fbpx

A posição conservadora sobre a Síria

Print Friendly, PDF & Email

ALEXANDRE BORGES *

A imprensa brasileira, no geral, não tem a menor ideia do que é o pensamento conservador americano, que representa pelo menos metade do eleitorado do país, e nem quer ter.

Como normalmente nossos correspondentes e analistas só leem jornais radicalmente apoiadores do Partido Democrata como o New York Times e o Washington Post, suas opiniões de segunda mão representam caricaturas levianas e falsas sobre o que defendem os conservadores em qualquer assunto. Em relação à Síria, evidentemente, o padrão se repete.

Alguns membros do Partido Republicano, como os senadores John McCain e Lindsay Graham, estão apoiando Obama, como era de se esperar. Eles fazem parte de uma minoria adesista do partido que dificilmente se opõe a qualquer coisa que venha da Casa Branca, o que faz com que tenham o apelido nada elogioso de RINOs (“republicans in name only”, ou “republicanos apenas no nome”).

No geral, o sentimento dos políticos e comentaristas conservadores é contrário à intervenção. Fiz uma rápida compilação das opiniões mais relevantes que tenho ouvido nos principais programas da TV americana para que vocês tenham acesso direto ao que pensam, sem filtros:

Senador Marco Rubio (R-FL):

“Qual é o objetivo da intervenção, impedir novos ataques de Assad com armas químicas? Quem garante que esse objetivo será alcançado? O próprio John Kerry diz que Assa usa armas químicas por uma questão de sobrevivência e que nós vamos apenas mandar mísseis de longo alcance por dois ou três dias. Não me parece que Assad vá largar o poder apenas por causa disso ou parar de usar as armas.

Se Assad cai de um dia para o outro, o país será mergulhado no caos, não há saída positiva no curto prazo para esse problema. A situação chegou a esse ponto porque Obama não fez nada durante todos esses anos para combater a entrada dos rebeldes islâmicos ligados à Al Qaeda. Muitos desses rebeldes nem sírios são, eles invadiram o país para tomar o poder.”

Senador Rand Paul (R-KY):

“Não há motivo para os EUA se envolverem na guerra civil da Síria. É um erro e acredito que o Congresso negará a autorização, apesar de John Kerry não garantir que não irá de qualquer jeito, mesmo que o Congresso negue a autorização.

Quem garante que bombardear Assad irá diminuir o uso de armas químicas no conflito? Bombardear a Síria gerará uma fuga em massa de refugiados para os países vizinhos e não vi ninguém até agora se preocupar com isso. Gente está morrendo, mas bombardear a Síria vai diminuir o número de mortes ou a guerra pode sair do controle?

Qual é o interesse americano nesse conflito? A oposição islâmica na Síria é aliada dos EUA? Assad não é nosso aliado, mas ele está há anos protegendo os cristãos do país contra os islâmicos.

Obama cometeu um grave equívoco quando falou da “linha vermelha que não se pode cruzar” e agora quer que o país livre a sua cara cometendo um erro para justificar outro erro anterior.

Esse governo sugere bombardear Assad para enfraquecer o regime e fazer com que ele negocie de forma mais equilibrada com a oposição. Nós vamos mandar nossos filhos para uma guerra para melhorar uma negociação interna na Síria? Vamos lutar quando for preciso, mas acho que John Kerry esqueceu o horror da guerra e só deveria falar nisso quando tivéssemos um objetivo claro a alcançar.”

Dick Morris, analista político:

“Com esse bombardeio, os EUA se tornarão oficialmente a força aérea da Al Qaeda. Sou radicalmente contra essa intervenção. A oposição à Assad é a Al Qaeda.

Vejam o que aconteceu no Iraque, onde mandamos milhares de jovens para a morte e hoje temos um aliado do Irã no poder. É muito triste o que está acontecendo no Iraque agora, especialmente com dissidentes do regime iraniano que prometemos refúgio e asilo no Iraque e agora estão sendo mortos dentro das áreas que deveríamos proteger mas que abandonamos.

Temos uma história recente de apoiar o lado errado na região e é hora de parar com isso. Claro que é inaceitável o uso de armas químicas, algo tão abominável que nem Stálin e Hitler usaram, mas esse envolvimento na Síria é um erro. Nos envolvemos na Líbia e ganhamos Bengazi. Entramos numa guerra sem fim no Afeganistão e agora protegemos um governo ligado ao narcotráfico contra a Al Qaeda. Chega! Os três maiores partidos da Inglaterra se juntaram e foram contra, será que isso não quer dizer alguma coisa?”

Ann Coulter, escritora e colunista:

“Até o NYT já admite que Obama jogou para o Congresso a responsabilidade de resolver um problema que é seu. O que me espanta é a hipocrisia da esquerda [“liberals”, no sentido americano] horrorizados com ataques de armas químicas quando Saddam Hussein matou dez vezes mais com esse tipo de arma, 5 mil curdos foram mortos num único dia e agora, de uma hora pra outra, eles resolvem ser a favor de impedir genocídios. E Ruanda? Eles esqueceram as imagens das crianças mutiladas?

O presidente americano tem que defender a segurança nacional e ainda não ouvi deste governo qual é o interesse da segurança nacional americana nisso. Se Obama tivesse certeza do que fazer, ele estaria terceirizando a responsabilidade para o Congresso?

