A Crise de 29 – Rodrigo Constantino

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Colaboradores

01.12.06

A Crise de 29

 ___ Rodrigo Constantino* 

“O crédito adicional que o Fed injetou na economia se espalhou para o mercado financeiro – provocando um crescimento especulativo fantástico. Em 1929 os desequilíbrios especulativos tinham-se tornado tão exagerados que a tentativa de enxugar as reservas adicionais precipitou uma aguda retração e a conseqüente desmoralização da confiança dos empresários. Em conseqüência, a economia americana desmoronou.” (Alan Greenspan)

Quando falamos da Grande Depressão de 1929, automaticamente culpamos o livre mercado. As conseqüências de tal conclusão precipitada são extremamente perigosas. As políticas interventoras do Estado passaram a ser vistas como necessidade vital para a economia. Os resultados foram insatisfatórios em todos os lugares. Faz-se crucial, portanto, mostrar que não foi o mercado que falhou em 29, mas sim um governo hiperativo.

A inflação costuma ser causada pelo aumento da oferta de moeda e crédito. Desta forma, fica mais evidente compreender porque uma política expansionista de moeda não consegue apresentar bons resultados no médio prazo, já que o aumento das expectativas inflacionárias levará a um aumento dos juros. Inúmeras evidências empíricas corroboram com isso, principalmente nos mercados emergentes, onde os governos sempre utilizaram políticas expansionistas de moeda para estimular a ecomomia e acabaram com as maiores taxas de juros do mundo.

A inflação não é a única conseqüência indesejável de um aumento de oferta de moeda e crédito por parte do governo. Esta expansão costuma distorcer a estrutura de investimento e produção, causando excessivo investimento em projetos ruins na indústria de bens de capital. Somente uma recessão pode corrigir este processo, com a liquidação de tais investimentos realizados durante o boom. A existência de um banco central interventor impede esse ajuste natural, alimentando ainda mais novos investimentos indesejáveis, através de uma política monetária frouxa, adiando o problema mas também amplificando ele.

Para tentar salvar o país dessa recessão desejável para liquidar os excessos, o governo acaba criando novos problemas e potencializando a crise. Quando tenta manter os preços artificialmente altos durante esse processo, apenas faz com que mais estoques sejam criados, evitando o retorno mais rápido à prosperidade. Quando os salários ficam mantidos no processo de deflação, reduz ainda mais as margens das empresas e leva ao aumento do desemprego. Quando aumentam os gastos do governo, conseguem estimular a economia somente por um pequeno espaço de tempo, pois isso apenas reduz a poupança privada necessária para novos investimentos produtivos, retardando bastante a recuperação sustentável. Os governos deveriam compreender que a política mais adequada para adotarem numa fase de depressão é justamente não interferir no processo de ajuste. Claro que isso não acontece na prática, pois cada governo foca apenas no seu curto mandato, e acaba interferindo para se livrar do problema, passando-o adiante. Mas o tempo cobra o preço da irresponsabilidade, e quem paga é o povo.

Com a teoria em mente, vamos aos dados. Durante todo o período do boom, a oferta de moeda aumentou em US$ 28 bilhões, um incremento de 62% num espaço de 8 anos. Isso representa uma média anual de 7,7% de aumento, um grau respeitável de inflação. A reserva de ouro neste mesmo período cresceu apenas 15%. Além disso, o governo reduziu as reservas compulsórias dos bancos comerciais, incentivando uma migração de depósitos à vista para depósitos à prazo, que estimula o crédito. O Federal Reserve foi o principal responsável pelo aumento das reservas bancárias neste período, precipitando uma aceleração do processo inflacionário.

Outros mecanismos utilizados pelo governo foram o desconto de duplicatas e o open market. O banco central induziu um aumento do crédito através da política de redesconto, que ao invés de ter uma taxa de juros punitiva, estimulava novos empréstimos, por ficar abaixo das taxas de mercado. Objetivando estender crédito para a agricultura, o Fed foi extremamente frouxo em sua política de crédito. Mas como o dinheiro não tem carimbo, esse excesso de liquidez se espalha por todos os setores, principalmente para bens de capital e mercado financeiro. O clima de prosperidade eterna foi agravado pelas declarações de importantes nomes da época, como o próprio presidente Coolidge.

Além do foco doméstico, a situação da Europa contribuiu bastante para que o governo americano adotasse políticas inflacionárias. A Alemanha, um dos principais credores dos EUA na época, estava com pouco capital, arruinada pela guerra. Os banqueiros americanos, atraídos pelas enormes comissões de empréstimos a governos estrangeiros, enviaram centenas de agentes para prospectar novos credores. A pressão em cima do governo, tanto desses banqueiros como dos próprios governos europeus, acabaram por estimular ainda mais o crédito abundante e barato, inevitavelmente inflacionário. Alan Greenspan, ex-presidente do Fed, reconhece o desastre que foi “a tentativa do Fed de ajudar a Grâ Bretanha que vinha perdendo reservas de ouro para os Estados Unidos porque o Bank of England recusou-se a permitir que as taxas de juros subissem quando as forças do mercado assim demandavam”.

 

Em linhas gerais, deve ficar claro que a responsabilidade pelo período inflacionário que antecedeu e causou a crise de 29 recai sobre o governo, não o livre mercado. O governo dos Estados Unidos plantou as sementes do que foi a Grande Depressão. Infelizmente, a interpretação foi diferente, provavelmente por falta de conhecimento tanto dos fatos como da teoria econômica. O mundo entrou numa nova fase em que a intervenção do governo na economia passou a ser ainda mais desejada. Acreditava-se que se o governo agisse de forma expansionista durante uma recessão, a economia poderia crescer indefinidamente sem grandes sustos. Para um problema criado pelo governo, a solução proposta acabou sendo justamente mais governo. 

Os erros do passado devem servir de lições para o presente e futuro. Governo algum em lugar algum do mundo conseguiu alterar as leis econômicas com uma caneta e um papel. Quanto mais o governo tentar artificialmente estimular o crescimento econômico, mais dolorosa será a ressaca inevitável. Ninguém consegue se suspender puxando os próprios suspensórios! 

* Economista, articulista, autor do livro
Estrela Cadente: as contradições e trapalhadas do PT”. http://rodrigoconstantino.blogspot.com

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

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