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A fluoretação da água e os limites do Estado na saúde do indivíduo

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A fluoretação artificial da água teve início nos EUA em meados do século XX, quando se descobriu que, em pequenas doses, seria capaz de reduzir problemas odontológicos. Por lá, a medida enfrentou forte oposição daqueles que defendiam a liberdade individual das pessoas de cuidar da própria saúde, sendo, contudo, instaurada como política pública, já que traria proteção coletiva para além de pretextos pessoais.

Como era de se esperar, as motivação governamentais não eram tão simples assim. Depois que o Sistema Público de Saúde americano (PHS, na sigla em inglês) descobriu que cidades cuja água era naturalmente rica em flúor apresentavam menor número de pacientes com cáries, empresas como a ALCOA (gigante de alumínio), que, durante a Segunda Guerra Mundial, vinham sendo processadas na mesma proporção em que aumentavam o lançamento de fluoreto em lençóis freáticos, patrocinaram estudos que subsidiaram uma forte pressão pela fluoretação obrigatória da água. Funcionou: a imagem do flúor foi transformada de maldição para benção social e, de quebra, surgiu uma justificativa perfeita para o despejo da substância no meio ambiente. O que foi omitido, todavia, é que a água naturalmente fluoretada era rica em fluoreto de cálcio – cálcio este notoriamente benéfico para ossos e dentes -, enquanto a substância artificialmente inserida era o fluoreto de sódio, subproduto da fabricação de alumínio.

A título de curiosidade, aqui no Brasil, a adição de fluoretos não encontrou tanta resistência e, em 1953, o município de Baixo Guandu, no Espírito Santo, foi o primeiro do país a contar com a água “milagrosa”. De lá para cá, várias iniciativas e convênios público-privados trabalharam para a ampliação do abastecimento de água tratada para a população. A fluoretação da água, não obstante ser encarada como um excelente método preventivo de cáries, remete-nos comumente ao controle do Estado sobre os indivíduos.

O poder do Estado sobre a água que é fornecida às populações sempre despertou uma série de teorias da conspiração sobre suas reais motivações, incluindo a de que diversas substâncias são a ela adicionadas para controle de natalidade e do comportamento das pessoas. Entretanto, uma dessas teorias tem sido analisada de forma científica e os resultados são assustadores. Tanto estudos publicados na JAMA Pedriatric quanto o ensaio do professor Philippe Grandjean no Journal of Environmental Health (há outros tantos) evidenciaram que mulheres grávidas que consumiram água fluoretada durante a gravidez tenderam a dar à luz a crianças com déficits de QI.

O estudo da JAMA Pedriatric, conduzido por equipes da Universidade de York, da Universidade da Colúmbia Britânica, do Centro Médico do Hospital Infantil de Cincinnati, da Universidade de Indiana e da Universidade Laval, acompanhou 601 pares de mães e crianças que deram à luz de 2008 a 2012. Essas mães enviaram amostras de urina durante os três trimestres de gravidez para que os níveis de flúor fossem testados. Não surpreendentemente, as mulheres que viviam em áreas com água fluoretada apresentaram níveis significativamente mais altos de flúor na urina do que aquelas que viviam em áreas onde a água não tinha adição de flúor.

Depois que as mães deram à luz, o estudo acompanhou as crianças e, quando elas atingiram as idades de 3 a 4 anos, foram submetidas a testes, usando a Wechsler Primary and Preschool Scale of Intelligence-III, para determinar seus escores de QI. A conclusão revelou uma associação entre a ingestão média diária de flúor das mães durante a gravidez e os pontos de QI subsequentes de seus filhos. Para cada aumento de 1 mg na ingestão diária de flúor, houve, em média, uma diminuição correspondente a 3,66 no QI das crianças do sexo feminino e de 4,49 no QI das crianças do sexo masculino.

A pesquisa do professor Grandjean chegou às mesmas conclusões. O estudioso afirma que, em 2020, nos EUA, 73% da população “recebeu água com o nível ideal de flúor recomendado para prevenir a cárie dentária”. Esse “nível ideal” pelos órgãos americanos é de 0,7mg/L, isto é, 0,7 partes por milhão. Na urina pré-natal, o nível de concentração de referência para causar uma queda de 1 ponto de QI para crianças é de 0,2mg/. Existe uma relação de 1:1 entre a concentração de água e a concentração urinária de flúor. Portanto, a perda de QI pré-natal relacionada ao flúor é de aproximadamente 3,5 pontos por criança cuja mãe bebeu principalmente água fluoretada em “níveis ideais”. Então, pelos estudos de Grandjean, 73% dos recém-nascidos a cada ano estão experimentando esse déficit de QI, o que, em 2019, somaram 2,628 milhões de crianças americanas. Essa constatação foi suficiente para que muitas pessoas clamassem às autoridades o fim da fluoretação no abastecimento de água para que as decisões sobre saúde se dessem entre indivíduos e médicos que conquistaram sua confiança.

Uma boa parte da comunidade científica, contudo, acredita que essas descobertas não podem ser encaradas de maneira unidimensional, já que estudos como os descritos acima não provam, necessariamente, causa e efeito. Em outras palavras, as pessoas submetidas aos testes poderiam estar expostas a outras substâncias ou sofrerem de outros males capazes de afetar a pontuação de QI dos seus filhos.

Assim, se, por um lado, há ensaios indicando malefícios à saúde pela fluoretação da água, por outro, há quem compare esses estudos à mesma histeria da galera antivacina, que – na maioria dos casos –, sem fundamentação científica, promove ativismo conspiratório na divulgação de propaganda alarmista e emotiva que persiste mesmo diante das mais óbvias evidências.

Os estudos sobre possíveis prejuízos à saúde advindos da água fluoretada ainda não são suficientes para que cheguemos a uma conclusão definitiva, o que não nos impede, todavia, de questionar os limites da intervenção do aparato estatal sobre nossas escolhas de saúde. Imaginem um cenário de livre mercado em que pudéssemos escolher entre vários fornecedores de água diferentes, cada um com sua fórmula de adição de sais minerais. Nesse caso, caberia ao indivíduo, dentro de sua realidade e dotado de suas próprias crenças, a escolha pelo produto e serviço mais convenientes. Na existência de um Estado que detém o monopólio sobre o abastecimento de água, no entanto, a decisão de fornecer apenas a versão enriquecida com flúor faz de reféns aqueles que não desejam seu consumo. Talvez, se o debate fosse menos entre “malefícios” e “benefícios” e mais quanto à preservação da liberdade (abrangendo a abertura de mercados), posições tão antagônicas pudessem enxergar um valor em comum.

Juliana Bravo – Associada I no Instituto Líderes do Amanhã. 

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