19 de fevereiro é o dia da segunda Batalha dos Guararapes. O trecho que segue abaixo consta das páginas 36 e 37 de meu livro “Os Fundadores – O projeto dos responsáveis pelo nascimento do Brasil”:

“Dividida em dois confrontos, o primeiro entre 18 e 19 de abril de 1648 e o segundo em 19 de fevereiro de 1649, ela foi o embate mais memorável entre as forças do Reino Português e as forças holandesas, travado para expulsar estas últimas do território pernambucano.

O motivo para o seu realce reside não apenas em sua centralidade de importância para a retirada de cena dos holandeses da região; está na sua representatividade simbólica. Em Guararapes tombaram, lado a lado, além dos portugueses e holandeses, também, ingleses, franceses e poloneses, mas igualmente, e eis o mais relevante, negros africanos e índios tupis e tapuias.

Que de mais simbólico poderia haver que os principais grupos étnicos, as “três raças” do mito brasileiro descrito por autores como Roberto DaMatta, Darcy Ribeiro
(1922-1997) e Freyre, sacrificando sua segurança e suas vidas para expurgar um invasor? Ali havia um exército que, se não agia de outro modo que não em subordinação aos interesses portugueses, não era exclusivamente português, mas emblematicamente doméstico, local, por isso mesmo plural e nativista.

A Batalha de Guararapes é um símbolo tão poderoso de formação da nacionalidade brasileira, antes mesmo de essa nacionalidade existir conectada à concepção propriamente dita de um Estado nacional soberano, que foi entoada em prosa e verso, por exemplo, pelos sambas-enredo de uma tradicional escola de samba do Rio de Janeiro, o Império Serrano, em mais de uma ocasião.
Em 1968, os sambistas homenagearam “Pernambuco, o
Leão do Norte”, imortalizando na letra de sua canção “esta admirável página que o passado deixou” página que
“enaltece a nossa raça”.”