Como começou o povoamento do Brasil
MARIO GUERREIRO *
De modo geral, os europeus foram grandes povoadores das terras descobertas por eles.
É conhecida a história do Bounty, o navio inglês enviado à Austrália, no século XVII, com a importante missão de levar para a Inglaterra mudas de fruta-pão, para suprir a carência de pão na alimentação dos súditos de Sua Majestade.
Uma idéia que contrariava totalmente as condições climáticas, uma vez que essa árvore da família das Moráceas não resistiria ao frio do norte da Europa…
Mesmo assim, eles encheram o navio de mudas e estavam fazendo a longérrima viagem de volta quando ocorreu um pequeno problema. As mudas tinham de ser constantemente regadas e a água estava ficando bastante escassa.
Fiel súdito de Sua Majestade, o severo Capitão Bligh não teve dúvida: racionou a água dos marinheiros para que não faltasse esse líquido vital para as mudas reais.
Com o grande calor do Oceano Índico, os marujos estavam ficando com suas gargantas secas e vendo os jardineiros reais dar a tão desejada água às plantas todo santo dia à mesma hora.
Eles não suportaram mais aquela situação cruel e angustiante: amotinaram-se, tomaram conta do Bounty e puseram o severo Capitão Bligh e seus oficiais num escaler no meio do oceano.
Por incrível que pareça, eles foram resgatados por outro navio inglês e chegaram vivos à Inglaterra.
Capitão Bligh foi diretamente a um tribunal da British Royal Navy, para denunciar os marujos amotinados. Quanto ao Bounty, não se teve mais notícias dele.
Muitos anos mais tarde, outro navio inglês chegou à Ilha de Pitcairn, completamente isolada no extremo sul do Oceano Índico. Ao aportarem naquele fim de mundo, duas coisas os deixaram perplexos.
Os nativos falavam uma língua que – tal como o American English – se parecia muito com o inglês e havia, entre eles, muitas crianças lourinhas de olhos azuis…
Foi aí que descobriram onde tinha aportado o Bounty. It goes without saying: A ilha tinha sido povoada pelos marinheiros ingleses.
Mas há muitas outras “histórias históricas” mostrando como os europeus foram grandes povoadores…
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Como se sabe, o Brasil foi povoado a começar pela Bahia, onde se instalou o primeiro Governo Geral de Tomé de Sousa. Como a população de Portugal era muito pequena, o rei tinha grande dificuldade em povoar a nova terra.
Os primeiros colonos portugueses vinham para Pindorama – Terra das Palmeiras, segundo seus nativos – mas não traziam esposas nem famílias, diferentemente dos Peregrinos do Mayflower, que vieram para a América em 1620 com suas famílias e com a intenção de se fixarem no Novo Mundo.
Tal como os decasséguis que há pouco tempo iam do Brasil para o Japão, os portugueses esperavam fazer um bom pé-de-meia e voltar, o mais breve possível, para sua Santa Terrinha.
Sendo assim, como era de se esperar, os colonos satisfaziam suas necessidades libidinosas com as índias. E mais tarde, com as escravas negras.
Dizem relatos da época que eles viviam como verdadeiros califas e sultões. O menor dos haréns tinha no mínimo uma dúzia de índias.
Só não sabemos como eles conseguiam administrar as diferenças entre elas, como faziam e ainda fazem hoje os fiéis de Allah…
No entanto, juntamente com eles, vieram também indivíduos celibatários, que os filhos de Pindorama costumavam chamar de “homens de preto” – nenhuma alusão aos men in black do famoso filme.
Eram os padres e estes, diferentemente do rei de Portugal, não estavam interessados na povoação do Brasil a qualquer preço, mas sim na catequese dos silvícolas custasse o que custasse.
Porém, isto somente ocorreu após longa e tortuosa controvérsia teológica em que os jesuítas conseguiram convencer o Papa de que, apesar de algumas tribos serem antropófagas – tanto que, entre outros, os tupinambás comeram o virtuoso bispo Sardinha – os silvícolas eram humanos, tinham alma.
Não podiam, portanto, ser usados como burros de carga, mas podiam ser convertidos em bons cristãos.
Mas o método do rei de Portugal não era senão uma versão do método daquele rei da Inglaterra: Fornication Under the Consent of the King…
Os padres ficaram tão horrorizados com aquela grande promiscuidade que comunicaram o que estava acontecendo ao Papa. Este, por sua vez, ficou tão indignado que estava pensando em excomungar os colonos portugueses.
É escusado dizer que, para um católico, na época, a excomunhão era coisa pior do que a morte e a impotência.
Dom Manuel da Nóbrega, conhecido em seu tempo por sua grande verve e seus notáveis dons retóricos, foi enviado a Roma, de modo a tentar dissuadir o Sumo Pontífice a decretar a excomunhão. E tudo indica que ele cumpriu sua missão…
Mas os reis de Portugal não abandonaram a idéia de povoar o Brasil a qualquer custo, mesmo que tivessem que fazer vista grossa para o que estava acontecendo com as ingênuas e indefesas índias.
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Eis a prova disso: um documento histórico retirado do fundo do baú!
Sentença de 1587- Trancoso, Portugal
Fonte: Arquivo Nacional da Torre do Tombo
SENTENÇA PROFERIDA EM 1587 NO PROCESSO CONTRA O PRIOR DE TRANCOSO
(Autos arquivados na Torre do Tombo, armário 5, maço 7)
“Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguído e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos; de cinco irmãs teve dezoito filhas; de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas; de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas. Total: duzentos e noventa e nove, sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e três mulheres”.
Não satisfeito tal apetite, o malfadado prior dormia ainda com um escravo adolescente de nome Joaquim Bento, que o acusou de abusar em seu vaso nefando noites seguidas quando não lá estavam as mulheres. “Acusam-lhe ainda dois ajudantes de missa, infantes menores que lhe foram obrigados a servir de pecados orais, completos e nefandos, pelos quais se culpam em defeso de seus vasos intocados, apesar da malícia exigente do malfadado prior.”
Pelo que se viu, esse prior de Trancoso superou o famoso Alfredão! Mas agora vem a razão ou desrazão, para o rei ter concedido um indulto ao réu condenado…
“El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou pôr em liberdade aos dezessete dias do mês de Março de 1587, com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo e, em proveito de sua real fazenda, o condena ao degredo em terras de Santa Cruz, para onde segue a viver na vila da Baía de Salvador como colaborador de povoamento português. (o grifo é meu). El-rei ordena ainda guardar no Real Arquivo esta sentença, devassa e mais papéis que formaram o processo”.
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Como vemos, a grande fornicação no Brasil começou na vida colonial na Bahia. O poeta maldito Gregório de Matos – conhecido na época como a Boca do Inferno – fornece em seus versos ultraobscenos, porém fortemente realistas, uma prova disso.
Não causa espécie, portanto, a existência hoje de milhares de indivíduos incestuosos que são pais e avôs das mesmas crianças frequentemente deixadas ao Deus-dará…
É urgência urgentíssima o governo do PT criar uma bolsa infante excluído pelos pais, assim como uma bolsa dos adultos excluídos das fartas tetas da Viúva.
E é por isso que, em Terra Brasiliensis, costumam ser confundidos até hoje alhos com bugalhos: filosofia liberal com ideologia do liberou geral, liberalismo com libertinismo.
A recente marcha contra a corrupção, com sua meia dúzia de gatos pingados, só terá um forte impacto social quando se transformar em marcha gay contra a corrupção.
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* Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade.
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