Carlos Lacerda, o varguismo e as Forças Armadas
“Em resumo e retrospectiva, o período de 1950 a 1957, basicamente, foi um período em que Lacerda, em certos diferentes episódios, sendo amplamente crítico do sistema político e das lideranças construídas pelo varguismo, militou por ações que eventualmente incluíam a pressão das Forças Armadas e, em maior quantidade, a desobediência à estrita regra da lei formal.
Tais posições foram expostas publicamente, sem a orquestração mais pronunciada de efetivas conspirações, como apelos de alguém que viveu um Brasil diferente, em que os herdeiros de uma ditadura prevaleciam na condução dos rumos políticos e a fragilidade de partidos e instituições fazia com que todos os governos e situações se iniciassem e apoiassem, de alguma forma, em bases militares que “moderavam” e “tutelavam” a configuração institucional frágil.
Vale recordar: Vargas chegou ao poder com a intervenção de 30, escamoteou as eleições de 34, deu o golpe de 37; saiu com uma “violência” institucional via ação armada em 45, o que permitiu a eleição de Dutra, sem que, no entanto, fosse o suficiente para completar o serviço, viabilizando a volta de Vargas ao poder em 50.
Sua queda se deu pelo suicídio, mas igualmente a crise de agosto se acirrou pela pressão militar pela sua saída e pela República do Galeão, diante da perspectiva caótica para o país.
Os herdeiros de Vargas novamente chegaram ao poder, em um cenário em que as reformas, inclusive esta gritante reforma das cédulas, não foram feitas a contento, e só tiveram sua posse garantida em consequência de outra “violência” institucional, a de Lott e Denys.
Não haveria praticamente qualquer força política em cuja trajetória a ação mais ou menos ostensiva das Forças Armadas para além do que se desejaria em uma democracia não tivesse tido impacto e, nesse sentido, talvez fosse um excesso anacrônico exigir de alguém que “jogasse o jogo” fora das regras reais.” (Lacerda: A Virtude da Polêmica, LVM Editora, p. 240-241)