Havel e a Revolução de Veludo
MARIAN L. TUPY*
N.E.: As cerimônias fúnebres oficiais de Václav Havel, figura central da ‘Revolução de Veludo’ na antiga Tchecoslováquia, em 1989, ocorreram nesta sexta-feira na catedral de São Vito, no Castelo de Praga. Havel teve ação fundamental para a queda do regime comunista totalitário em seu país.
O ex-presidente tcheco, que se tinha retirado da vida pública devido a problemas de saúde, morreu no último dia 18, aos 75 anos, em Hradecek, norte da atual República Tcheca.
Político e dramaturgo, Václav Havel foi o último presidente da Tchecoslováquia (1989-1992) e o primeiro chefe de Estado da República Tcheca, cargo que ocupou até 2003. [fonte: Agência Ecclesia]
Em depoimento para Podcast do Cato Institute, o analista político MARIAN L. TUPY fala sobre a figura desse importante líder tcheco:
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Em 1976 Václav Havel escreveu um manifesto contra o regime comunista divulgado no ano seguinte. Foi perseguido pelo governo e preso diversas vezes. No manifesto, Havel acusava o governo de desrespeito aos direitos humanos, às liberdades civis. Muito poucas pessoas tinham coragem de falar sobre o regime comunista, que era muito forte à época.
Em novembro de 89 o povo foi às ruas para protestar. Havel era, então, seu líder natural, o líder do movimento de oposição na Tchecoslováquia. Não houve necessidade de se buscar um interlocutor com o regime: Havel era a escolha óbvia. Foi ele quem negociou o tempo todo durante a transição do poder.
Olhando em retrospectiva, hoje sabemos que o regime comunista estava podre por dentro, não tinha muita intenção de lutar para se manter no poder. Mas o povo que foi às ruas em novembro de 1989, com Havel à frente, não sabia disso.
Ele mostrou extraordinário nível de coragem pessoal ao tornar-se líder desse movimento, falando toda noite publicamente, clamando para que as autoridades entregassem o poder. Poderia ser preso por traição e executado. Por isso, sua coragem tem um brilho maior.
Uma crítica que se faz a Havel é que no novo regime ele se opôs às reformas econômicas em seu país e nos outros do Leste europeu em geral. Ele queria que as reformas fossem muito mais graduais e não radicais ou por terapia de choque como acabou ocorrendo, mas Havel não era socialista. Ele entendia que seu país tinha que se tornar capitalista e abrir as portas para a concorrência de outros países, tinha que ter uma economia de mercado.
Havel tinha um apreço especial pela propriedade privada. Ele era de uma família muito rica. Em 1945, com a tomada do poder pelo regime soviético, os comunistas tiraram tudo de sua família. Ele entendeu, então, a injustiça da nacionalização e do distributivismo do Estado provedor. Havel era a favor da propriedade particular. No entanto, achava também que a reforma deveria ser mais gradual.
Hoje sabemos que os países que fizeram mais rápido a mudança tiveram maior sucesso, maiores taxas de crescimento, melhor distribuição de renda, instituições mais democráticas. Havel pode não ter sido um liberal como entendemos; talvez tenha sido um social-democrata, mas sempre foi a favor da liberdade de expressão.
* MARIAN L. TUPY é analista político do Centro para a Liberdade e Prosperidade Mundial, especialista no estudo da economia política da Europa e África Subsaariana.
Fonte: Daily Podcast, Cato Institute, em 21 de dezembro de 2011, às 07:06
TRADUÇÃO / EDIÇÃO: LIGIA FILGUEIRAS
Fonte da imagem: Wikipédia