Estamos olhando para a Depressão errada?
NCPA *
Para entendermos a atual estagnação econômica, as pessoas com poder de decisão estão cada vez mais olhando para a história econômica em busca de alguma orientação. Muitos fazem comparação imediata com a Grande Depressão entre 1929 e 1932 e apelam agora para a mesma solução keynesiana adotada na ocasião. Existem, no entanto, diferenças cruciais entre a atual crise financeira e a da Depressão, segundo Stephen Davies, diretor acadêmico do Instituto de Assuntos Econômicos [Institute of Economic Affairs], em Londres.
- Ao contrário dos anos 1930, não houve uma queda substancial dos preços em geral; na realidade, os preços em certos setores, tais como alimentos e combustíveis, dispararam.
- Enquanto na Grande Depressão a contração foi mundial e quase universal em seus impactos, a atual crise tem sido bem enfrentada por grande parte dos países em desenvolvimento, e a economia mundial, como um todo, continuou a crescer.
- O nível de desemprego é muito mais moderado agora do que foi na época.
- Até agora não houve o tipo de queda acentuada e sustentada no comércio mundial e na atividade econômica que aconteceu depois de 1930.
Isto indica que as comparações entre a atual crise e aquela são enganosas, e que a prescrição de soluções com base em sua eficácia na crise anterior é equivocada.
Em vez disso, os economistas devem mostrar aos responsáveis por decisões o que foi a “Longa Depressão”, que durou de 1873 a 1896, porque se assemelha muito mais à situação atual.
- A Longa Depressão foi provocada por um pânico financeiro mundial em 1873, que surgiu da explosão de várias bolhas especulativas, especialmente em ferrovias e imóveis.
- O nível de desemprego e a desorganização econômica da época estão muito mais alinhados com o que os Estados Unidos e a Europa Ocidental estão experimentando atualmente.
- As inovações tecnológicas contribuíram para a virada econômica: embora tenham beneficiado a sociedade como um todo, no longo prazo, seu decorrente aumento de eficiência criou a necessidade de um reajuste e uma evolução no mercado de trabalho que geraram perturbações no status quo.
Este último ponto é crucial na criação de políticas para a atual recessão. Os formuladores de políticas públicas devem evitar medidas drásticas e despesas fiscais significativas para combater o que parece ser uma escassez persistente da demanda. Ao invés disso, devem estabelecer comparações com a Longa Depressão e reconhecer a crise atual pelo que é: um realinhamento gradual do trabalho em resposta às inovações tecnológicas.
*NATIONAL CENTER FOR POLICY ANALYSIS
Texto na íntegra: Stephen Davies, “Are We Looking at the Wrong Depression?” Freeman Online, March 2012.
TRADUÇÃO: LIGIA FILGUEIRAS
Fonte da imagem: Wikipédia
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