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A crise é culpa da queda nos preços das commodities?

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O estoque de desculpas para isentar a política econômica desastrosa de Dilma pela crise que estamos passando é gigantesco. Uma das recentes afirma que a crise deve ser debitada na queda nos preços das commodities. A tese tem seu apelo, de fato houve uma queda de preços nas commodities e naturalmente países produtores desse tipo de produto sofreram com tal queda, curiosamente os que apontam a queda do preço como causa da crise não costumavam apontar a elevação dos mesmo preços como explicação para o crescimento nos mandatos de Lula, mas isso é outra conversa.

Voltemos a tese que a crise é culpa das commodities. Para checar se procede peguei na base de dados do Banco Mundial a valor das rendas dos recursos naturais como proporção do PIB em todos os países disponíveis. Fiz a média entre 2009 e 2013, os cinco anos anteriores ao início oficial da crise, e selecionei os países onde a renda de recursos naturais como proporção do PIB foi maior do que a observada no Brasil. Feita a seleção fui na base de dados do FMI e peguei a taxa de crescimento desses países entre 2014 e 2017, o valor de 2017, naturalmente, é uma estimativa do FMI. Por fim exclui os países com menos de um milhão de habitantes.

Em média as rendas dos recursos naturais correspondem a 20,3% do PIB desses países, no Brasil corresponde a 5,6% do PIB, a mediana foi 15,9%. O maior valor foi encontrado na República do Congo, 63,3%, além da República do Congo o Kuwait tem rendas de recursos naturais acima de 50% do PIB. Na Arábia Saudita, Gabão, Mauritânia, Iraque, Azerbaijão, Turcomenistão e Qatar as rendas de recursos naturais ficaram acima de 40% do PIB. De todos esses com mais de 40% do PIB advindo de recursos naturais apenas o Azerbaijão teve crescimento médio negativo entre 2014 e 2017, mesmo assim a queda de -0,2% ao ano foi menor que a queda de -1,5% ao ano observada no Brasil.

Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru, todos com rendas de recursos naturais correspondendo a mais de 10% do PIM cresceram entre 2014 e 2017. O México, onde essa renda é de 8%, cresceu em média 2,3% ao ano no período. De fato, o crescimento médio dos países onde a renda de recursos naturais como proporção do PIB é maior que no Brasil foi de 3,29%, o mediano foi de 3,31%. Alguns países da amostra tiveram desempenho pior que o Brasil, um deles foi a Venezuela onde as rendas dos recursos naturais corresponderam a 24,1% do PIB e a taxa de crescimento média foi de -9,6% ao ano, por pura coincidência, é claro, por lá também tentam colocar o desastre econômico na conta da queda dos preços das commodities. Além da Venezuela dos 70 países na amostra apenas a Ucrânia e Trinidade e Tobago tiveram um desempenho pior que o do Brasil. Serra Leoa, Azerbaijão, Rússia e Burundi tiveram crescimento negativo, porém a queda nesses países foi menor que no Brasil. A figura abaixo mostra a proporção das rendas de recursos naturais no PIB e a taxa de crescimento no Brasil e em todos os países da amostra com exceção da Venezuela que foi retirada para evitar distorções.

Como pode ser visto a relação é negativa, isso não quer dizer muita coisa. O que impressiona na figura é que países onde as rendas dos recursos naturais como proporção do PIB são muito mais expressivas que no Brasil tiveram um desempenho econômico bem melhor que o nosso. Naturalmente alguns políticos e economistas vão continuar culpando a queda nos preços das commodities por nossa crise (e também pela crise na Venezuela), o que essas pessoas dificilmente vão conseguir explicar é porque países tão distintos como Índia, Peru, Rússia, Arábia Saudita, Chile, México, Noruega, Colômbia e Uzbequistão, além de tantos outros que não receberam destaque na figura, se saíram melhor que o Brasil, alguns muito melhor, mesmo com a tal dependência de recursos naturais ainda maior que a nossa. Talvez por que não tenham tido algo parecido com a Nova Matriz Econômica… vai saber.

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Roberto Ellery

Roberto Ellery

Roberto Ellery, professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), participa de debate sobre as formas de alterar o atual quadro de baixa taxa de investimento agregado no país e os efeitos em longo prazo das políticas de investimento.

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