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Direita e meio ambiente: lados opostos?

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*Este texto é uma entrevista com Lucas Arjona, dono da página O Ambientalista Liberal: (6) O Ambientalista Liberal (@lucasnatpho) / Twitter

É fato que o espectro político da direita se especializou muito em assuntos e discussões que envolvem economia e redução do Estado, tendo em vista que ainda há a insistência por parte de alguns em defenderem verdadeiros disparates, e, concomitantemente a isso, fomos nos distanciando de outros importantes segmentos. Como consequência dessa focalização, exempli gratia, a área do meio ambiente, que também é relevante e merece atenção, foi posta de lado, e acabou, obviamente, sendo prioridade de outra ala ideológica, a esquerda, que possui adeptos de teorias e argumentos absurdos e críticos ao sistema capitalista. Situação? Combinaram o útil ao agradável.

Algumas pessoas preocupadas com os danos causados pelos seres humanos à natureza podem até não se identificarem com a esquerda, mas, como o nosso campo demonstra pouca ou nenhuma preocupação com o assunto, elas decidem estar, mesmo com as discordâncias que têm, do lado canhoto da história. Ou seja, estamos nos autossabotando e empurrando muitos indivíduos para os braços de nossos adversários políticos.

No entanto, há exemplos de esforços em outras áreas que visam a uma mudança significativa de cenário, como é o caso da União Juventude e Liberdade (UJL) e do Students for Liberty, que defendem a liberdade e buscam trazer luz ao movimento estudantil brasileiro (dominado por estudantes de mentalidade esquerdista), que, infelizmente, se encontra nas trevas.

Voltando ao campo do meio ambiente, faz-se necessário que haja referências (no bom e velho plural) de pessoas dentro da direita na atuação em trabalhos e projetos ambientais e, quando se tratar de debate público e Parlamento, na elaboração de políticas públicas eficientes e discussões sérias, no sentido de não haver negacionismo em ambas as partes quando se refere às mudanças climáticas e seus efeitos.

Pensando nisso, realizei uma entrevista com Lucas Arjona, de 26 anos, biólogo, que já teve a oportunidade de trabalhar na área de consultoria ambiental em levantamento de fauna, e que, atualmente, é professor da rede pública de ensino do estado de São Paulo. Também é militante e coordenador em formação do MBL (Movimento Brasil Livre).

Em relação à ideologia, você se considera como sendo conservador, liberal ou libertário?

Considero-me um liberal não dogmático.


Qual é a diferença entre um ambientalista de esquerda e um de direita? Um lado se preocupa mais com a natureza do que o outro?
A meu ver, um ambientalista de esquerda procura formas de propiciar a proteção da natureza através de intervenções do Estado. Um ambientalista de direita acredita que o indivíduo pode ser tão responsável quanto o Estado em agir em prol desse mesmo objetivo. Eu não acredito que nenhum dos lados se preocupe mais ou menos com a natureza, mas vejo que as soluções propostas por ambos tendem a ser diferentes. Entendo que tanto os Estados quanto os indivíduos podem ser agentes de proteção ou destruição.

É comum que pessoas de esquerda, e especialistas de mesma mentalidade, apontem o capitalismo como sendo inimigo do meio ambiente. Você concorda com esse pensamento? A iniciativa privada pode, de fato, contribuir com a conservação do ecossistema?
Discordo. Acredito que o capitalismo não está fadado a levar o planeta a um cataclisma ambiental por sua capacidade inerente de se reinventar. A lei de oferta e demanda nunca foi refutada e ela se aplica também à sustentabilidade. Cada vez mais o homem, que hoje entende a grave questão da escassez dos recursos naturais, percebe que a proteção ao meio ambiente é fundamental para o bom funcionamento da economia, da agricultura, da saúde e de sua própria existência. A forte adesão de jovens e do mundo corporativo à agenda conservacionista, ou mesmo o crescente apelo por proteção ambiental nas esquerdas, corroboram com minha interpretação da realidade. A meu ver, a reinvenção do capitalismo para um ponto onde o desenvolvimento abrangerá a todos provará não só que o capitalismo não é inimigo do meio ambiente, mas que nunca houve uma alternativa a ele para garantir liberdade, desenvolvimento e sustentabilidade.

