Detroit e a lição de Schumpeter
RODRIGO CONSTANTINO *
Deu no GLOBO: Detroit se torna a maior metrópole americana a pedir concordata
Símbolo da industrialização, da classe média e do sonho americanos, Detroit não resistiu a 50 anos de esvaziamento, falta de planejamento e desleixo fiscal, entrando ontem com pedido de concordata na Justiça federal de Michigan, na maior declaração de insolvência municipal da história dos EUA.
A icônica capital automotiva do país não conseguiu acordo com credores e sindicatos de servidores públicos para reescalonar a dívida estimada em US$ 18,5 bilhões e solicitou supervisão judicial para implementar um plano de reequilíbrio de suas finanças.
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O desfecho, esperado nas últimas três semanas à medida que as negociações emperraram, é desolador para uma cidade que já teve a maior renda per capita dos EUA. Hoje, Detroit tem 710 mil habitantes, uma população 63% menor do que na década de 50, quando era a quarta maior cidade dos EUA; perdeu empresas e cérebros e vive um cenário de terra arrasada, com serviços públicos decadentes e bairros inteiros desertos.
Há 78 mil prédios comerciais abandonados por toda a cidade e, todos os anos, 13 mil residências deixam ter moradores. Neste quadro de asfixia, a base fiscal municipal encolheu muito e Detroit passou a não fechar mais as contas há cinco anos, recorrendo freneticamente à emissão de títulos para cumprir obrigações.
— O que o cidadão de Detroit precisa entender é que a situação na qual nos encontramos é o ápice de anos e anos e anos chutando a lata adiante na estrada — disse há um mês Kevyn Orr, que esteve à frente do bem-sucedido plano de reestruturação da Chrysler.
Lar de Ford, GM e Chrysler — as três irmãs, que são as maiores montadoras americanas e ironicamente foram resgatadas da falência pela Casa Branca após a eclosão da crise de 2008 —, Detroit vive cinco décadas de desindustrialização, provocadas pela consolidação das fabricantes de automóveis e autopeças e o deslocamento de fábricas para áreas do subúrbio da capital de Michigan, outros estados e mesmo países, ante a competição asiática.