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Humanidade: atomismo e coletividade

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Tratando de fatos concretos: o que, grosso modo, a Humanidade é? Como ela se porta e comporta no mudo sensível, como é a forma que os Homens têm? Somos animais solitários, com encontros temporários ou esporádicos, para a reprodução e a criação dos filhos, como os tigres?

Somos seres coletivos, isso é evidente. Vivemos, desde o berço, em grupos, nos associamos, com a vida adulta, em grupos e somos tão arraigados ao fator grupal que a saída dele tende a causar problemas psicológicos como a depressão em uma considerável parte dos indivíduos isolados. Somos entes tão coletivos que sequer percebemos esse fato, como peixes não notam a água.

Dado este fator da coletividade intrínseca e inata, existencial e essencial, o que ocorre quando um segmento intelectual decide ignorar, ou até mesmo, combater a noção de naturalidade da sociedade?

Se o Homem é um indivíduo, e nada mais, então mental e fisicamente deveria ser um átomo em meio a outros átomos, dependendo apenas de interações esporádicas para a procriação e a criação de seus descendentes — isso se assim quisesse —, se valendo apenas de sua vontade para guinar seus interesses e afazeres. O problema é que tal homem não existe.

Mesmo os mais isolados eremitas dependem de uma relação com o outro, fosse um outro espiritual ou efetivamente outras pessoas, como irmãos de causa, discípulos, mestres ou contatos com a comunidade. O eremita, porém, necessita de tais contatos para sua própria ascese, que não é fechada em si própria, portanto, trata-se de uma espécie diferente de interação. O interagir, portanto, vale de si mesmo, ocorrendo como um fenômeno marginal na vida humana, que além de ser voltada para ele, é dependente dessa interação. Maus e doenças podem ser as exceções de tal regra, mas o são justamente por se tratarem de malefícios que quebram a naturalidade sociável da Humanidade: isolamentos drásticos da sociedade não são acompanhados de alterações cerebrais à toa.

Porém, não se trataria da utilidade e da eficácia do grupo, da colaboração e do ganho próprio que norteariam e dariam significado à coletividade, sempre em referência perpétua ao indivíduo?

Se crermos que o indivíduo sempre terá a ênfase sobre a espécie, ou seja, sempre sendo o determinante-mor de toda característica social, devemos não aceitar a interação social como um fenômeno em si, que delinearia as práticas humanas. Não é de todo mal deixar a explicação absolutamente coletiva de lado, uma vez que, mesmo em termos descritivos — como já demonstraram Aristóteles e a Escolástica medieval — a espécie só pode se dar por indivíduos, nunca se manifestando no coletivo em si; depende sempre de individualidades que, em forma, representariam em sua soma uma espécie. Ocorre que o próprio conceito de indivíduo denota particularidades próprias, em suas somas, àquele único ente que compõe a espécie. Todas as pedras são pedras, mas nenhuma pedra jamais é igual a outra, mesmo que seja nas diferenças básicas das partículas atômicas que as compõem.

Espécie”, “coletivo” e “sociedade” não são palavras sinônimas, todavia, servem para demonstrar algo que une esses termos: a multiplicidade e, ao mesmo tempo, a unidade formal necessária para serem conceituados. Negar o múltiplo pelo individual por conta da característica particular na sociedade seria o mesmo que negar a formalidade física em nome da particularidade dos corpos sensíveis, pois a essência do argumento se aplicaria a ambos os exemplos.

O que falo acima remete a um caráter quase descritivo do cosmo e suas ordens à nossa volta. Apliquemos, então, à humanidade.

interação não pode ser um fim em si mesma, isto é, absoluta e sem precedentes, mesmo que tenha o peso de um fenômeno em si, pois depende da individualidade para ser concretizada; porém, o indivíduo não se comporta como um átomo independente, necessitando da interação com o social para se manter na sanidade, mas também para enriquecer, constituir família, estudar, etc. Então o que precede o quê?

Esta tensão entre as particularidades individuais, junto à vontade do indivíduo, e as interações que formam a sociedade não tem solução, pois ela é fruto da própria existência da sociedade, isto é, do grupo, da força comunitária, e até da espécie, sobre o indivíduo, que pode, em suas particularidades, destoar de convenções e realidades que conceituam uma multiplicidade. O Homem, acima de tudo, consiste em um ser consciente e que tem a potência de delimitar, ou não, suas ações. Pela razão, ou pela intuição e indução simples, ele pode optar por destoar da conjuntura social ou biológica, mas ainda assim se vê preso á ela. Alguém pode escolher se autoflagelar, por exemplo, por vontade própria, por crer que é um tipo de ato que mereça, ou que a fará melhor, contudo, bate de frente com características biológicas que afastam o Homem da dor e dos ferimentos, assim como aquele que faz algo contra a sociedade a que pertence afasta as convenções que aquele determinado grupo possui.

Levar a particularidade como precedente da formalidade é admitir que as interações são impossíveis, pois não haveria um tecido formal moldando cada particular em um geral, cada pessoa em um grupo, cada relação em uma sociedade. Em termos evolutivos, viemos de animais totalmente dependentes da sociedade, em questões evidentes; dependemos exclusivamente de uma formação grupal para a criação ser possível, a família. A multiplicidade do grupo, da espécie e da sociedade está em nós tanto quanto a particularidade de nossas vontades e crenças. Sem isso, seríamos apenas átomos, mas átomos humanos não existem, como já posto acima, além de exceções bem específicas.

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Hiago Rebello

Hiago Rebello

Graduado e Mestrando em História pela Universidade Federal Fluminense.

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