“Ciência Sem Fronteiras”
MARCUS VINÍCIUS DE FREITAS *
O Governo Dilma Rousseff lançou, há pouco tempo, o Programa Ciência Sem Fronteiras. Trata-se de uma iniciativa muito importante e de extrema relevância para o Brasil. É uma pena que esteja com mais de 40 anos de atraso.
O Programa se baseia nos exemplos de Taiwan, China, Coreia do Sul e Japão, países que, diante da sua anterior baixa performance acadêmica, optaram por terceirizar, ainda que temporariamente, a formação de seus quadros nas universidades de melhor qualidade no mundo. Oitenta por cento destas, invariavelmente, encontram-se em países anglo-saxônicos, particularmente nos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Austrália.
O modelo anglo-saxônico de educação, baseado na flexibilidade e atualização constante dos currículos, apresenta algumas peculiaridades. Grandes fundações, idealizadas por filantropos e outras instituições, de natureza religiosa ou secular, administram as instituições, de modo competitivo, a fim de atrair os melhores cérebros de todas as partes do mundo. Neste sentido, o prestígio das universidades se baseia na alta qualidade de seu quadro docente, além de uma preocupação constante com a empregabilidade dos alunos que, ao final, carregarão a marca da instituição aos quatro cantos do globo, formando uma rede generosa, que contribuirá, por meio de doações ou até mesmo do envio de seus filhos e netos, à sua Alma Mater. Daí a importância de se criar um apego ao prestígio da instituição e da sua reconhecida qualidade acadêmica. Os esportes também desempenham um papel importante como forma de criar esse apego. No entanto, as instituições de maior prestígio, conhecidas como Ivy League[1], não oferecem bolsas para esportistas.
Caberia fazermos uma análise aprofundada dos motivos pelos quais os países anglo-saxônicos lograram construir um sistema universitário de elevada qualidade e, na medida do possível, buscarmos reproduzir aqui, senão o todo, pelo menos uma grande parte, no sentido de aperfeiçoarmos o nosso processo de formação superior. Para a 6ª maior economia do mundo, a classificação de sua melhor universidade como 169ª é incompatível com as necessidades e desafios futuros do País.
A ideia do Ciência Sem Fronteiras é, portanto, muito boa. O problema está nos detalhes da implementação, se não realizarmos os devidos ajustes para que os profissionais treinados no Exterior não se frustrem ao retornar ao Brasil e encontrar aqui barreiras como a dificuldade no reconhecimento de seus títulos estrangeiros, a questão da isonomia salarial e também os entraves burocráticos criados das instituições de ensino superior que necessitam ser adaptadas à competitividade do mercado internacional. Além disso, as universidades públicas precisam adaptar-se às novas realidades e deixarem o ranço que lhes é peculiar, também como influência direta da nossa base universitária, que foi a França, que já não é referência de excelência, há algum tempo, tão forte como foi no passado. Além disso, é importante ampliar o programa para outras áreas ainda não contempladas, como Relações Internacionais, Direito e outras áreas de humanidades.
Perderemos estudantes que optarão por ficar nos países onde forem estudar? Sim. Isto é ruim? Absolutamente não. Por mais que fiquem alguns, o vínculo estará sempre presente com o Brasil. Além disso, esses estudantes servirão como efetivos embaixadores do Brasil no Exterior. Os que retornarem poderão, efetivamente, se existirem as condições, ajudar na melhoria da qualidade profissional e educacional do País.
O Programa funcionou bem em outros lugares. Recordo-me de ter ouvido, em 1995, o Presidente Lee Teng-hui, da República da China (Taiwan), que estudara em Cornell, dizer que seu país tinha, na ocasião, mais de 80 mil estudantes, nas mais variadas áreas, totalmente financiados pelo seu governo, estudando nos Estados Unidos. Sua aposta era que Taiwan se transformaria num celeiro de inteligência. Pelos resultados apresentados, a aposta dele estava correta.
Resta-nos torcer para que façamos um programa decente, vencendo os entraves e que funcione bem aqui. O impacto desta revolução nos fará melhorar, em muito, a qualidade de nosso ensino superior. E isto é fundamental!
* Professor de Direito e Relações Internacionais, FAAP