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Sportswashing e investimentos em campeonatos de futebol

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O Manchester City, de Josep Guardiola, tem escrito a história. Em sete anos, o clube conquistou mais títulos do que nos 136 anos de sua história anterior. Foram 5 Premier Leagues, 4 Taças de Inglaterra, 4 Taças da Liga, 4 Comunity Shield e, em junho de 2023, finalmente conquistou uma Liga dos Campeões.

Naturalmente, isso teve um preço. Desde 2016, o City pagou cerca de 1,077 bilhão de euros (R$ 5,47 bilhões) somente pela compra de jogadores, segundo o Transfermarkt. Isso fora salários astronômicos e investimentos em infraestrutura.

A propriedade do Manchester City é o City Football Group, que possui laços estreitos com o governo dos Emirados Árabes Unidos. Mas por que um país investiria tanto dinheiro para formar um time de futebol vencedor?

Simples: sportswashing, que significa uma estratégia em que indivíduos, organizações ou até mesmo países utilizam o esporte como uma forma de desviar a atenção pública de suas ações negativas ou controversas, buscando melhorar sua imagem e reputação. É uma prática que envolve investimentos financeiros substanciais em eventos esportivos, equipes ou patrocínios, com o objetivo de projetar uma imagem positiva perante o público e a mídia.

O termo surgiu da combinação das palavras “sports” (esporte) e “whitewashing” (branqueamento), indicando a tentativa de “lavar” ou encobrir a verdadeira natureza das ações ou políticas questionáveis por meio da associação com o mundo do esporte, que muitas vezes é visto como um símbolo de valores positivos, como espírito de equipe, fair play e superação.

Países ou indivíduos envolvidos em sportswashingmuitas vezes buscam sediar grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo ou as Olimpíadas, com o intuito de atrair a atenção global e criar uma narrativa positiva em torno de si mesmos. Esses eventos são vistos como uma plataforma para a promoção de suas agendas políticas, econômicas ou sociais, e não necessariamente aos verdadeiros valores do esporte.

Certamente houve maior visibilidade e exposição internacional para o governo dos Emirados Árabes Unidos a partir dos investimentos realizados no Manchester City, juntamente com a ascensão do clube a um status de elite do futebol europeu.

O objetivo é melhorar a imagem no cenário internacional do país, desviando a atenção de diversas questões relacionadas aos desrespeitos aos direitos humanos do país. Isto é, o sucesso esportivo passa a concorrer com as restrições à liberdade de expressão, associação e reunião.

A legislação da Arábia Saudita limita a liberdade de imprensa e restringe a crítica ao governo. Além disso, ativistas políticos e defensores dos direitos humanos enfrentam prisões arbitrárias, perseguições e restrições às suas atividades.

Outra questão é a situação dos trabalhadores migrantes, que constituem uma parcela significativa da força de trabalho no país, com frequentes violações dos direitos trabalhistas, condições precárias de trabalho, confiscos de passaportes e restrições à liberdade de movimento desses trabalhadores.

No que tange aos direitos das mulheres, há restrições legais e sociais que afetam a igualdade de gênero, como a falta de proteções abrangentes contra a violência doméstica e a discriminação em algumas áreas, como herança e divórcio.Em última análise, o sportswashing representa uma tentativa de manipulação da imagem pública por meio da exploração do esporte. Quando você reflete quantos gols de Erling Haaland e assistências de Kevin de Bruyne você já viu e compara com quantas matérias já assistiu com relatos dos desrespeitos aos direitos humanos do país, fica claro que a estratégia dos Emirados Árabes tem sido bem sucedida.

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Luan Sperandio

Luan Sperandio

Analista político, colunista de Folha Business. Foi eleito Top Global Leader do Students for Liberty em 2017 e é associado do Instituto Líderes do Amanhã. É ainda Diretor de Operações da Rede Liberdade, Conselheiro da Ranking dos Políticos e Conselheiro Consultivo do Instituto Liberal.

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