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Não tenha vergonha da sua história

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Este é um texto sobre orgulho, liberdade e preconceito. Não se tem aqui qualquer pretensão de verdade ou certeza, mas unicamente o desejo de provocar a reflexão.

Para iniciar, proponho a seguinte parábola: Maria é e sempre foi uma pessoa bastante aprazível de se ter por perto, respeitosa com todos, honesta, cheia de sonhos e preocupada com a realidade à sua volta. Desde garota, destinava horas a fio a aprimorar seus conhecimentos, apesar de haver muitas outras coisas que pudessem tirar uma adolescente desse caminho. Maria empreendeu muito esforço pessoal para se tornar a pessoa que sonhara em ser. Para tanto, passou manhãs, tardes e noites trabalhando e estudando, muitas vezes negligenciando sua própria saúde, sua família e seu lazer. Dessa forma, conseguiu realizar aquilo que desejava.

Esses são alguns dos fatos incontestáveis da vida de Maria. Dito isso, indago: haveria mudança no seu pensamento sobre o caráter e a personalidade de Maria, se eu lhe dissesse que ela é negra e que nasceu e foi criada em uma favela de João Pessoa/PB? E se eu lhe dissesse que ela nasceu em uma família extremamente rica de São Paulo/SP, mudaria algo? E se ela fosse branca, de classe média e que fora batizada com o nome de Arthur em sua certidão de nascimento?

Se houve variação em suas respostas, cuidado, provavelmente elas estão alicerçadas em preconceitos. Essa é uma perigosa tendência de classificar o ser humano em classes ou em grupos, eliminando os traços de individualidade que lhe são próprios. Se você parar para refletir poderá notar que essa análise distintiva foi feita tão somente com base na cor, na classe social e na identidade de gênero de Maria, colmatada, ao final, pelas experiências de vida de cada um. A questão de quem é Maria foi relegada a segundo plano.

Não se trata de debater se, em um ou outro cenário hipotético, Maria teve mais ou menos dificuldades para alcançar seu sonho, seja ele qual for. É bastante claro que a situação social e econômica em que o indivíduo se encontra inserido gera maior ou menor dificuldade no atingimento de determinados objetivos. Aqui, pretende-se apenas reconhecer a existência de esforço pessoal. E isso prescinde do cenário familiar de Maria. Tal atitude merece o nosso devido reconhecimento, jamais o nosso preconceito.

Não existe mérito pessoal em nascer em uma família rica ou em herdar um grande patrimônio. A pessoa não possui qualquer inferência no seu nascimento, sejamos justos. Contudo, isso não significa que esse indivíduo não tenha seus méritos e que não tenha se esforçado muito para alcançar seus objetivos e se tornado o ser humano que pretendia ser. O mérito existe no que você fez, no que você faz e no que você fará. E isso independe da sua condição social ou de seu status.

Portanto, não desmereça o esforço alheio. Cada esforço honesto em gerar valor deve sempre ser aplaudido. Não importa o ator. O resto é preconceito.

Se o esforço partiu de alguém sem condições financeiras iniciais, ótimo. Se partiu de alguém que nasceu em “berço de ouro”, ótimo também! Por que um deveria ter vergonha e o outro não? Sinceramente, não consigo enxergar diferença ontológica entre suas atitudes.

É realmente inspirador ver alguém que veio de uma família menos abastada, de um subúrbio ou de uma favela conseguir realizar seu sonho e eventualmente se tornar exemplo para outros! Essa pessoa merece todos os aplausos, indubitavelmente. De igual modo, fosse o caso de Maria ter nascido em uma família rica, isso não retiraria os fatos acima narrados de sua vida pessoal, devendo ser reconhecido seu esforço e lhe atribuído os devidos créditos por eventuais conquistas pessoais que tenha atingido.

Uma pessoa não deveria ter vergonha de suas conquistas, se honestas foram. Há casos de pessoas que, por receio de um possível julgamento preconceituoso, deixaram de usar um relógio caro, de postar fotos em lugares exóticos e até estacionaram em um ponto mais distante pelo simples fato de possuírem um carro melhor. O que deveria ser motivo de orgulho ou de prazer pessoal, se tornou motivo de vergonha.

Indo além: nada muda se você é um herdeiro ou se ganhou na loteria. Não deveria importar, quiçá ser motivo de vergonha, se você gerou seu dinheiro pessoalmente ou se o ganhou de forma lícita. Isso não muda seu caráter, sua história e a pessoa que você é.

Há uma grande diferença entre ambição e ganância, riqueza e arrogância, inteligência e prepotência. Não permita que pessoas que criam e propagam esse paralelismo forçado e descabido seja a razão determinante de como você irá viver sua vida. Tais pensamentos são frutos de puro preconceito e só resultam em segregação e infelicidade.

Aliás, cumpre lembrar que humildade não é sinônimo de pobreza. Humildade deveria ser consciência e atitude, jamais pertença ou posse. É uma característica dos grandes e não escolhe tom de pele, classe social ou orientação sexual/religiosa.

Por isso, pare com os preconceitos pelo simples fato de uma pessoa não ser quem você quer que ele seja, por pensar diferente, por viver de forma diferente, por ter uma orientação sexual ou religiosa diferente ou por ter o que você não tem. Deixe as pessoas serem o que elas quiserem ser. Deixe as pessoas tentarem mudar de vida e escolher o próprio destino.

Então, aqui vai uma recordação, por vezes esquecida: não é demérito ser herdeiro. De igual forma, você não é necessariamente mais virtuoso por ser uma pessoa que saiu do zero (self-made). Você não se torna arrogante por usufruir do que tem, tampouco é necessariamente humilde por ser pobre. O tom da sua pele não te faz ser uma pessoa melhor ou pior. Não há causalidade entre esses fatores.

Você será uma pessoa boa ou ruim, virtuosa ou não, por aquilo que você faz. Você é a metonímia das suas atitudes – e vice-versa.

Portanto, se você é uma pessoa honesta, que faz o que gosta sem prejudicar os direitos alheios e que respeita as diferenças, orgulhe-se! Nunca mais tenha vergonha de ser quem você é e de fazer o que te faz bem. Fazer o que te agrada é a constatação objetiva e pragmática de que a felicidade pertence aos praticantes. Parabéns por ser você!

*Vander Santos Giuberti é Associado II do Instituto Líderes do Amanhã. 

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