fbpx

A meta de inflação

Print Friendly, PDF & Email

COLABORADORES

18.04.08

 
 

A meta de inflação

 
 

RODRIGO CONSTANTINO*

 
 

“A autoridade tem que enfrentar a alternativa: ou aceita o mercado e suas leis como são, ou tenta substituir a economia de mercado por um sistema sem mercado, ou seja, pelo socialismo.” _Mises

 
 

A taxa básica de juros subiu 50 pontos percentuais na última decisão do COPOM, sob uma nova chuva de críticas por parte do público em geral. Quando leigos no assunto olham apenas o efeito imediato e criticam a medida, podemos dar um desconto. Mas quando economistas e empresários caem na mesma falácia da miopia, levantando a falsa dicotomia de mais inflação e mais crescimento, aí temos muito o que temer. Afinal, a estabilidade dos preços e a maior previsibilidade advinda dela são fundamentais para o crescimento sustentável da economia. Esta confiança é o pilar que sustenta o crescimento a longo prazo, favorecendo o crédito e, acima de tudo, os investimentos produtivos. Eis os pilares que muitos querem derrubar, pedindo menor controle inflacionário para ter mais crescimento imediato.

 
 

Vários países parecem ter aprendido a lição de que o controle da inflação é fundamental. Inflação não é fruto da ganância de empresários ou nem mesmo de choques de oferta, que geram apenas mudanças relativas nos preços. Inflação é uma política, pois é sempre um fenômeno monetário. O padrão-ouro, com seus defeitos, servia ao menos para controlar a fome insaciável dos governos. Com as moedas fiduciárias sem lastro real, esse controle foi perdido, e a década de 1970 mostrou os enormes riscos disso. Os pobres são os que mais sofrem com o “imposto inflacionário”. O mundo evoluiu então para uma espécie de meio termo, com as moedas fiduciárias, mas com bancos centrais mais independentes, com autonomia para o mandato de controle da inflação. Foi uma evolução saudável após o fracasso dos governos irresponsáveis, que custaram milhões de empregos e muita destruição de riqueza.

 
 

Nesse contexto estão inseridos diversos países desenvolvidos e até alguns emergentes. A Zona do Euro, por exemplo, conta com uma meta implícita de 2% para a inflação, e a independência do banco central é garantida, nas tradições do Bundesbank. Os Estados Unidos possuem o Federal Reserve, banco central independente e que trabalha com meta implícita de 2% também. A Suíça vai na mesma linha, com meta implícita de 2%. O Canadá possui uma meta oficial de 2%, assim como a Inglaterra e a Suécia. Entre os países menos desenvolvidos, o Chile possui uma meta oficial de 3%, a mesma da Hungria, Coréia e México. A Noruega trabalha com metas oficiais de 2,5% para a inflação, a mesma da Islândia e Polônia. O Brasil, que ainda não tem, por lei, um banco central independente do governo, utiliza uma meta inflacionária de 4,5%, e uma banda entre 2,5% e 6,5%. Como podemos ver, os principais países do mundo objetivam uma inflação perto dos 2%, e garantem autonomia para seus bancos centrais buscarem tal meta. No Brasil, que já possui uma meta maior e não conta com a independência do banco central, ainda há uma pressão enorme para menor controle, permitindo mais inflação, na falsa crença de que isso gera maior crescimento. Estamos muito atrasados no debate econômico!

 
 

Na verdade, o maior aliado do crescimento econômico é o investimento produtivo, e este é conseqüência, basicamente, de um ambiente favorável aos negócios. Isso quer dizer boa infra-estrutura, baixa carga tributária, flexibilidade trabalhista, abertura comercial e ampla liberdade econômica, de forma geral. Em outras palavras, tudo aquilo que o Brasil não oferece! Por isso convivemos com baixas taxas de investimento, sempre inferiores a 20% do PIB. O principal responsável por isso é o governo, que arrecada muito imposto, gasta demais e ainda controla muito a economia, através de uma burocracia asfixiante e infinitas leis inúteis. Para um crescimento maior e sustentável, o país precisa de uma drástica redução nos gastos públicos, das reformas tributária, previdenciária e trabalhista, e de investimento em infra-estrutura, de preferência através do setor privado. Em suma, se o governo sair um pouco da frente e deixar mais espaço para a iniciativa privada, o país avança.

 
 

Enquanto isso não ocorre – e parece fantasia esperar algo positivo do governo Lula nesse sentido – não resta outro mecanismo para debelar a inflação além da taxa básica de juros. Como o economista Paulo Guedes muito bem colocou, atacar a inflação com um único instrumento é como fazer cirurgia de córnea usando uma britadeira. O banco central brasileiro, sem independência legal mas com algum grau de autonomia na prática, vem fazendo o dever de casa, mesmo contra todo o barulho contra. Joga no time adversário pois o governo não ajuda onde deveria. O governo Lula tem sido terrível em quase todos os aspectos, mas não podemos tirar seu mérito de manter a autonomia do banco central. Em vez dos empresários e esquerdistas condenarem a entidade, deveriam voltar suas energias para o ataque aos gastos excessivos do governo. Já passamos da fase de acreditar em contos de fada, como se a caneta milagrosa do governo fosse capaz de criar riqueza, como se fosse possível gerar crescimento marretando a taxa de juros para baixo. O juro é um preço e não pode ser manipulado ao bel prazer do governo sem graves conseqüências.

 
 

Muitos preferem usar a taxa de juros elevada como bode expiatório para nossos males, em vez de focar no cerne da questão. O dilema não é aceitar mais inflação para ter maior crescimento. O dilema é entre um crescimento sustentável ou um vôo de galinha. Para seguir pelo primeiro caminho, faz-se necessário um rígido controle da inflação, através de uma meta baixa a ser obtida através de um banco central independente. A taxa de juros mais baixa será resultado de um governo responsável, que gasta menos do que arrecada e não atrapalha tanto a iniciativa privada. Ou seguimos essa trajetória racional, ou ficaremos sempre reféns das maluquices de economistas que acham que riqueza se cria por decreto estatal.

 
 

* Economista, articulista, acaba de lançar ‘UMA LUZ NA ESCURIDÃO – as idéias de grandes pensadores da humanidade’

 
 

 
 

As opiniões emitidas na Série COLABORADORES são de responsabilidade exclusiva do signatário, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do Instituto Liberal.

O conteúdo do artigo pode ser reproduzido uma vez citada a fonte.

Instituto Liberal

www.institutoliberal.org.br


 

Faça uma doação para o Instituto Liberal. Realize um PIX com o valor que desejar. Você poderá copiar a chave PIX ou escanear o QR Code abaixo:

Copie a chave PIX do IL:

28.014.876/0001-06

Escaneie o QR Code abaixo:

Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

Pular para o conteúdo