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O caso de intolerância na Bienal da UNE

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A universidade deve ser o espaço por excelência da diversidade de ideias. Poucas esferas da sociedade, entretanto, parecem fazer constantemente tão pouco jus a essa descrição. Sempre que os jovens liberais de quaisquer vertentes procuram, através da movimentação estudantil, desafiar essa profunda intolerância que se verifica entre muitos dos que integram o universo docente e discente, é nosso papel louvar seu esforço e apoiá-los no que for possível.

Eis porque, toda vez que me chegam aos ouvidos notícias sobre atos de agressão perpetrados contra esses jovens, considero uma obrigação repercutir. Primeiro, para registrar para a posteridade os esforços que fazem. Segundo, para ilustrar sem equívoco o tamanho do desafio que há para ser enfrentado. Terceiro, para que nós, liberais, saibamos que não estamos sozinhos em nossas lutas.

A organização União, Juventude e Liberdade (UJL) foi criada para tentar ocupar o espaço do movimento estudantil tradicional com representantes das teses liberais. Com esse propósito, seus integrantes estiveram visitando o Rio de Janeiro nos últimos dias para a Bienal da União Nacional dos Estudantes, o maior festival de arte estudantil da América Latina.

Conforme a UJL descreveu no dia 3/2, militantes esquerdistas presentes no evento no dia anterior “roubaram uma bandeira de Gadsden das costas de um membro da UJL”. A entidade resumiu: “Pelas costas, na covardia, como é prática comum dos comunistas. Não esperem que a UJL “revide” as agressões, estamos aqui para debater e defender o que é certo. Outra bandeira já está chegando, não vamos nos calar. A liberdade é questão de tempo. Vão ter que nos engolir!”

De acordo com a Revista Oeste, outro membro da UJL tentou recuperar a bandeira, mas acabou sofrendo agressões físicas. O Students for Liberty Brasil se manifestou em nota oficial condenando essa postura lamentável: “É inadmissível que membros da UJL tenham sofrido ataques simplesmente por se posicionarem publicamente em defesa da liberdade. É dever de todos garantir o direito de livre expressão e dever de todos condenar qualquer ato de violência contra quem se posiciona politicamente. Não há lugar para a violência e a opressão em ambientes que se dizem democráticos, principalmente em um evento destinado a mapear e apresentar o que há de mais interessante na cultura, arte, ciência e tecnologia dentro e fora das universidades brasileiras.”

Houve quem justificasse o roubo alegando que o evento era de natureza artística e não política, razão pela qual não se deveria ostentar o símbolo de nenhum partido. Do ponto de vista formal, porém, a UJL não ergueu a bandeira de nenhum partido político, brasileiro ou estrangeiro. Ela ergueu um símbolo relativo a uma causa, algo que, com sinais trocados, diversos grupos estudantis presentes ao encontro estavam fazendo. O problema é que os críticos raramente se dignam a julgar os fatos sem se basearem em dois pesos e duas medidas.

Mais absurdo ainda é o argumento de que a bandeira de Gadsden seria um emblema fascista. O símbolo se originou em 1775 na Carolina do Sul, desenhado durante a Revolução Americana pelo general Christopher Gadsden, presente ao primeiro congresso das colônias americanas. A bandeira representava a luta contra os ingleses. Não expressava, portanto, absolutamente nada relativo a fascismo ou reacionarismo – muito ao contrário. Se grupos racistas e supremacistas brancos dos EUA a utilizam, é apenas por empréstimo vil. Condenar a UJL por ostentar o emblema por ele ser eventualmente utilizado por aglomerações defensoras de agendas repugnantes só poderia fazer algum sentido se houvesse condenação de mesmo teor, por exemplo, à presença de símbolos como a foice e o martelo por parte de movimentos socialistas. A foice e o martelo originalmente representavam o trabalho, mesmo antes da União Soviética; foram associadas ao totalitarismo soviético, porém, de forma muito mais enfática e universalmente predominante do que a bandeira de Gadsden o é aos lunáticos herdeiros da Ku Klux Klan.

Não existe, em suma, qualquer justificativa aceitável para esse tipo de violência, a um só tempo, física e ao direito de propriedade, de um lado, e simbólica, de outro, posto que escancara um recado evidente: o de que só alguns deveriam poder falar. Esperamos que fatos como esse sejam objeto da atenção dos que enxergam “discursos de ódio” e “atentados à democracia” por toda parte, menos onde efetivamente faz sentido identificá-los.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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