Nosso maior inimigo somos nós mesmos
MARIO GUERREIRO *
De acordo com o Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupava o 48.o lugar no ranking dos países mais competitivos, mas despencou para o 56.o no governo Dilma.
De acordo com a última pesquisa conhecida por mim, o Brasil participava em 1% do comércio internacional. Não creio que esta porcentagem tenha aumentado significativamente.
Por outro lado, sabemos que o Brasil detém o 6.o ou o 7.o PIB do mundo! Que discrepância nestes dados econômicos, coisa além da minha capacidade de compreensão.
A capacidade de competição de nosso país se revela muito precária também em áreas como conhecimento e educação.
Basta dizer que, de acordo com o Times Higher Education, nossa melhor universidade, a USP, está colocada abaixo da 200ªposição no ranking internacional!
Parece que o Brasil só é mesmo capaz de competir em determinadas modalidades esportivas, como o futebol e o voleibol.
Isto para não falar na competição em criminalidade, que já ultrapassou a assombrosa taxa de 50.000 homicídios por ano.
Como não sou economista, eu não teria suficiente competência para explicar a grande incompetência econômica que assola este país.
Mas faço minhas suposições: tenho razões para acreditar que uma boa explicação econômica envolverá, necessariamente, alguns fatores básicos.
Em primeiro lugar, esse agregado de custos que já foi chamado Custo Brasil, incluindo carga tributária, custo das transações, burocracia pesada e ineficiente, infraestrutura precária das nossas estradas, nossos portos, aeroportos, etc.
Como sabemos, até uns 15 anos atrás, nosso maior parceiro comercial eram os EEUU. Lembro-me que, naquela época, as esquerdas ignaras viviam vociferando que o Brasil exportava para os EEUU commodities e importava dos EEUU produtos industrializados.
Por isso mesmo, era um país “periférico” dependendo do “capitalismo central” – famosa tese dos cepalinos da CEPAL, entre eles o jovem FHC.
Hoje, nosso maior parceiro comercial é a China. Exportamos para este país do Extremo Oriente commdodities e importamos do mesmo produtos industrializados.
Mas isso é encarado sem maiores preocupações pela esquerda no Poder e fora dele, porém dando todo seu apoio a ele.
Para eles, o problema não estava na natureza do comércio internacional, mas sim na figura de um de seus agentes: o “maldito imperialista yankee”.
Todo mundo está ciente da quantidade de produtos chineses que invadiu o Brasil. Eles inundaram as prateleiras das lojas e as bancas dos camelôs, aparecem tanto nas vendas da economia formal como nas da informal.
Na quarta-feira, 23/10/2013, assisti, pelo Jornal da Globo, a uma marcha da indústria e do comércio de têxteis em São Paulo em que seus participantes bradavam contra tecidos e roupas chineses.
Pediam medidas protecionistas do governo, como se isto fosse a verdadeira solução para as fortes quedas nas vendas dos produtos similares nacionais.
A reportagem mostrou uma jovem comprando uma blusa. Ela examinava duas blusas do mesmo tipo sem se decidir sobre a que compraria. Aí, então, a vendedora da loja disse que uma delas era nacional e a outra chinesa.
Quando a jovem perguntou pelos preços, a vendedora respondeu: “A nacional é 75 reais e a chinesa, 45 reais”. Se a diferença de qualidade não era grande, a de preço era bem grande!
Ficamos sabendo pela reportagem que, no comércio de produtos têxteis, para quatro peças produzidas no Brasil, uma é importada da China.
Isso só levando em consideração a economia formal cujo índice há muito ultrapassou o da formal.
Nos camelôs, a maioria das peças à venda são chinesas e a maioria delas é de péssima qualidade, porém de ótimo preço para os consumidores.
Sempre digo que consumidor não tem pátria, tem bolso!
Por que essa diferença tão grande de preços? Os produtos chineses é que são extremamente baratos ou os brasileiros é que são extremamente caros? As duas coisas, por diferentes razões.
Os chineses conseguem produzir e vender em larga escala produtos baratos graças à reforma de Deng-Chiao-Ping.
Com sua reforma intitulada “Um país, dois sistemas”, i.e. , um sistema comunista atenuado no interior e um sistema “capitalista selvagem” ao longo do litoral em cidades como Beijing e Xangai.
O antigo sistema de fazendas coletivas não acabou, mas os camponeses têm uma cota de produção destinada ao Estado, podendo comercializar livremente o excedente.
Nas mencionadas cidades e outras, o que há é um capitalismo que deixaria os cabelos de Marx em pé, pois é um retrocesso ao capitalismo manchesteriano dos tempos da Revolução Industrial descritos em O Capital.
Carga horária de trabalho extenuante, sem quaisquer direitos trabalhistas, homens e mulheres trabalhando para ganhar o suficiente para não morrer de fome e continuar trabalhando, sem direito a férias, previdência social, etc.
O Estado cobra impostos muito baixos e os empresários estão isentos das obrigações trabalhistas que, num país como o Brasil, chegam a mais de 100% de cada salário pago aos trabalhadores.
Com tudo isso, não é de causar espanto a razão pela qual os chineses conseguem ter lucro vendendo suas mercadorias por preços tão baixos.
Mas há também a contrapartida relativa à indústria e ao comércio no Brasil. Nossos impostos são altíssimos, o custo do emprego para os empresários é espoliativo.
Os empresários brasileiros têm um sócio que tem ampla participação nos seus lucros, mas não concorre para a obtenção dos mesmos, nem assume os riscos empresariais.
Um membro das indústrias têxteis de São Paulo foi entrevistado pela reportagem da Globo e sintetizou a calamitosa situação: “Os preços começam a crescer quando as mercadorias saem das fábricas”.
Mas não pensemos que eles crescem por causa da “ganância” dos comerciantes, pois estes, pelo que já vimos, não têm condições de competir com os produtos chineses.
Do mesmo modo, os exportadores também são sufocados pela burocracia e pelos impostos. Há muito tempo que eles vêm perdendo em competitividade no comércio internacional.
Se continuar esse estado de coisas, dentro em breve o Brasil ocupará o 60.o lugar no ranking de competitividade e participará em menos de 1% do comércio entre as nações.
É doloroso constatar isso, principalmente numa economia que é o 6.o ou o 7.o PIB do mundo, mas em compensação num país que é o…
- 56.o lugar em educação básica;
- 66.o lugar em educação superior;
- 48.o lugar em competitividade econômica;
- 78.o lugar em qualidade das instituições;
- 99.o lugar em liberdade de imprensa;
- 84.o em IDH (Índice de Desenvolvimento Humano);
- 69.o lugar em países menos corruptos;
- 123.o lugar na qualidade dos portos;
- 107.o lugar em qualidade de infraestrutura;
- 91.o lugar em expectativa de vida;
- 1.o lugar em violência generalizada. Só homicídios são mais de 50.000 ao ano, superando o número de baixas da Guerra do Vietnã.
Diante desse quadro macabro, é para “sentar no meio-fio e chorar rios de lágrimas”, como diria o saudoso Nelson Rodrigues.