itens supérfluos.  Em menor grau, o mesmo pode ser dito de Paris ou Londres.  Entretanto, o Rio de Janeiro apresenta muito mais similaridades com cidades americanas, como Miami, do que com aquelas aprazíveis cidades européias.  Sem dizer que, na Europa, não existem incentivos governamentais para a aquisição de veículos.  Lá, ao contrário do que ocorre aqui ou nos EUA, não só os carros são muito caros, mas também o combustível é caríssimo.

Então, aqui no Rio de Janeiro, ao invés de se investir em obras viárias para adaptar a cidade ao volume cada vez maior de veículos, como ocorre em Miami, por exemplo, o prefeito decidiu que o carro é o grande vilão, e ai de quem insistir.  Ficamos então com o pior de dois mundos: muitos carros nas ruas, nenhum investimento viário e transportes coletivos absolutamente horrorosos.  E salve-se quem puder…

*ADMINISTRADOR DE EMPRESAS E DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

Um comentário em “O pior de dois mundos

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    04/12/2013 em 2:56 pm
    Permalink

    É a negação da lógica pelos ambientalistas. O carro foi umas das invenções mais incriveís da humanidade, e é constantemente aprimorada. O carro propõe conforto, autonomia ao seu proprietário, segurança e é o melhor meio para concretizar o direito de ir e vir (eu pego o meu carro a hora que quiser para ir ao lugar que quiser). No primeiro mundo já há carros que não precisam de gasolina e são bem acessiveis (Toyota Prios) enquanto que por aqui, graças ao custo Brasil, seu preço o transforma em artigo de luxo. Pois bem, o carro é uma ótima opção para se locomover. E as quais as alternativas? Metrô, que seja rápido, confortável e com grande abragência dentro de uma metrópole não existe no Brasil. Os ônibus são igualmente ruins, desconfortáveis, demorados, e nunca sabemos a hora exata que passa no nosso ponto, sem contar a grande possibilidade de sofrer um assalto. Por ultimo, ir trabalhar de biscicleta em uma região tropical, com a temperatura normalmente batendo os 30C é inviável. É muito mais fácil para um trabalhador europeu, aonde as temperaturas não ultrapassam os 25c no auge do verão ir trabalhar com a magrela do que um trabalhador brasileiro. Há ainda, nas cidades banhadas, a possibilidade de utilizar as balsas, porém, quando existem, seu alcance é minimo. Seria um meio muito rápido e eficiênte. Assim, como se vê, o carro ainda é a melhor alternativa para quem necessita se locomover em uma grande cidade brasileira. Mas os seus prefeitos, cegados pela onda da sustentabilidade, complicam cada vez mais a vida de quem tem um, sem oferecer nenhuma alternativa mais eficiente. O caos no Brasil é ordem.

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