A Implosão da Mentira
O título acima é de um poema de Affonso Romano de Sant’Anna (foto). Foi publicado, em página inteira, no Caderno B do Jornal do Brasil em sete de julho de 1981. Era, visivelmente, uma crítica ácida aos condutores da economia brasileira no período final, e já decadente, do regime militar.
Mostrava como os corifeus civis do governo mentiam à nação. A segunda estrofe era impactante:
“Mentem, sobretudo, impune/mente.
Não mentem tristes. Alegremente
mentem. Mentem tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.”
Passaram-se mais de 30 anos e, como dizia Roberto Campos, a história se repete com cruel monotonia. Há mentiras, gambiarras, band-aids e aplicações de botox, visíveis ou encobertas, para todos os lados na condução econômica do país. Do petróleo às contas públicas, passando pela maquiagem inflacionária, nada escapa da desfaçatez mórbida, desculpas esfarrapadas e do falatório repetitivo e enganador dos porta-vozes do governo federal.
Com sua lucidez, logo adiante, Sant’Anna indicava que aquelas balelas, imposturas e lorotas eram absolutamente inúteis. Não enganavam ninguém. Como na fábula, o rei estava nu.
“Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases
falam. E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.”
Impressiona a atualidade do poema. E por ela, uma vez mais, se confirma que o Brasil não foi fundado por Lula em 2002. “Antes também, na história deste país”, os governantes costumavam mentir compulsivamente.