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Alguém acredita que a intervenção estatal pode melhorar a saúde brasileira?

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Quando eu tinha 15 anos, isso em 1970, eu calculava que chegaria até os 60 anos com alguma facilidade. Essa era a média de vida do brasileiro. Meus avós já tinham passado dessa idade naquela época e eu acompanhava a evolução da medicina porque pensava em ser médico quando crescesse.

Na década de 60, inúmeras inovações se desenvolveram nessa área. Novos medicamentos, novas vacinas, novas tecnologias para o diagnóstico e tratamento de moléstias. Entre todas elas, a que mais me impressionou foi o primeiro transplante de coração feito pelo cirurgião sul-africano Christiaan Barnard, em 1967. Lembro ter assistido na TV a notícia com uma das minhas tias. Eu, então com 12 anos, tentava explicar para ela que o coração era apenas um músculo, que o “espírito” da pessoa não ia junto com o órgão. Eu ficava me perguntando, como alguém não entende o que é a mente, como alguém pode acreditar em alma extracorpórea, como não entendem que corpo e mente são coisas diferentes mas indivisíveis e que a mente é uma função do cérebro e não do coração.

Naquela época, quando imaginava como seria a minha vida aos 60 anos, em 2015, eu achava que teríamos uma evolução tecnológica muito grande. No entanto, eu jamais imaginei que vivêssemos uma situação política e econômica tão decadente, com tanta violência, corrupção e injustiça. Injustiça de verdade, produzida por isso que chamam de “justiça social”, que tratam como se justiça fosse. É chocante ver que uma parte da população, na qual me incluo, pode sonhar em viver até os 85, 90 anos, com ótima saúde motora e mental e que há uma outra parte, formada pela imensa maioria da população, que vive mais do que se esperava viver na década de 60 e 70, mas vive mal, se compararmos com países mais desenvolvidos que o nosso.

Parando para pensar, me parece óbvio que a culpa desse desarranjo deve-se à banalização da saúde que, ao ser oferecida gratuitamente à população, exacerba a demanda por recursos escassos e caros como se eles fossem abundantes e sem custo. Como os recursos não são nem abundantes, nem gratuitos para serem oferecidos sem cobrança alguma, como não há uma relação direta entre quem demanda e quem oferece, o sistema de preços, instrumento regulador da alocação de capital e promotor do equilíbrio entre a oferta e a demanda, não funciona.

Além disso, não há no sistema público de saúde a correta relação entre o paciente e o médico pois, entre eles, há um intermediador, o governo, que em vez de facilitar essa relação através do uso da razão, com base nos princípios de mercado, das trocas voluntárias, dificulta, pois intermedia com base no seu poder coercitivo, na força de seus músculos desprovidos de mente, submetendo tanto quem oferece o serviço, como quem o demanda, tratando-os como se fossem escravos, incapazes dependentes.

Aquela visão mística da minha tia, quando ela imaginava que os sentimentos de alguém seriam transplantados junto com o coração, é a mesma visão mística dos que fazem a gestão pública. Acham que algo que só pode se desenvolver a partir da mente livre e independente dos que atuam na iniciativa privada, respaldada por adequados incentivos como o sistema de preços, de lucros e prejuízos, possa ser transplantado para um organismo que funciona como um músculo, que desconhece o que é cooperação voluntária, vantagem competitiva e ordem espontânea pois vive exclusivamente do uso da força, amparado pelo que se convencionou chamar de poder público com o indecifrável objetivo do bem estar social.

Não há como um músculo fazer uma mente funcionar, é preciso de cérebros treinados e motivados, agindo livremente em busca do autointeresse, criando, produzindo e oferecendo soluções para problemas presentes e futuros daqueles que demandam e pagam por tais soluções. Do jeito que a saúde no Brasil vem sendo estatizada e socializada, da maneira disfuncional que ela é gerida pela inexistência de um livre-mercado que possa submeter as relações sociais à racionalidade, não seria de estranhar se, apesar de toda evolução tecnológica da medicina, a longevidade e a qualidade de vida do brasileiro médio começarem a regredir. Quando isso ficar evidente para todos, se ainda não é, podem culpar médicos e políticos. Médicos por abdicarem de suas mentes, de seus propósitos de vida e se deixarem escravizar pelos políticos que para garantirem que seus propósitos de vida se realizem abdicam do uso da razão, abrem mão de suas mentes, para usarem os músculos como se eles pudessem pensar.

Para poupar o meu tempo e o de vocês, substituam no texto, hospitais por escolas, medicina por conhecimento, médicos por professores, pacientes por alunos, e o quadro deprimente da educação brasileira também estará explicado.

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Roberto Rachewsky

Roberto Rachewsky

Empresário e articulista.

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