Uma pena que muitos americanos esquecem o que dá entregar a segurança nacional ao Partido Democrata. Imaginem essa confusão agora e Saddam ainda no poder! Uma guerra que eles foram contra!

O que vai acontecer se a Síria resolver reagir? Democratas reclamavam que Bush fazia o mundo nos odiar, agora somos a piada do mundo. O que vocês acham que Putin pensa de Obama? Ele está rolando de rir. E se tiver um ataque à Israel, o que vamos fazer?

Vejam como a esquerda é: ficamos anos aguentando a imprensa gritar que Donald Rumsfeld teve relações diplomáticas com Saddam vinte anos antes, o que é o que se espera em termos de diplomacia com países que não estamos em guerra. E agora? Cadê a imprensa cobrando todos os elogios do governo Obama e dos líderes democratas à Assad? Quem está perguntando à Nancy Pelosi porque ela disse que Assad era um líder moderado e reformista?”

KT McFarland, especialista em questões militares e segurança:

“John Kerry estava tão constrangido nas entrevistas que mal conseguia olhar os jornalistas nos olhos. É claro que ele achava que após seu forte pronunciamento quase chamando Assad de Hitler começaríamos uma ação militar, ele nunca poderia imaginar esse recuo do presidente. Kerry sabe que ‘timing’ é tudo, ele queria a intervenção militar e que jogando a decisão para o Congresso a chance de não acontecer nada é enorme. Kerry sabe que qualquer coisa que sair errado será culpa dele e ele não está feliz.

Em 24 horas, Kerry teve que mudar todo discurso para tentar defender essa consulta ao Congresso que mesmo a base aliada de Obama avalia em no máximo 50% as chances de conseguir aprovação. Na próxima semana, Obama estará na reunião do G-20 com Putin em Moscou e a posição da Rússia é que não há provas de que Assad fez uso de armas químicas. Obama volta na semana de 11 de setembro e não há clima pra se falar disso nessa semana. As discussões devem durar no mínimo até outubro e, com o tempo, as chances de aprovação da ação militar só diminuem.

A ONU vai liberar um relatório nos próximos dias dizendo que armas químicas foram usadas mas todos conhecem a ONU e é claro que ela não vai culpar ninguém, suportando a posição da Rússia. Se Obama está em busca de uma desculpa para não agir, esse relatório cairá como uma luva.”

Allen West, tenente-coronel reformado e ex-deputado pela Flórida:

“Assisti a coletiva de imprensa dos senadores McCain e Graham após a reunião com o presidente Obama sobre a questão da Síria. Parece que o slogan a ser usado é “enfraquecer Assad e ajudar a resistência.

Eu odeio ser o único a estragar a festa, mas este governo fez exatamente isso na Líbia e nunca considerou os efeitos colaterais. Agora, na Líbia, temos uma proliferação de forças islâmicas que estão treinando rebeldes terroristas para serem enviados para a Síria, apoiados pela Irmandade Muçulmana e a Al Qaeda, assim como no ataque ao consulado em Bengazi que resultou na morte de quatro americanos, sendo um deles embaixador.

No Egito nós “depusemos” Mubarak e isso levou a Irmandade Muçulmana ao poder e os efeitos colaterais são uma guerra civil e a crescente perseguição aos cristãos coptas. Então lá vamos nós de novo com Obama, e seus inocentes úteis do Congresso, embarcar a América num esforço nebuloso no Oriente Médio, sem levar em conta novamente os efeitos colaterais. A oposição na Síria são muçulmanos apoiados pela Arábia Saudita, Qatar, Turquia, além da Al Qaeda e da Irmandade Muçulmana. A administração Obama não apoiou o Exército Sírio Livre. Por isso, NÃO a qualquer ação militar dos EUA na Síria! Obama tem uma política errática no Oriente Médio e tem mostrado inépcia na compreensão dos efeitos colaterais das suas ações.

Assisti o Chris Wallace entrevistar o secretário de Estado John Kerry também e devo admitir, Kerry é delirante. Ele realmente acredita que a América dá uma demonstração de força mostrando a Assad, ao Irã e outros inimigos o “poder do nosso processo democrático.” Obama saiu sábado do Rose Garden e, em seguida, partiu para fazer o que ele faz melhor, jogar golfe. E esse complexo de inépcia chamado governo Obama acredita que o que eles apresentaram realmente resolve alguma coisa? Nós perdemos toda a credibilidade e as tentativas débeis de Obama e agora Kerry em jogar a batata quente no colo do Congresso para ter quem colocar a culpa só prova a falta de convicção que emana da Casa Branca.

Navios de guerra da Marinha dos EUA agora estão preparando rosquinhas no Mar Mediterrâneo e eu peço desculpas por submeter nossos homens e mulheres em serviço a essa situação abominável. Obama fez do poderio americano uma piada. Mais uma vez devo repetir, as eleições têm consequências.”

* DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL

Faça uma doação para o Instituto Liberal. Realize um PIX com o valor que desejar. Você poderá copiar a chave PIX ou escanear o QR Code abaixo:

Copie a chave PIX do IL:

28.014.876/0001-06

Escaneie o QR Code abaixo:

Instituto Liberal

Instituto Liberal

O Instituto Liberal é uma instituição sem fins lucrativos voltada para a pesquisa, produção e divulgação de idéias, teorias e conceitos que revelam as vantagens de uma sociedade organizada com base em uma ordem liberal.

Pular para o conteúdo