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A distopia progressista de Dória, Covas et Caterva

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Depois que o governador de São Paulo trancou o estado às vésperas do Natal e voou para Miami para umas “merecidas férias”, agora foi a vez do prefeito Bruno Covas escapar de suas próprias regras e viajar ao Rio de Janeiro para assistir, in loco, ao jogo de seu time do coração na grande final da Copa Libertadores. Dória se viu coagido pela reprovação popular expressa nas redes sociais e retornou ao país pouco depois de chegar aos EUA. Pediu desculpas, mesmo advertindo que não havia feito nada errado. Covas não teve tempo de desistir. Quando viu, o estrago já estava feito. Diferentemente do governador, entretanto, ele não admitiu o erro, nem pediu desculpas. Em vez disso, escreveu um texto cheio de arrogância e vitimismo, com justificativas, no mínimo, patéticas e ofensivas à inteligência de quem as leu.

A desculpa de Bruno Covas para quebrar as regras que ele mesmo promove é esclarecedora. “Depois de 24 sessões de radioterapia… Resolvi tirar mais três dias de licença não remunerada para aproveitar uns dias com meu filho. Fomos ver a final da Libertadores da América no Maracanã, um sonho nosso”. E, numa inversão total de valores, o prefeito ainda escreveu: “Respeitamos todas as normas de segurança determinadas pelas autoridades sanitárias do Rio de Janeiro. Mas a lacração da internet resolveu pegar pesado. Depois de tantas incertezas sobre a vida, a felicidade de levar o filho ao estádio tomou uma proporção diferente para mim. Ir ao jogo é direito meu. É usufruir de um pequeno prazer da vida. Mas a hipocrisia generalizada que virou nossa sociedade resolveu me julgar como se eu tivesse feito algo ilegal. Todos dentro do estádio poderiam estar lá. Menos eu”. Seria risível, se não fosse trágico.

Reparem que o prefeito se considera merecedor de usufruir os pequenos prazeres da vida, enquanto proíbe aos demais mortais não só esses pequenos prazeres, mas até mesmo a possibilidade de trabalhar para obter o pão de cada dia. Covas chegou ao cúmulo de atacar com a alcunha de hipócritas aqueles que ousaram criticar a sua própria hipocrisia.

É evidente que ele pensa que sabe melhor do que o resto de nós como contornar as regras do confinamento de forma segura. A questão de fundo, no entanto, é que, numa democracia digna deste nome, não deveria haver um padrão de conduta para os líderes e outro para os cidadãos comuns. Mas Dória, Covas e outros pensam que a massa dos homens é estúpida demais para ser confiada com a prerrogativa ou autoridade efetiva para tomar conta de suas próprias vidas. Fazem vista grossa ao fato de que as verdadeiras democracias são construídas (ou pelo menos deveriam ser) sobre a crença de que o homem comum é capaz de pensar e, portanto, não precisa ser tutelado pelos governantes.

A pergunta que não quer calar, portanto, é: por que razão não estamos igualmente autorizados a fazer os mesmos julgamentos que o prefeito fez ao decidir assistir ao jogo? Existe um termo técnico para conceituar um regime em que a classe política dominante tem um conjunto de regras legais, morais e éticas aplicáveis a ela mesma, enquanto o povo tem de viver por outras regras, porque sua capacidade de discernimento não é confiável. Esta palavra é “aristocracia” – o governo dos privilegiados de classe.

Este, digamos assim, ‘progressismo moderno’ do qual Dória, Covas e outros são adeptos, embora afirme ser liberal, sempre teve uma forte tendência intervencionista e paternalista. No lugar da velha aristocracia, invocam a autoridade do especialista ou da ciência – mas o resultado, ao fim e ao cabo, é o mesmo. No final das contas, eles imaginam que nós, o povo, nunca saberemos o suficiente para administrar nossos negócios ou nossas vidas com segurança e sabedoria.

A “liberdade tutelada”, nesta moderna distopia progressista, não é a velha liberdade dos homens que fazem seu caminho através da vida, em busca da própria felicidade, assumindo as responsabilidades por suas escolhas e preferências, mas pequenas doses de autonomia individual que eles consentem em nos permitir, desde que vigiada, controlada e refreada. Sempre para o nosso bem, é claro.

Até quando?

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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