Você tem lido notícias sobre a situação do povo Yanomami? Qual é a sua opinião?
Sim, mas embora acompanhe as notícias, emitir uma opinião técnica sobre um assunto que foge de minha alçada a meu ver não é o apropriado. Entendo que no Brasil as questões ambientais acabem esbarrando na temática indígena, mas esua última eu deixaria para os indigenistas. A meu ver, há a necessidade de separar mais os temas. Torço para que os responsáveis por tamanho descaso com o povo Yanomami, os mineradores ilegais e quem os financia, apodreçam na cadeia, mas, brasileiro que sou, tenho poucas esperanças de que isso vá acontecer.

É evidente que os discursos a favor da preservação do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável são feitos principalmente por indivíduos mais à esquerda. É possível existir, de forma coerente, uma corrente ambientalista dentro da direita?
Não só perfeitamente coerente como extremamente necessário. Ou a direita se insere no debate sobre preservação ambiental com propriedade e garantia de resultados concretos com propostas a seu modo, ou continuaremos perdendo espaço e votos para aqueles que assim o fizerem. A demanda por um meio ambiente equilibrado é global e precisamos supri-la. Embora o seja na teoria, a coerência de uma corrente ambientalista de direita deve ser provada na prática com resultados concretos, e é essa a missão que peguei para mim.

Muitos ambientalistas e conservacionistas argumentam que a atuação do Estado na preservação do meio ambiente é indispensável. Você concorda com essa afirmação?
Concordo. O Estado, com seu monopólio da força, precisa agir para garantir que recursos de uso e posse coletiva sejam preservados. A meu ver, existem interesses acima dos individuais quando tratamos dos recursos naturais e que, portanto, transcendem a esfera do indivíduo. O Estado precisa agir para garantir que esses interesses sejam respeitados.

Nos últimos tempos, muito se tem falado sobre o desenvolvimento sustentável e sua implementação. A sustentabilidade trata apenas sobre cuidar do meio ambiente?
A sustentabilidade é muito mais uma questão de permitir que o sistema capitalista continue a progredir e o desenvolvimento continue a ocorrer do que uma espécie de altruísmo ambiental, razão pela qual a palavra ou o próprio conceito de desenvolvimento sustentável são tão criticados pela esquerda ecossocialista. Preservar a natureza é questão, sobretudo, de sobrevivência. Não é exagero algum dizer que não há futuro para a espécie humana sem sustentabilidade e, portanto, está longe de ser apenas uma questão de preservar a natureza.

Na sua opinião, o que deve ser feito para atrair mais pessoas para a defesa do meio ambiente dentro da direita?
Criou-se um preconceito de que esse é um assunto que não pertence à direita e que só beneficia o lado que trata sobre o assunto. A direita precisa identificar bons nomes técnicos e que fazem bons trabalhos em prol do meio ambiente, dialogar com essas pessoas e dar espaço de fala a elas para que ganhem visibilidade. Há inúmeras áreas em que podemos ver pessoas de direita fazendo bons trabalhos ambientais, da consultoria ambiental ao turismo ecológico, mas essas pessoas não têm visibilidade porque guardam suas opiniões para si, temendo o preconceito daqueles que pensam ter o direito de exclusividade sobre a pauta, muito devido a pessoas como Ricardo Salles, cuja passagem pelo ministério do Meio Ambiente se tornou um estigma para nós. Em suma, acredito que hoje a direita carece de bons nomes para inspirar aqueles que se interessam pelo assunto para trilhar caminhos semelhantes.

*Rafael Sousa é estudante e ferrenho defensor das ideias da liberdade.

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