A Insensatez Coletivista
JOÃO LUIZ MAUAD*
“A relação entre cada homem e os frutos do seu trabalho é muito forte … “seu” e “meu” são expressões comuns em todas as línguas, familiares entre os selvagens e entendidas mesmo pelas crianças”. John Maynard Keynes
Os americanos comemoram nesta quinta-feira o Dia de Ação de Graças (Thanksgiven Day). Este é um dos feriados mais importantes do calendário deles, quando as pessoas, independentemente de religião, se reúnem para agradecer a fartura e a prosperidade. O Thanksgiven é uma tradição inglesa antiga que, nos Estados Unidos, teve início por volta de 1623 e faz parte de uma história tão interessante quanto educativa.
Uma das primeiras colônias a instalar-se na América do Norte foi a Plymouth Colony, estabelecida onde hoje é o estado de Massachussets, nos anos de 1620. Numa experiência inédita até então, um contrato coletivo, assinado pelos imigrantes antes mesmo de sua chegada ao Novo Mundo, estabelecia um sistema no qual as propriedades seriam todas comuns. Além disso, toda a produção deveria ser entregue para armazenamento comunitário, do qual cada indivíduo receberia uma fração igual, não importando com quanto contribuísse.
Como ensinara Aristóteles 2000 anos antes, “aquilo que é comum ao maior número despertará sobre si os menores cuidados”. Na esteira da grande sabedoria do Estagirita e de acordo com a moderna teoria dos incentivos, os bons economistas ensinam que, quando as pessoas obtêm o mesmo retorno, não importa o esforço que precisem fazer, a maioria optará pelo empenho mínimo. Não por acaso, portanto, a produção em Plymouth era insuficiente até mesmo para as necessidades da própria gente. Faltava comida, embora sobrasse ócio e acomodação.
A insensatez coletivista levou rapidamente a economia da colônia à penúria. Em 1623, apenas dois anos após a chegada dos primeiros Pilgrims, a fome já era desesperadora. William Bradford, que viria a ser governador da província algumas vezes, assim descreveu aquele triste momento da história americana em seu famoso diário:
“Aquela experiência durou alguns anos … e bem evidencia a vilania deste conceito de Platão e outros patriarcas antigos, aplaudido por muitos ultimamente, segundo o qual se acabarmos com a propriedade, em prol da riqueza comum, isto fará a comunidade feliz e próspera… Para esta nossa comunidade (até onde aquilo poderia ser chamado de comunidade) o experimento causou muita confusão e descontentamento. Os homens… lamentavam ter que gastar seu tempo e esforços trabalhando para as mulheres e as crianças de outros homens, sem que obtivessem qualquer recompensa…”
Encurralada pelas terríveis circunstâncias, a liderança dos colonos resolveu abolir a estrutura socialista que engessava qualquer possibilidade de progresso, transferindo para cada família uma parcela das terras, e permitindo o usufruto de tudo quanto seu trabalho produzisse. A eliminação da propriedade comunal em favor da propriedade privada logo mudou o panorama. Os colonos rapidamente começaram a produzir muito mais do que eles mesmos poderiam consumir.
Não tardou para que o comércio também florescesse e os excedentes da produção fossem trocados com os índios, que lhes entregavam carnes de caça e peles, estas últimas exportadas com largas margens de lucro para a nobreza europeia.“Esta decisão foi um grande sucesso, pois tornou todas as mãos diligentes e industriosas”, escreveria Bradford pouco tempo depois.
Uma das virtudes da propriedade privada é justamente estabelecer a conexão entre esforços e ganhos, custos e benefícios, criando incentivos para que as pessoas produzam conforme as suas necessidades e ambições. Porém, o direito de propriedade é também, e acima de tudo, a melhor arma contra a barbárie, a garantia de que o pão obtido com o suor do próprio rosto não será tomado de ninguém arbitrariamente.
*ADMINISTRADOR DE EMPRESAS E DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL