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A oposição a Lula deverá ser tão virulenta quanto a de Lacerda a Vargas

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Quando ocorre um acirramento na política brasileira, Carlos Lacerda é lembrado. Acho ótimo que assim seja; eu mesmo enfatizei que a oposição a Lula fará muito bem em ser tão virulenta quanto a oposição lacerdista a Vargas.

Porém, isso acaba levando a distorções sobre seu pensamento e sua vida pública. Ofereço a sugestão de meu livro “Lacerda: A Virtude da Polêmica” para uma apresentação mais detalhada do pensamento de Lacerda; mas vejamos alguns exemplos de afirmações que li entre ontem e hoje.

Primeiro, sim, é verdadeira a famosa frase pregando o impedimento de Vargas como candidato e mesmo a possibilidade de uma revolta contra sua posse. Se Lula representa para nós a aliança com o bolivarianismo e a mensagem de que o crime compensa – uma antítese aos fundamentos e aspirações morais do império da lei -, Vargas era para Lacerda a encarnação da antítese da democracia liberal, o líder de uma ditadura imperfeitamente extinta que se aproveitou da estrutura legada por seu regime para voltar ao poder.

De fato, ele admitiu o uso da força em 1950 contra o caudilho, lembrando que o próprio Getúlio havia subvertido regimes e constituições mais de uma vez. Para Lacerda, a volta de Vargas seria como a volta de Hitler na Alemanha ou de Mussolini na Itália e, como tal, inadmissível.

Porém, o que pouco destacam os que pretendem fazer analogias incabíveis é que Lacerda sabia ser bastante pragmático quando julgava necessário.

Após a eleição de Vargas, ele percebeu que não havia oportunidade para um movimento dessa natureza, porque: 1) muitos que poderiam liderar esse movimento haviam aceitado que ele fosse candidato; como então não deixar que assumisse? 2) as forças militares que viessem a impedir uma posse de Vargas poderiam estar ligadas a outras figuras da ditadura do Estado Novo, podendo tal ação resultar em um autoritarismo ainda pior. O que fazer então?

Respondeu Lacerda: “Continuar vigiando esse perigo agora instalado no próprio coração da República. (…) Se tratarmos de organizar a resistência cívica contra qualquer bote ardiloso de Getúlio, teremos conjurado o perigo” – e fez da vida de Vargas um Inferno merecido, pelo bem do país, cujo fim todos conhecemos.

Também é falsa a imagem de Lacerda como alguém que ingenuamente apoiou os militares em 1964 acreditando tolamente que eles manteriam eleições. Lacerda sempre teve uma visão amarga e hesitante de uma ação armada contra João Goulart. Ele sempre foi cético a respeito e temeu que o resultado seria extinguir suas chances de ser presidente; apenas fez o que julgava a única saída diante de um cenário de aproximação do governo com os comunistas em plena Guerra Fria, anistia de militares esquerdistas amotinados por parte do presidente da República, quebra da hierarquia das Forças Armadas e ameaças contra sua vida e o palácio Guanabara. Foi duro com Costa e Silva desde o começo do regime. Esse Lacerda bobo não existe, tampouco um Lacerda apaixonado por autoritarismos fardados.

É impossível e irresponsável afirmar com certeza que posições Lacerda estaria assumindo no cenário atual. Acredito, porém, inspirando-me em suas ideias e práticas, que não vale a pena gastar munição com manifestações que não levarão a nada e ainda envolveram bloqueios de vias e outros absurdos. Sou a favor de protestos de rua contra Lula, ordeiramente, assim que o momento se apresentar. Propôs volta do imposto sindical? Rua. Propôs regulação da mídia? Rua. Caso de corrupção? Rua. Como eu já disse, devemos infernizar o governo do salafrário. Porém, respeitando todas as manifestações democráticas, não acho que faça sentido fazê-lo agora, antes da posse, além de recear consequências prejudiciais à imagem da oposição.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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