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A monstruosidade em Paris e o totalitarismo de Choudary

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A monstruosidade em Paris e o totalitarismo de Choudary

Como não poderia deixar de ser, foram muitos os comentários na imprensa nacional e internacional acerca dos tristes acontecimentos em Paris, que desafiam o mundo a discutir mais de um problema, com destaque para a liberdade de expressão e a necessidade de lidar com o terrorismo e o Islã político na atualidade. Um atentado contra a revista satírica francesa Charlie Hebdo, que já havia sido atacada antes por fazer charges do profeta do Islamismo, Maomé, matou 12 cartunistas e gerou comoção e manifestações de rua em solidariedade às vítimas. A essa altura, em nada deveria importar o que essas pessoas fizeram, o teor do que produziram, a quem ofenderam. Deveria importar tão somente a violência injustificável e abominável que foi cometida. No entanto, as argumentações mais fantásticas e aviltantes vêm sendo feitas para procurar “compreender” o lado dos terroristas islâmicos.

Como bem demonstrou o jornalista e escritor Leandro Narloch em sua coluna na Veja, professores de universidades brasileiras foram vistos nas emissoras de televisão nacionais alegando que as charges, vejam só, foram “atos de irresponsabilidade” e que “não tem nenhuma graça fazer piada com Maomé”. Eu apostaria que esses senhores são os mesmos que consideram absolutamente normal zombar de símbolos ou dogmas cristãos, como fazem e fizeram humoristas da estirpe da equipe do conhecido canal virtual de vídeos Porta dos Fundos. Aí, quem não gosta é “reacionário rosnando”. Fazer piada com Maomé, não, isso não pode! É desrespeito inaceitável! Neste último caso, a “liberdade de expressão” deve ser esquecida; no primeiro, é valor inegociável. Até agora, que eu tenha tido notícia, nenhum católico ou evangélico promoveu um ataque terrorista contra o Fabio Porchat. Nem mesmo, vale dizer, contra a própria Charlie Hebdo, que não ironiza apenas a religião islâmica, mas também o Cristianismo e figuras políticas de variadas tendências.  Está na hora de aprendermos a enxergar a monstruosidade no lado em que ela está: o dos terroristas, sem complementações ou esforços retóricos de contemporização. O desrespeito, aqui, é com as vítimas desses fanáticos assassinos, cometido por cada um dos “intelectuais” irresponsáveis que estão indo à mídia relativizar o problema.

O mais lamentável é que vozes que poderiam representar uma intermediação entre o Islã e o debate público ocidental se levantem em defesa do extremismo, sem grande preocupação em dissimular. É o caso do britânico Anjem Choudary, um notório pregador das “benesses” da implantação da Sharia, a lei islâmica, como forma de organização social e de governo na Inglaterra e no Ocidente – o tipo de pregação, tenhamos certeza, que, feito em sentido contrário, não seria minimamente tolerado nos países em que essa lei efetivamente é adotada como sistema oficial. Choudary foi entrevistado na emissora americana Fox News por Sean Hannity, que, com postura firme, enquadrou o radical em seu programa.

“Você está dizendo que não acredita na liberdade de expressão, você não acredita na liberdade de expressão, você acredita no fascismo islâmico, no qual as pessoas devem conformar-se com suas leis”, provocou Sean, para obter como resposta:

“Na verdade, como um muçulmano, nós acreditamos que a soberania e supremacia pertencem a Deus e, portanto, acreditamos na submissão aos mandamentos de Deus”.

Choudary não conseguiu dar uma resposta satisfatória a Hannity quando este, naturalmente, insistiu, indagando se ele achava, então, que todos os países deveriam considerar ilegal qualquer ofensa ou troça com o profeta Muhammad, finalizando brilhantemente: “em outras palavras, ou você concorda conosco ou vamos entrar em seu jornal e matá-lo?”.

Os “mandamentos de Deus” a que Choudary se refere são, naturalmente, os preceitos do Islã. Em uma nítida confusão quanto ao que deve ser o relacionamento entre nossas convicções religiosas e nossas posições acerca da esfera política, social e institucional, para ele, a única alternativa admissível para todos é a submissão ao Islamismo; é aceitar que mulheres devem andar cobertas e, alega ele, que adultério e “sodomia” devem ser punidos com a morte.

Não clamamos aqui por uma perseguição aos muçulmanos, por uma demonização daqueles que limitam sua fé às suas vidas privadas e não abraçam em público o tipo de absurdo que Choudary sustenta e os terroristas levam às últimas consequências. Desses, no entanto, se de fato não estão de acordo com esses absurdos, esperamos que se manifestem, que gritem, que protestem – como alguns já fizeram, diga-se de passagem.  O tipo de horizonte cultural sustentado por essas lideranças islâmicas em evidência é incompatível com as liberdades e conquistas que tanto tempo levamos para consolidar em nossa tradição ocidental. É, em uma faceta religiosa, uma variante do totalitarismo, confessadamente ou não, abraçado pelas nossas esquerdas. Estas, gestadas no Ocidente, tentam minar os valores liberais-democráticos que nele passaram a ter seu principal baluarte prático e simbólico. Os nada ingênuos defensores de um “multiculturalismo” suicida, vinculados com as ideias típicas da esquerda antiliberal, adotam a estratégia da clemência e da tolerância ingênua.

Que diriam diante de loucos com delírios teocráticos como Choudary? “Respeitem, ele só quer viver sua cultura e suas tradições”. Tudo bem. Mas que as viva respeitando as leis que vigem na Inglaterra, na Europa e na América! E isso inclui a liberdade de se dizer o que se pensa, de fazer piadas, de zombar. Gostemos ou não. Não podemos querer que a liberdade se restrinja a permitir que digam e publiquem apenas o que apreciamos. Isso não é liberdade. Não é liberdade, por óbvio, o que Choudary deseja. Não é liberdade que desejam os assassinos da França. Eles desejam a tirania. Eles desejam demolir os princípios liberais-democráticos.

Frisamos: não pedimos perseguição ou demonização. Pedimos que as forças do Ocidente não se suicidem, não se devorem a si mesmas; se devemos respeitar tradições e culturas, por que não nos felicitarmos do que a cultura ocidental conseguiu? Das conquistas gestadas em sua tradição filosófica e institucional, que exercem influências importantes a nível planetário? O que queremos é que, em nome da tolerância ou do respeito, não vendamos nossos princípios – ou pior, não os cedamos de graça. Os radicais, certamente, não venderão os deles.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

Um comentário em “A monstruosidade em Paris e o totalitarismo de Choudary

  • Avatar
    10/01/2015 em 11:48 am
    Permalink

    O Catolicismo diz que devemos ser monogâmicos, quem é católico pratica, mas os muçulmanos podem ter até 4 esposas. Os católicos não os matam por isso.
    O Judaísmo proíbe o consumo de carne de porco. As outras religiões comem bacon, mas nenhum Judeu mata eles por isso.
    Os crentes só permitem que as mulheres usem saias, mulheres de outras religiões usam jeans e leggings, mas os crentes não as matam por isso.
    Os muçulmanos não permitem que se façam ilustrações de Maomé, eles que cumpram seus dogmas, mas não matem não-muçulmanos por isso.

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