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Nepotismo liberado

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RODRIGO CONSTANTINO *

Deu no GLOBO: Rejeitada PEC que proibia senador de escolher parente como suplente

Na contramão da “agenda positiva” para melhorar a imagem do Congresso após as manifestações populares, o Senado derrubou ontem a proposta de emenda à Constituição (PEC) que proibia os senadores de escolher como seus suplentes cônjuges e parentes de sangue de até segundo grau, como pais, filhos, irmãos e primos, inclusive os parentes por adoção. O texto também reduzia o número de suplentes de dois para um.

A discussão se prolongou por cerca de cinco horas, e ao menos cinco dos 16 suplentes subiram à tribuna para protestar contra a mudança. Eram necessários 49 votos para aprovar a emenda constitucional, mas somente 46 senadores votaram a favor da medida. Entre os 64 senadores presentes, 17 votaram contra, e um se absteve. Dos 16 suplentes, oito votaram contra a PEC, quatro não votaram, três votaram a favor, e um se absteve: o suplente da ministra Gleisi Hoffmann, Sérgio Souza (PMDB-PR).
Um dos suplentes a criticar a PEC foi Eduardo Lopes (PRB-RJ), que assumiu a vaga de Marcelo Crivella quando este foi para o Ministério da Pesca. Segundo Lopes, esse tema não é uma reivindicação dos movimentos populares. Ele disse ainda que disputou as eleições para o Senado, pois foi às ruas pedir votos para o titular da chapa.
— Em todas as cenas que eu vi das manifestações nas ruas, eu não vi em nenhuma faixa escrito que era para se tirar os suplentes de senadores. Eu não vi essa placa nas manifestações de rua. Ninguém pode dizer que eu não disputei as eleições para o Senado. Primeiro, porque eu subi os morros, eu subi as favelas do Rio de Janeiro para pedir voto para o meu senador e para pedir voto para mim também — afirmou Lopes.

[…]

Curiosamente, o texto derrotado era de autoria de ninguém menos que José Sarney! O suplente Eduardo Lopes, ao cobrar alguma faixa das ruas com essa demanda específica, apela para uma estratégia malandra. O povo nas ruas pode não ter feito esse pedido específico, mas sem dúvida a principal bandeira das ruas é mais decência por parte dos governantes, mais ética na política. O bom senso nos diz, claramente, que fere esta postura ética abusar do nepotismo.
Senadores são eleitos, depois abandonam seus cargos, e assume um suplente que não recebeu um único voto. Isso, por si só, já é errado, e deveria haver nova eleição. Ninguém vota para senador de olho no suplente! Mas, para piorar a situação, esse suplente apontado é um parente do eleito! Isso, sim, é realmente escandaloso. Isso é a marca registrada de nossa política, que é o patrimonialismo, a confusão entre coisa pública e “cosa nostra”.
Ao que parece, vários políticos ainda não compreenderam o recado das ruas, ou estão simplesmente o ignorando solenemente. Resta saber se haverá consequências, ou se eles sairão impunes, uma vez mais, deste escárnio. Política não pode ser um negócio de família.
* PRESIDENTE DO INSTITUTO LIBERAL

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