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A (falta de) confiança nas Instituições: lembrando Smith

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No Brasil estamos todos no leito hospitalar. Literalmente, deixando de andar, para frente! A maior enfermidade é a perda da confiança. Deixamos de acreditar nas instituições e nas pessoas. 

Há razões objetivas, de sobra, para tal situação. Ideologias ímprobas, interesses “puramente” individualistas, governos corruptos, incentivos equivocados, regramento jurídico abissal castrador da liberdade individual e interpretado por togados que focam interesses próprios e grupais ao invés da primazia de todo o conjunto de pessoas no nosso contexto social. Além disso, a impunidade e a mentira têm reinado indistintamente. 

Diferentemente dos anarquistas, acredito no papel do Estado garantidor da liberdade e da genuína justiça, capaz de criar incentivos para que cada cidadão, individualmente, por meio de suas próprias buscas e escolhas, ande com suas duas pernas, cérebro e coração. 

Mas está muito difícil acreditar que, após análise dos fatos e não de conhecidas retóricas falaciosas, as regras do jogo econômico e social sejam iguais para todos! E assim, lá se vai, cotidianamente, a confiança tão indispensável para relações econômicas e sociais geradoras de maior produtividade e prosperidade individual e geral. 

Confiança não se compra (não deveria!), não se verbaliza, pratica-se, um dia após o outro. Só confiamos com base nas evidências – reais, construídas ao longo das interações sociais entre indivíduos com indivíduos, organizações com organizações e entre indivíduos e organizações com o Estado. 

Conflitos, disputas, negociações e concessões são necessárias e imprescindíveis na jornada que tem por objetivo central o bem de todos! Ninguém deseja, creio eu, autoritarismo e tirania.

É através da confiança edificada entre os humanos que se reduz a percepção de risco associado ao comportamento oportunista pelo “outro”, e que se estabelecem relações de compromisso e o respectivo desejo duradouro de continuar interações econômicas e sociais saudáveis, fazendo esforços (investimentos) voltados para esse fim. 

Na presença da incerteza, do oportunismo individual e/ou grupal, relações duradouras e benéficas para todos se esfacelam no meio do caminho.

Visões de mundo, percepções, informações, dados fidedignos, imperiosamente precisam ser compartilhados e discutidos. Sem isso não se constrói confiança genuína. Somente é possível alcançar a liberdade quando a confiança impera. 

As instituições brasileiras estão funcionando, entretanto, a julgar pelos resultados (convenhamos, o que importa!), seguramente algumas delas, mal funcionado. Nitidamente. Justiça? Mercado? Mídia? Cultura? Na atualidade, confiamos e acreditamos em quem? Em Deus, eu sim.

Só a confiança contempla o potencial mágico de expandir as oportunidades de interação e cooperação humanas, reduzindo a ânsia e o tamanho do desejo das pessoas de esperar que muitas das instituições, tais como executivo, legislação e judiciário, façam as coisas por nós. Precisamos modernizar certas práticas institucionais, visando restabelecer incentivos adequados para que as pessoas possam empreender em suas vidas, e prosperarem.

Na contemporaneidade, será que instituições governamentais não querem que seus nativos prosperem? Não desejam gerar mais empregos, renda, produtividade e prosperidade sustentável? São todos os governos tiranos da esperança alheia? 

Enraizado na natureza humana, todos têm no interesse próprio, a fonte do tônus vital impulsionador da esperança de melhorar suas próprias condições. Mas o macro conta e impacta fortemente! Em tudo e todos! 

Nós, de carne e osso, precisamos pensar, autonomamente. Quem somos, o que queremos, individual e, por conseguinte, coletivamente. Somos seres sociais, que formamos nossa identidade com base no outro. Principalmente, espelhando-nos naquilo que não gostamos no outro. Buscamos o oposto. Procuramos associação e pertencimento com os “semelhantes”, e desassociação com os “diferentes”. Natural!

Na obra – unificada – do inesquecível e brilhante Adam Smith, primeiro em “Teoria dos Sentimentos Morais (1759)” e, após, em “Inquérito sobre a natureza e as causas da riqueza das nações (1776)”, ele rompia com a noção do amor/interesse-próprio intimamente ligado ao egoísmo, sua face ruim. Quem leu e entendeu os iluministas e Smith, compreendeu que ele buscava recuperar a virtude do egoísmo, o lado bom, do fazer individualmente para crescer e prosperar. Esse amor-próprio individual, como ser social, é inequivocamente dependente do outro, do reconhecimento do outro. Nada pode ser mais umbilical do que o julgamento e a aprovação do outro. 

Em sociedade, na vida hierarquizada, o interesse próprio é mediado pela capacidade simpática-empática, imaginativa, de se colocar na posição do espectador imparcial. Na complexa e intrincada rede de interações e vontades sociais individuais, o desejo de reconhecimento “positivo e real” do outro, age – ou deveria agir – para moldar pensamentos e, fundamentalmente, as ações humanas. 

De modo algum, Smith rejeitava sentimentos naturais e humanos, da inveja, da cobiça e do desprezo pelos “outros”. Evidentemente que na vida vivida, conflitos – e muitos – sempre vêm a superfície terrena. É justamente por isso, para que a ordem impere e prevaleça, que a empatia é tão crucial para conter interesses e impulsos pessoais “grosseiros” e fazer presente a confiança (e a reputação), fundamental para a vida em sociedade – e maior prosperidade.

A lógica da “mão invisível” smithiana é autoexplicativa dos fenômenos e fatos sociais coletivos. Confiança e controle passam a ter o “mesmo sentido”.

Aonde foi parar Adam Smith? No campo econômico, pelo menos, ideias liberais de livre mercado, competição e abertura econômica, parecem finalmente terem aportado por aqui. 

Entretanto, reformas estruturantes em solo verde amarelo aparentam ir na contramão da velocidade exigida na era da economia digital. Por que?!

Perdeu-se a confiança! Seu resgate é complexo e leva tempo! Evidente que precisamos julgar e criticar o que está “virado”! Instituições precisam ser remodeladas e reformadas. Urgentemente. Não há dúvida disto!

Contudo, em ditas democracias, e portanto, por aqui, chegou-se a hora de focar toda a energia, recursos e capacidades para a edificação de confiança, por mais frágil que possa constituir-se inicialmente. 

Instituições-chave deveriam construir um “consenso mínimo” para o bem de todo o país. Diferenças – abissais – sempre existirão. O executivo, por mais bem-intencionado que esteja, e está, não faz sozinho! É o caminho… Ou o descambamento para desordem e tirania, indesejada!

O “Big Stick” de Roosevelt (“fale com suavidade e tenha à mão um grande porrete”) é prudente, mas sem alguma capacidade empática smithiana, certamente não iremos avançar!

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Alex Pipkin

Alex Pipkin

Doutor em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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