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O “Manifesto Autofágico” dos “lacradores” brasileiros

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Celebrizou-se o Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade, na década de 20. Esse documento literário iniciava o movimento antropofágico, propondo a deglutição da cultura estrangeira e da cultura nativa como um método de “resistência” (ao imperialismo, às potências e toda aquela bobajada de sempre).

Deixarei o velho Oswald em paz e voltarei meus dardos à mais recente invenção de uma geração muito mais degradante: o “Manifesto Autofágico” dos “lacradores” brasileiros. O pessoal da “lacração”, do “sou a favor da universidade, defendo os índios, protejo o ursinho panda, apoio todas as formas de amor, somos todxs qualquer coisa, Ele Não”, enfim, toda essa praga tediosa politicamente correta e pretensamente progressista dos entusiastas das políticas identitárias, resolveu declarar uma guerra contra fantasias de Carnaval – e o feitiço está virando contra o feiticeiro.

Literalmente, eles estão se devorando entre si. Ah, como é delicioso! É encantador ver notórios esquerdistas acostumados a paparicar essa agenda política retardada do “identitarismo” se indignando com a histeria que se criou contra as fantasias de índios usadas pela atriz Alessandra Negrini e pelo tradicional bloco carnavalesco Cacique de Ramos, no Rio de Janeiro.

Vestir-se de índio é “apropriação”, é o “branco” exercendo simbolicamente uma dominação étnica e cultural sobre os indígenas, porque índio não é fantasia, eles dizem. A mesma insanidade já foi suscitada contra as famosas “piranhas”, os homens que se vestem de mulher na folia. É preciso manifestar a sua “consciência social” até – e talvez principalmente, nestes tempos loucos – na hora de pular Carnaval!

É claro que esses ataques são dignos de débeis mentais e só um imbecil não percebe que praticamente qualquer fantasia, desde bombeiro até marinheiro, poderia ser vista como uma ofensa às categorias ou grupos ali representados, a julgar por essa lógica bizarra. Fantasiar-se é simplesmente fingir ser algo que não se é. É adquirir temporariamente uma persona, para fins teatrais ou lúdicos. Ademais, somos todos um pouco índios e negros, como somos todos um pouco europeus; essas são as matrizes de nosso povo – não o indígena, o português, o italiano, o banto ou o nagô, mas o brasileiro, resultante do mais amplo sincretismo de todas essas fontes. É natural que as evoquemos em nossas manifestações culturais.

No entanto, muitos foliões e militantes do Carnaval que tenho visto vociferarem contra essa insanidade só o fizeram porque agora o negócio chegou até eles. Quem o afirma é um folião autodeclarado, que não vê o ato de brincar na festa momesca como um manifesto político. Tenho conhecimento de causa para dizer o que digo. Alimentaram por uma eternidade essa subcultura lacradora de quinta categoria que nunca fez o menor sentido para, quando o problema os afeta, abdicarem da coerência e subitamente dizerem que os críticos perderam a razão. Agora aguentem! Deem o exemplo da virtude que tanto ostentam! Quando os “agentes do imperialismo” são vocês mesmos, isso dói, não é?

Para tornar tudo ainda mais patético, uma associação de defesa dos indígenas se manifestou para dizer que Alessandra Negrini não deveria ser perseguida por se ter vestido de índia porque ela é uma “aliada” e fez isso em pleno bloquinho porque queria fazer um “protesto” em prol da causa. Trocando em miúdos: o problema não é a fantasia em si, mas quem a usa e que desculpa emprega para justificá-la.

A verdade é que essa doença distópica foi tão longe que agora seus criadores estão perdendo o controle do seu monstro de estimação. Talvez não haja mesmo nada mais eficaz para lhes dar uma lição que serem mordidos pelas feras que fabricaram.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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