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O agronegócio e o futuro do país

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BERNARDO SANTORO*

Talvez esse venha a ser um artigo polêmico, mas dada a grande notícia que o agronegócio responderá por mais da metade do crescimento do PIB deste ano, não podemos deixar de nos perguntar se o agronegócio é o caminho para o desenvolvimento do Brasil. Eu entendo que sim.

A polêmica pode estar no fato de que nos é ensinado, desde a infância, que uma das causas do subdesenvolvimento do Brasil é que focamos nossa economia na atividade primária, que é a exploração de recursos da natureza como agricultura e mineração, ao passo que as atividades secundárias (indústria) e terciárias (serviço), por ter maior trabalho agregado, seriam atividade mais ricas.

Vou ousar discordar dessa visão tradicional.

A primeira falácia do pensamento tradicional é afirmar que bens das atividades secundárias e terciárias são, a priori, mais valiosos que os da primária. Isso seria corroborar a falida teoria do valor-trabalho onde o valor de um bem corresponde ao trabalho nele aplicado. Isso é absurdo.

Um escultor, por exemplo, pode trabalhar todo dia, durante 25 anos, numa estátua horrível e ninguém querer comprar. Ela pode vir até a ter um desvalor. Por outro lado, uma pessoa pode, na África, tropeçar em um diamante gigante e, praticamente sem esforço, adquirir um bem valiosíssimo.

Como explica Anthony Mueller, “o valor de um bem depende da avaliação humana, [de onde] deduz-se que esse valor é marginal, individual, subjetivo e circunstancial”. Quem dá um valor a algo é o ser humano a partir de padrões como a utilidade e a escassez de um bem.

Portanto, se um bem da atividade primária for mais útil e escasso que um bem da atividade secundária ou terciária, ele será mais valioso. No deserto do Saara, uma garrafa de água mineral vale mais que uma televisão.

Superada a primeira falácia, vamos para a segunda, a de que a atividade primária possui pouco valor agregado. Ainda que considerássemos a tosca teoria do valor-trabalho real, a empresa capitalista do agronegócio possui muito valor agregado. É preciso tecnologia de ponta nas sementes, na terra, nos instrumentos de colheita, entre outros campos do negócio para que a fazenda possa produzir com alta eficiência e produtividade.

A terceira e última falácia é a que o Brasil foca sua economia no setor primário. Não é verdade. O setor vai gerar, com safra recorde, um terço do PIB em 2013, mas deveria sim focar nela. Explico.

A Argentina, no começo do século XX, já em plena revolução industrial, era uma das economias mais ricas do mundo, focada basicamente no agronegócio, e deixou de ser potência econômica em virtude de desastrosas políticas governamentais.

Isso mostra que o agronegócio pode sim ser o meio de enriquecimento de um país. E isso por causa de uma pequena lição econômica chamada lei das vantagens comparativas.

A especialização sempre gerou um grande aumento de riqueza econômica. Uma pessoa especializada produz, em regra, muito mais que pessoas que precisam fazer tudo ao mesmo tempo. Por isso temos profissões como médicos, engenheiros, professores e agricultores. Imagina só se juízes tivessem que plantar sua própria comida? Passariam mais tempo na lavoura que julgando processos.

O mercado de alimentos é um dos mercados mais seguros do mundo, por um motivo muito simples: as pessoas podem dispor de um tablet, mas não podem dispor de comer, senão morrem. É até verdade que o valor dos bens primários podem variar bastante, mas também variam todos os demais tipos de bens, estando a chave do sucesso na variação de produtos agrícolas a serem plantados.

A especialização do Brasil no setor do agronegócio, onde temos uma vantagem comparativa e absoluta em relação aos outros países, pode nos dar o luxo de gerar imensa riqueza e, em troca, compraríamos produtos do setor secundário e terciário de países estrangeiros a preços módicos, pois alguns desses países possuem vantagens comparativas em outras áreas que os levam a produzir em abundância bens a preços módicos, como é o caso da China industrial.

O que nos impede de alcançar tal prosperidade?

O maior obstáculo é nossa infra-estrutura. Por mais que possamos produzir, nossa capacidade de escoamento da produção é ínfimo. Estradas, ferrovias, hidrovias e portos brasileiros são precários. Não por coincidência, o responsável pela infra-estrutura no Brasil é o setor público.

O segundo grande obstáculo é a legislação. Na parte ambiental, reduz a produtividade do campo com demandas impossíveis de serem atingidas. Na parte indígena, cria imensos latifúndios de terras para poucos índios, que nem ao menos podem usufruir dessa área, pois a FUNAI os impede de se organizarem de maneira empresarial sob o argumento da “preservação da cultura”. (pobreza é cultura?)

O terceiro grande obstáculo é a indústria da reforma agrária, onde o governo financia grupos terroristas que atacam fazendas produtivas enquanto não concede terras para quem quer trabalhar por causa de questões ambientais. Tudo por conta de arranjos eleitorais.

O quarto e último obstáculo é o protecionismo. Mesmo com toda a riqueza gerada pelo agronegócio, na hora da contrapartida, que é comprar produtos secundários e terciários a preços módicos, não conseguimos em virtude do excesso de impostos, de burocracia, e até mesmo cotas de importação, tudo para que inescrupulosos empresários amigos do governo possam ter seu mercado consumidor assegurado (sempre deixando uma comissão pro político de plantão). Com isso, os produtos encarecem e a qualidade de vida de todos caem, principalmente dos pobres.

Por fim, com a poupança gerada pelo setor do agronegócio, podemos descobrir subsetores secundários e terciários onde possuímos vantagem comparativa, de forma a produzirmos nós mesmos, através do método de tentativa e erro do mercado, melhores produtos industrializados e serviços que outras praças não puderem oferecer de maneira mais eficiente.

Essa é uma não tão breve receita liberal de prosperidade para o Brasil, mas acho que ainda vamos patinar por muito tempo no estatismo contraproducente que nos rege.

*DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL

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