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O Facebook e a suposta “rede para manipular o debate público”

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O tema da exclusão de 196 páginas e 87 contas no Facebook já foi tratado aqui, sob o ponto de vista da celebração das extremas esquerdas pelo fato de os alvos serem, em geral, liberais e conservadores, e da postura lamentável do presidenciável Geraldo Alckmin a respeito. De lá para cá, surgiram fatos novos que motivam um retorno ao assunto, dos mais importantes do momento para a sobrevivência da discussão política nos moldes contemporâneos.

Um dos novos desdobramentos é que páginas como a Infowars, nos Estados Unidos, e também contas à direita em outras redes sociais foram estranhamente eliminadas ao mesmo tempo. O que mais interessa aqui, porém, é que o Facebook respondeu à demanda do Ministério Público goiano e entregou uma relação das 196 páginas excluídas.

No documento, em vez de justificativas individuais, com as discriminações caso a caso das infrações cometidas por cada conta ou página individualmente, como seria o desejável, o Facebook meramente diz que, “depois de uma rigorosa investigação”, concluiu que todas “participaram de ou estavam associadas a contas que criaram, gerenciaram ou perpetuaram: contas falsas, contas com nomes falsos, contas que participam, ou alegam participar, de comportamentos não autênticos coordenados, ou seja, em que múltiplas contas trabalham em conjunto” para “enganar as pessoas”, entre outras coisas, “na tentativa de incentivar compartilhamentos, curtidas ou cliques”.

Em suma, o grande “pecado genérico” cometido é associar páginas para facilitar a disseminação de conteúdos. Por que a integração de páginas para disseminar causas ou agendas seria uma “manipulação do debate público”? Associar-se, organizar-se livremente, para reverberar uma forma de pensamento deixou de ser uma atividade legítima, liberal e democraticamente respeitável desde quando? O que é que justifica ver nisso algum tipo de ludibrio ou mistificação?

O que ressalta desse documento é que não apenas a liberdade de expressão de pontos de vista que contrariem as certezas de uma certa “elite iluminada’ – traduzindo, pontos de vista liberais e conservadores – incomoda o Facebook, mas também a liberdade de associação. A empresa de Zuckerberg demonstra profunda alergia a esses dois princípios tão nobres e fundamentais.

Para incrementar essa conversa, a coisa toda ganha ainda mais ares de ridículo se passarmos os olhos pela lista das “vítimas”. Deixando de lado aquelas que fazem alusão óbvia ao pré-candidato do PSL ou ao Movimento Brasil Livre, permitimo-nos destacar os nomes de algumas das páginas excluídas pelo Facebook que estariam tomando parte nessa “rede coordenada de contas falsas” – do que se deduz que fariam parte da maligna trama do MBL, de Bolsonaro, Donald Trump ou de Satanás (que, óbvio, é de direita) para seduzir os incautos usuários da rede social.

Encabeça a lista uma página chamada “1987 – A História Definitiva”. Pesquisando, acredite se quiser, o leitor descobrirá que esse é o nome de um livro do jornalista Pablo Duarte Cardoso sobre a polêmica entre Flamengo e Sport a respeito do Campeonato Brasileiro daquele ano (!!). Até onde se sabe, Bolsonaro não é flamenguista, nem Kim Kataguiri, muito menos Trump. O que diabos isso teria a ver?

“Astecclean – Instalação e Manutenção de Aquecedores”, “Gustavo Car Estética automotiva”, “Chapéu de Palha Barbearia e Tatoo” (!!!), “AsVagas Empregos”, “Canal de Empregos” e outras similares também estão na lista. Será que o problema do Facebook é com a geração de empregos? Talvez porque as políticas econômicas da esquerda sejam rainhas em destruir riquezas e ampliar nosso número colossal de desempregados. “Dance como se ninguém tivesse te olhando dançar” é outra página que está seduzindo e corrompendo o debate público; será que essa gente não tem alegria de viver nem para desfrutar uma aprazível dança?

Há, é claro, dezenas de páginas de humor na lista. Isso parece indicar que os responsáveis pela “rigorosa investigação” não gostam muito de rir ou se divertir. Claro, depende do humor: a “Dilma Bolada” continua lá, mas a “Michel Presidento” foi excluída!

Mesmo assim, difícil superar a cereja do bolo: a terrível página reacionária e manipuladora “Top Animes Forever”  (!!!!). Top Animes Forever! Vêm imediatamente à lembrança aquela lendária oportunidade em que o apresentador Gilberto Barros fez um escândalo dizendo que as cartas de Yu-Gi-Oh eram coisa do capeta. Seriam os desenhos animados japoneses instrumentos do “maligno sistema neoliberal-emebeele-trumpístico-bolsonarístico” e só Zuckerberg poderá nos defender?

Seria tudo muito engraçado… Quer dizer, é tudo muito engraçado, e também ridículo, apesar de trágico.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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