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Incentivos importam

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JOÃO LUIZ MAUAD *

O mercado de planos de saúde no Brasil encontra-se numa encruzilhada.  Se nada for alterado, acredito que, num futuro não muito distante, teremos problemas graves no país, com muita gente ficando ao desamparo e sujeita apenas aos serviços públicos de saúde.

Leiam esta notícia recente, publicada no jornal Folha de São Paulo:

As operadoras de planos de saúde realizaram 194,8 milhões de exames médicos em 2012, uma média de 14 por beneficiário. O aumento foi de 13,1% ante 2011, de acordo com a FenaSaúde (federação nacional do setor). Os procedimentos equivalem a um total de despesas de R$ 7 bilhões -16,5% de alta sobre o montante de 2011.

O número de exames cresceu mesmo com a queda de 2,9% no total de beneficiários das empresas no período. “Foram mais procedimentos com menos pessoas, o que também elevou a média per capita de exames realizados”, diz José Cechin, diretor-executivo do órgão. Em alguns tipos de diagnósticos, como ressonância magnética e tomografia computadorizada, houve expansão de quase 30% no ano. No caso das tomografias, a média no universo das operadoras foi de 130,8 para cada mil habitantes. A taxa supera o índice de países como Canadá (126,9), Alemanha (117,1) e Reino Unido (76,4), mas fica atrás da dos Estados Unidos (265,0). Com cerca de 8,9 milhões de registros, as radiografias estão entre os exames mais demandados pelos pacientes.

No acumulado dos últimos cinco anos, as despesas assistenciais saltaram de R$ 2,9 bilhões, em 2007, para R$ 7 bilhões, no ano passado – um avanço de 140%. O aumento percentual supera o crescimento do número de beneficiários do período (25%) e também a inflação acumulada (31%), diz Cechin.”

Trata-se de algo muito preocupante, principalmente porque o mercado de planos de saúde é altamente politizado, regulado e engessado, sem muita margem de manobra.  Além disso, o tipo de contrato que vigora majoritariamente no Brasil incentiva de forma absurda a utilização dos serviços pelos usuários, que, apesar de pagarem prêmios mensais fixos, estão praticamente livres para utilizar os serviços cobertos (consultas e exames) de forma ilimitada.

Não por acaso, muita gente corre para o hospital logo no primeiro espirro e de lá não sai enquanto não constatar, via exames caríssimos, que não está com pneumonia dupla. As clínicas e hospitais conveniados, por seu turno,  também não demonstram o menor pudor de pedir exames detalhados, ainda que o exame físico do paciente, em princípio, não demonstre a necessidade de tantos cuidados.

Já imaginaram se, a exemplo do que ocorre no setor de saúde, existissem seguros com direito a serviços ilimitados de barbeiro, cabeleireiro, manicure, mecânico de automóvel ou corrida de taxi?  Provavelmente, quem costuma cortar o cabelo uma vez por mês, sentir-se-ia impelido a ir ao salão toda semana.  O dono de um carro não pensaria duas vezes em recorrer à oficina ao primeiro barulhinho estranho no veículo e qualquer um deixaria de caminhar um quilômetro para tomar um taxi.

Não há nada de errado nesse tipo de comportamento.  O problema está nos incentivos que tais seguros gerariam.  Pensando nisso, as seguradoras de automóveis criaram as franquias e os bônus de descontos para aqueles usuários com poucos sinistros no currículo.  São maneiras de incentivar os segurados não só a dirigir com mais cuidado, como também evitar deixar seus veículos estacionados em locais de risco.  O problema com os seguros de saúde é que os regulamentos do governo não permitem que eles façam o mesmo.  E a tendência, na esfera judicial, é ainda pior:  descartar o teor dos contratos e julgar todo e qualquer caso de acordo com a necessidade do segurado, afinal “a saúde é um direito humano”.

Quando surgiram, os primeiros seguros de saúde cobriam apenas internações emergenciais, deixando de fora consultas e exames. Pode ser que eu esteja enganado, mas ou voltamos aos velhos tempos ou daqui a pouco não teremos mais nada, além do sistema público e de um sistema privado tão ruim quanto.

* ADMINISTRADOR DE EMPRESAS

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