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Maracanã: a maior bagunça do mundo

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BERNARDO SANTORO *

É forte o boato que o consórcio vencedor da licitação para administração do Estádio do Maracanã está pensando em devolvê-lo ao governo do Rio de Janeiro, baseado na nova decisão governamental de não mais derrubar os estádios de atletismo e natação que fazem parte do complexo do Maracanã.

Vários membros da diretoria do IL se pronunciaram, em outras ocasiões, contra a utilização de dinheiro público para a realização de eventos privados no Brasil, como Copa e Olimpíadas, além de denunciarem a absurda quantia injetada em obras que acabam, em sua maioria, por serem inúteis para a população do Rio. A regra nesses eventos é que o custos dele é de toda a população, mas o lucro é apenas dos promotores dos eventos, em sociedade com os políticos de plantão. O caso do Maracanã é um exemplo concreto disso.

Foram gastos mais de um bilhão de reais para a reforma de um estádio que atendia plenamente as necessidades da população carioca. Apenas para comparar, o novo estádio da Juventus, com tecnologia ainda mais moderna que a do Maracanã, custou 300 milhões de reais. A empresa reformadora foi a Odebrecht, que por coincidência ganhou depois a licitação para administrar o estádio. Cabe ressaltar que o edital proibia participação de clubes na licitação, e se tem alguém que tem interesse em administrar um estádio de futebol é um clube. Essa vedação faz ainda menos sentido quando vemos que o Engenhão e São Januário, outros grandes estádios do Rio, pertencem ou são administrados sem maiores problemas por clubes, o que dá a entender que essa licitação foi dirigida.

Falando em Engenhão, embora ele seja razoavelmente bem administrado pelo Botafogo, supostamente tinha um problema estrutural que o obrigou a ser fechado, convenientemente no mesmo momento em que seu rival Maracanã se tornava apto a funcionar. Só que quem construiu a maior parte do Engenhão foi a Odebrecht, que se beneficiou do fechamento para lucrar com o Maracanã. Essa mesma empresa foi chamada para consertar o problema, ou seja, o gestor do Maracanã, rival do Engenhão, é o responsável por reformá-lo. Se isso não é conflito de interesses, não sei o que é. E tudo bancado pelos governos municipal e estadual do Rio.

Antes de escrever esse texto, fiz questão de ir a um jogo no novo Maracanã para ver se pelo menos a organização em dia de jogo era decente. O jogo foi Botafogo X Vitória. O que eu vi foi a tradicional dificuldade para estacionar, um monte de “organizadores” inúteis conversando do lado de fora ao invés de orientar os torcedores, filas grandes para entrar (levei vinte minutos para entrar), e uma total falta de bom senso no preço dos ingressos. Os lados sul e norte são os mais baratos. O lado sul ficou superlotado, o lado norte, que estava fechado, teve de ser aberto de emergência, e os lados oeste e leste, inacreditavelmente caros (ingressos a 200 reais), estavam vazios. E isso para um jogo de meio de semana sem ser um clássico. Do lado de dentro, saquinhos de pipoca custando 10 reais.

Ficou evidente que as pessoas que estão gerindo o novo Maracanã não são do ramo, assim como já é claro que esse arranjo é ruim para todos os envolvidos (consórcio e clubes). O consórcio está apenas buscando uma desculpa para se livrar do contrato que fez com o governo, pois já lucrou tudo o que podia, e de agora em dia só virão prejuízos, tudo às nossas custas novamente.

Por outro lado, todo esse absurdo nasceu do fato que, em algum momento, alguém decidiu que é dever do governo do Rio ter um estádio. Ter estádios de futebol não é função estatal, e se o estado brasileiro fosse enxuto e tivesse uma Constituição que impedissem governos de terem estádios, nada disso teria acontecido. Infelizmente teremos de arcar com mais esse prejuízo e precisaremos efetivamente privatizar o Maracanã, e não apenas concedê-lo por tempo indeterminado, pois essas concessões sempre geram mais prejuízos para os cofres públicos. Agora precisamos pensar pra frente, evitando novos golpes. Vender o Maracanã é essencial para que nunca mais a sociedade tenha que arcar com reformas bilionárias, como a que a prefeitura já quer fazer novamente no Engenhão, de modo a garantir que essas verbas sejam empregadas em verdadeiras necessidades sociais.

Ver o atual movimento social em defesa da reestatização do estádio é andar pra trás e pedir por mais fraudes. Governo sendo proprietário de estádios é garantia de licitações fraudulentas, obras superfaturadas e desvio de verbas. Vamos dar um basta nisso. Privatizem para sempre o Maracanã e deixem que os clubes arquem com ele.

* DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL

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