A Síria e os EUA
LIGIA FILGUEIRAS*
Não armem os rebeldes da Síria. É o que propõe Malou Innocent, analista para política externa do Cato Institute. Com o número de mortes passando de 5 mil, e a série de imagens transmitidas pela TV e internet que revelam um verdadeiro banho de sangue na Síria, começam a se ouvir apelos em Washington para que os EUA passem a armar os grupos revoltosos. Essa não é a melhor opção para os americanos, segundo Malou Innocent. No artigo Don’t Arm Syria’s Rebels, a especialista em Oriente Médio e Golfo Pérsico cita alguns pontos importantes:
- Em comparação com outras alternativas, como a de uma zona de exclusão aérea liderada pela OTAN, essa parece ser antisséptica. Armar os rebeldes só irá agravar a situação, sem que se encontre um meio de se estabelecer um estado final de paz. Ainda que intragável, a opção mais prudente para os EUA no momento é conter-se. O quadro é bastante complicado. A começar pelo fato de que não há um grupo de resistência claramente identificável para o qual os americanos possam fornecer armas.
- O Conselho Nacional da Síria, com base no exílio, busca o reconhecimento do Ocidente, mas estima-se que pretenda monopolizar o levante.
- A Irmandade Muçulmana síria diz que está aberta à intervenção estrangeira, dando preferência à da Turquia muçulmana. Entretanto, uma grande parcela de curdos sírios vê a Turquia como uma ameaça fundamental.
- Fortalecer o poder de fogo da resistência vai polarizar o país e o provável é que, entendendo o apoio aos rebeldes como mais uma intervenção dos EUA, aliados a Israel e outros países do Golfo, as elites sunitas em Damasco e até a relativamente calma Aleppo correrão para Assad, reforçando seu apoio, ao invés de enfraquecê-lo.
- As armas já chegam de várias fontes para apoiar facções diversas. Por isso, entrar com armas americanas agora nem de longe irá acalmar o país.
O que Washington pode fazer de melhor, segundo Malou Innocent, é capitanear a oposição internacional ao regime de Assad – o que já vem sendo tentado – e incentivar deserções de membros do regime, com a promessa de reassentamento e anistia. Outra ação importante é a proteção dos direitos das minorias.
Veja o artigo na íntegra em inglês em Don’t Arm Syria’s Rebels.
Outros artigos sobre a Síria, assinados por analistas do Cato:
- Libya Begets Syria?, de Christopher Preble
- The Hubris of Attacking Syria, de Doug Bandow
Cinco dias atrás a CNN publicou a última entrevista da jornalista Marie Colvin, que cobria o levante na Síria. Ela é agora mais uma vítima dessa violência. Segundo a Wikipédia, Colvin cruzou ilegalmente a fronteira da Síria, na parte traseira de uma motocicleta, devido às tentativas do governo sírio de impedir os jornalistas estrangeiros que cobrem o levante. Colvin estava no bairro ocidental de Baba Amr da cidade de Homs, e fez sua última transmissão na noite de 21 de fevereiro, aparecendo na BBC, Channel 4, CNN e ITN News por telefone via satélite. Ela descreveu um “impiedoso” bombardeio indiscriminado e ataques de franco-atiradores contra prédios civis e pessoas nas ruas de Homs pelas forças sírias.
Graças a Colvin e outros corajosos correspondentes, o mundo passou a saber o real estágio do conflito. A esperança de Colvin era a de que, ao menos pelas imagens, outros países venham a se solidarizar com o povo sírio e a se empenhar na busca de alternativas para a paz na região.
Veja em Global meeting on Syria faces pressure.
* EDITORA DO IL
Fonte: Cato Today, Cato Institute, 27.02.2012. Wikipédia.
Ref. da imagem: Wikipédia