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Cobertura criminosa

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jornalista-máfiaJá na terça-feira seguinte ao segundo turno das eleições ficou perceptível uma mudança de postura de diversas correntes oposicionistas da nossa própria política partidária. Mais digna de nota do que partidos ou deputados, porém, foi a demonstração popular de 1º de novembro.

Houve manifestações menores em diversas cidades e estados do país, mas a principal, que ocorreu na Avenida Paulista, com a presença de figuras conhecidas nos meios liberais e conservadores – como o candidato libertário Paulo Batista, célebre por seus vídeos criativos de campanha, o cantor Lobão, o jornalista e político Paulo Eduardo Martins, e o deputado eleito Eduardo Bolsonaro -, chamou a atenção pelo volume e, principalmente, pela tranquilidade com que transcorreu. Vandalismo, violência e quebra-quebra não deram as caras para pautar os noticiários e comentários mal-intencionados. Os manifestantes clamavam por aprofundamento nas investigações do escândalo do Petrolão e um eventual impeachment de Dilma Rousseff.

Nada que se possa dizer que não estivesse no direito da população, embora a esquerda, ela mesma acostumada a grandes eventos clamando pela derrubada de candidatos eleitos, queira atribuir a esses gritos a pecha de “golpismo”. As consequências de tudo isso temos que esperar para ver.

No entanto, alguns cartazes isolados pediam “intervenção militar”. Refletir sobre a oportunidade de um pedido como esse é certamente necessário, diante do risco que isso oferece ao movimento como um todo. Parte da imprensa, lamentavelmente, rotulou toda a manifestação a partir desse pequeno grupo, tratando-a como uma reedição das marchas populares que pediam ação militar em 64 – o que se tentou, diga-se de passagem, por volta de março, foi um fracasso e nada tem a ver com o que está sendo feito agora.

O propósito aqui é denunciar como a cobertura desses segmentos da mídia, quase sempre muito criticados por socialistas e “esquerdistas caviar”, prestou um extremo desserviço, que se poderia sem exagero taxar de criminoso, ao movimento antipetista.  O caso da Folha de São Paulo, uma das primeiras a noticiar o evento, já foi exaustivamente dissecado por vários articulistas: no próprio corpo das matérias, nenhuma contextualização dos discursos proferidos sobre o carro de som pelos organizadores, evidentemente afastando a ideia de pedir às Forças Armadas um golpe de Estado.

Temos em mãos, no entanto, o jornal O Dia, de grande circulação. Que encontramos? Na edição de segunda-feira, 3 de novembro, uma coluna, logo na página 2, assinada por Fernando Molica, traz já no título: “Os tucanos e a pregação do golpe”. Molica conclama as principais lideranças do PSDB a se manifestarem contra as passeatas que reivindicam o “fim da democracia”. O teor, como se vê, é totalmente negativo, mas Molica ao menos concede que, apesar de “esquisito”, o clamor por impeachment é aceitável em um esquema democrático, no afã de fazer “pressão sobre os adversários”. Reconhece que o PT também já gritou contra Collor e Fernando Henrique Cardoso.

Nem isso se pode dizer do editorial da publicação, na página 14, intitulado “Chororô de perdedores não abala democracia”. O texto começa dizendo que “um pequeno grupo ocupou a Avenida Paulista” para promover “uma manifestação descabida de contestação à reeleição da presidenta da República. Entre outros despropósitos, alguns pregavam o fim do regime democrático e intervenção das Forças Armadas”.

O jornal comemora o fato de que, a despeito disso, o Brasil seria hoje um regime democrático consolidado, em que seria um crime o povo duvidar da lisura do próprio processo eleitoral – que deve servir a esse mesmo povo, como bem apontou Reinaldo Azevedo em coluna desta semana, e não às autoridades e ministros -, que se firmou como “potência econômica e política respeitada e ouvida no cenário mundial” (é o mesmo anão diplomático de que fala a desenvolvida nação de Israel?) e seria exemplo para o mundo “em vários aspectos”, como no “combate à miséria”. O jornal acrescenta, pasmem, que “toda a América do Sul passa por processo inédito de longevidade da democracia, com grupos de diferentes vertentes ideológicas disputando, pelo voto, a conquista do poder”. Ora, certamente a equipe editorial de O Dia vive no país imaginado nas campanhas de marketing do partido governista e no continente imaginado pelo assessor de Assuntos Internacionais do PT, Marco Aurélio Garcia – que finge não ver eleitores ameaçados com chicote na Bolívia e a calamidade pública da Venezuela chavista.

O desplante vai além. O Dia acusa as manifestações do “pequeno grupo” – cerca de 2.500 pessoas, segundo a maioria dos jornais; 5000, de acordo com o Jornal da Gazeta – de provocar “transtornos” ao trânsito, e de serem apenas um esperneio de quem foi derrotado nas urnas, não tendo suas teses respaldadas pela sociedade. Seriam as manifestações de junho de 2013, iniciadas pela esquerda, tratadas com tão pouca consideração? Quem pedia a queda de Alckmin, Sérgio Cabral e Eduardo Paes não estava apenas “esperneando por não ter suas teses respaldadas democraticamente”?

Acusou ainda um “deputado recém-eleito, membro de uma família tradicional na política”, que participou do evento, de “pedir o fim do direito de voto”; certamente se referem a Eduardo Bolsonaro, que discursou pedindo pressão pelas investigações do escândalo da Petrobras, e nada mais do que isso.

Parece que a equipe do jornal O Dia vive no país da propaganda do PT, em um mundo maravilhoso onde o bolivarianismo transformou a América Latina em uma espécie de Jardim do Éden, e quem conteste isso é necessariamente um lambedor de botas de Costa e Silva ou Médici. Mais; apesar de estarmos falando de um editorial, onde os profissionais da imprensa e convidados têm o direito de expor opiniões e subjetividades, não é possível que se considere normal distorcer fatos tão desavergonhadamente nesse espaço. Que se considere normal, aliás, que haja um silêncio quase total diante desse absurdo. Oxalá chegue o dia em que esses editoriais estejam reconhecendo a luta dos verdadeiros democratas pelo direito deles de expressar opiniões – o que não é exatamente uma ideia bem quista pelo pessoal da “regulação da mídia” com que estão sendo tão condescendentes.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

Um comentário em “Cobertura criminosa

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    06/11/2014 em 3:27 pm
    Permalink

    Ora, ninguém se constrange ao pedir INTERVENÇÃO POLICIAL contra os maníacos do nacional Socilalismo. Ou será que estes democratas apoiam que estes Nacional-Socialistas saiam por aí preconizando o ÓDIO de RAÇAS da mesma forma que defendem e apoiam o democratico direito dos Bolcheviques-Socialistas e maoístas-Socialistas de pregarem o ÓDIO de CLASSES???

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