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Líbia sem Kadáfi: vai raiar a liberdade?

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LIGIA FILGUEIRAS *

O Tribunal Penal Internacional, em Haia, deu ordem de prisão ao líder líbio Muamar Kadáfi, ao filho Saif AL-Islam e ao chefe do Serviço de Inteligência por crimes contra a humanidade na repressão dos primeiros dias de protesto civil, em fevereiro.

TPI emite ordem para prender Kadafi, seu filho e chefe da inteligência da Líbia [1]

O governo líbio discorda: o Tribunal é uma “ferramenta do mundo ocidental”, diz o ministro da Justiça. Além disso, “o líder da revolução e seu filho não têm nenhuma posição oficial no governo líbio”, acrescentou o ministro Mohammed Al-Qamoodi.

Líbia rejeita mandado internacional de prisão contra Gaddafi [2]

Com a decisão da Corte de Justiça de Haia, surge um novo alento para os rebeldes líbios que, mesmo com o apoio aéreo da OTAN, já sofreram enormes baixas e tiveram que recuar por diversas vezes. Agora, anunciam que estão a 80 quilômetros da capital. Acreditam que, se chegarem às cercanias de Trípoli, poderão inspirar uma rebelião de grupos anti-Kadáfi que estão na capital.

Será então o fim de Kadáfi? Será o surgimento de um tempo de liberdade para o povo líbio? Ou a chegada ao poder de um novo ditador ou governo ditatorial? Cenário ainda sombrio para o país, considerando que o povo líbio não conhece a prática democrática e o espaço político para a liberdade é o do Corão, onde se pauta toda ação da maioria muçulmana do país, e a “constituição” de Kadáfi, o Livro Verde.

Foi uma minoria, com maior grau de educação, que despertou a sociedade para o estado de escravidão em que se encontrava: um país rico em petróleo a serviço da riqueza pessoal de seu líder e governantes. O grau de pobreza geral, a corrupção reinante, a censura, o desrespeito aos direitos humanos são a base da revolta. A Internet e a moderna mídia social, aliadas aos acontecimentos no Egito e na Tunísia, no entanto, foram a centelha que conduziu à rebelião em fevereiro deste ano e à guerra civil posterior.

A comparação com o mundo ocidental fez destes mais esclarecidos rebeldes os líderes da reação contra a autoridade ao difundirem a ideia de liberdade, de prosperidade e, acima de tudo, da possibilidade de se escolher o caminho da própria felicidade. São jovens, em grande parte, e souberam envolver familiares, vizinhos, e toda coletividade possível, mostrando como vivem as pessoas em países com maior grau de liberdade. Eles também querem ter a oportunidade de expressar seu pensamento, de se locomover para onde e quando quiserem, de ler o que quiserem, de escolher seus governantes, de terem um bom emprego e acesso a toda modernidade que grande parte do mundo hoje conhece.

A maioria do povo líbio, no entanto, é de gente com baixo grau de educação, para quem as armas do populismo são sedutoras e às quais se entrega sem quase nenhum esforço de reflexão. Só mesmo a violenta repressão pode despertar-lhe revolta, mas como são pessoas que não sabem compartilhar publicamente suas dúvidas e perplexidades, quando chegam a momentos extremos de sua cidadania já é tarde, estão isoladas e diante do aguilhão da autoridade inquestionável.

Vários intelectuais aliaram-se aos manifestantes, que foram quase todos presos, como o escritor e comentarista político Jamal al-Hajji, preso em 1º de fevereiro, e que teria “apelado pela Internet aos protestos pela liberdade na Líbia”. O motivo alegado da prisão foi uma batida de carro que, segundo testemunhas, não gerou dano pessoal à “vítima”. Além disso, os policiais que o prenderam estavam à paisana. Tudo muito estranho, tudo muito kadafiano.

Não fosse pela adesão de ex integrantes do governo de Muamar Kadáfi, talvez o sucesso dos primeiros rebeldes não tivesse dado passos adiante.

[Saiba quem são os líderes rebeldes na Líbia.] [3]

Estarão entre estas lideranças os membros de um novo governo líbio pós-Kadáfi? Sairá desse novo arranjo um sistema político que busque a adoção da democracia? O que sabem eles sobre Estado de direito? Quem antes integrou equipe de Kadáfi estaria propenso a estabelecer um regime pluripartidário, a distribuir o Poder, descentralizá-lo, abrir a economia? Ou apenas virá mais do mesmo? A oitava maior reserva de petróleo do mundo contará com o apoio financeiro da comunidade internacional para reconstrução do país num momento em que os recursos são divididos pelos endividados mais temidos do momento?

Aparentemente, qualquer coisa que venha para destronar um ditador há 42 anos no poder parece ser melhor. Insha’Allah!

*JORNALISTA, Editora do Instituto Liberal


[1] O Globo online/ Mundo, 27.06.2011, 11h51

[2] O Globo online/ Mundo, 27.06.2011, 17h43

[3] Folha.com / BBC Brasil, 30.03.2011, 11h21

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