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Devemos nos preocupar com esse tal “rombo” nas contas externas?

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A primeira coisa que chama a atenção nesta notícia é o uso da expressão “Rombo”. O problema de toda essa conversa sobre déficit em transações correntes é que pouca gente parece saber o que é, o que significa ou o que exatamente o causa.

O mais importante é que um déficit nas contas com o exterior não tem nada a ver com déficit orçamentário e pouco afeta as contas do setor público. E essa é uma das razões pelas quais essa conta não é muito útil. O dito “rombo” nas transações correntes é apenas uma identidade contábil, não uma dívida ou uma obrigação que precisa ser paga. Os lançamentos que geralmente ocasionam tal resultado são provenientes (ou pelo menos a imensa maioria deles) de transações entre entes privados (pessoas e empresas). Por conseguinte, os ônus e os bônus dessas transações são regidos e suportados por instituições privadas. Assim como ninguém tem nada com as dívidas de empresas privadas (exceto os donos dessas empresas e aqueles com quem elas negociam), não somos responsáveis, direta ou indiretamente, pelas transações que determinam os números desse tal “rombo”, a menos, é claro, que o governo resolva interferir no livre jogo dos mercados.

O segundo ponto a destacar está no subtítulo da matéria: a informação de que, no mesmo período, o saldo de investimento estrangeiro no país foi de 78,5 bilhões de dólares, suficiente para compensar, com folga, o tal ‘Rombo’.

Do que pouca gente se dá conta, especialmente aqueles agarrados a nomenclaturas e princípios contábeis mercantilistas, é que os saldos dessas duas variáveis estão sempre correlacionados de forma inversa.

O Brasil é um país de poupança doméstica muito baixa para os padrões de países em desenvolvimento. A necessidade de recursos para investimentos é, portanto, em boa medida, suprida por capitais externos, na forma de “investimento Direto Estrangeiro” (IED). E agora vem o mais importante: quanto maior esse investimento, maiores serão as necessidades (presentes e futuras) de remessas de lucros, aluguéis, royalties e juros para o exterior – itens que são os principais componentes do famigerado “Rombo” em transações correntes.

Reparem pelo gráfico constante da própria matéria que, nos anos de 2016 e 2017, período em que o país enfrentou uma de suas piores recessões de todos os tempos, o tal ‘rombo’ nas contas externas foi bem abaixo dos padrões, sem que isso tenha melhorado em nada os nossos problemas. Ou seja, os tais “rombos”, longe de representar uma ameaça ao crescimento do país, provavelmente são benéficos a ele, na medida em que trazem investimentos para o país.

Enfim, não há por que se preocupar com essa contabilidade das contas externas do setor privado, nem tampouco ficar choramingando porque o seu resultado foi negativo. Muito menos ainda culpar o baixo superávit da balança comercial pelo não problema…

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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