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A mensagem de Eike Batista

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RODRIGO CONSTANTINO *

Eike Batista finalmente decidiu se pronunciar sobre a hecatombe que vem pulverizando seu império. Ele assume alguns erros, defende-se da acusação de ser um oportunista que surfou uma onda, ou um vendedor de ilusões por powepoint, trazendo seu histórico empreendedor à tona. Há pontos corretos, a meu ver, e outros nem tanto. Ele diz:

Muitas vezes as pessoas imaginam que surgi do nada, em meio a uma febre desenfreada de aberturas de capital, e que surfei na onda de um mercado em alta que, sem qualquer razão aparente, me ofereceu um cheque em branco com algumas dezenas de bilhões para que eu pudesse brincar de empreender. Nestes últimos anos aprendi muito, errei e acertei em diversos projetos contribuindo para geração de riqueza para terceiros, para mim e principalmente para investidores. Se algum dia mereci a confiança do mercado, foi porque havia uma trajetória de mais de 30 anos de muito trabalho, desafios superados, sucesso e uma capacidade comprovada de cumprir compromissos.

Sim, é verdade que ele já tinha um currículo de sucesso em outras empreitadas, e alguns fracassos também (quem não tem?). Mas não resta dúvida de que o patamar atingido em tão curto espaço de tempo não guarda nenhuma proporção com esse passado. A magnitude dos empreendimentos recentes desafia qualquer lógica de pura confiança na trajetória bem-sucedida de antes. Há outra razão para crescimento tão meteórico, portanto.
E, para mim, esse foi um fenômeno exógeno mais que qualquer coisa. Foi o que tentei explicar no meu artigo para o GLOBO, onde faço um paralelo de seu “sucesso” econômico com o “sucesso” político de Lula. Ambos surfaram, sim, uma forte onda que veio de fora, conscientes ou não disso.
Há também o fator BNDES que não pode ser ignorado, e eu já apontei isso em artigo para o GLOBO também. Esse “doping” inicial do BNDES garante não só recursos subsidiados, como um “selo de qualidade”, uma garantia estatal que abre mais portas. Empreendedor com tanta ajuda da mão estatal não é bem um ícone do empreendedorismo. Eike não cita isso hora alguma em seu artigo. Ele diz:

Tive ofertas para vender fatias expressivas ou mesmo o controle da OGX a partir de um valuation de 30 bilhões de dólares. Há dois anos, coloquei mais um bilhão de dólares do meu bolso na companhia. Eu perdi e venho perdendo bilhões de dólares com a OGX. Alguém que deseja iludir o próximo faz isso a um custo de bilhões de dólares? Se eu quisesse, poderia ter realizado uma venda programada de 100 milhões de dólares por semestre ao longo de 5 anos. Eu teria embolsado 5 bilhões de dólares e ainda assim permaneceria no controle da OGX. Mas não o fiz. Quem mais perdeu com a derrocada no valor da OGX foi um acionista: Eike Batista.

Certo, Eike “ficou” multibilionário, e depois perdeu boa parte disso. Ele acreditou nas próprias ilusões, no sonho que vendeu. Eu não o vejo como um embusteiro, um charlatão feito Madoff, que engrupiu otários de forma consciente. Ele mesmo caiu na tentação de crer que tinha um toque de Midas, que era um mago dos negócios, e que seria possível construir um império de 100 bilhões de reais quase da noite para o dia. Eike foi vítima de Eike, da arrogância, da megalomania. Ele diz:

Tenho consciência de que fui um símbolo para as pessoas, a representação de um Brasil que prospera, que dá certo e está preparado para desempenhar um papel de preponderância global. A destruição de valor dos meus negócios colocou por terra talvez o sonho de muita gente que acreditou na possibilidade de partir do zero e se tornar um empreendedor de sucesso.

Esse foi justamente o motivo pelo qual foi duro com Eike desde o início, preocupado em dissociá-lo da imagem de símbolo do empreendedorismo capitalista. É preciso cuidado na escolha de nossos heróis. Quando vem a queda, o personalismo machuca a ideia. Eike não é exatamente o ícone do empreendedorismo liberal.
Fazer essa ressalva lá atrás foi importante justamente para poder, agora, lembrar que sua derrocada, parcial ou total, não é sinônimo do fracasso capitalista, em hipótese alguma! O capitalismo de estado e as bolhas fomentadas por crédito artificialmente barato é que merecem ser colocados no banco dos réus.

Honrarei todos os meus compromissos. Não deixarei de pagar um único centavo de cada dívida que contraí.

Por fim, Eike não aprendeu uma lição nisso tudo, pelo visto: não se promete aquilo que não é possível entregar. Honrar tantas dívidas, inclusive com o BNDES, ou seja, com nossos recursos, está simplesmente acima de sua capacidade, ao que tudo indica.
* PRESIDENTE DO INSTITUTO LIBERAL

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