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Sete bilhões de escravos

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escravidão

A dramatização da história fez com que a maioria das pessoas entendesse a escravidão como um sistema cruel e homogêneo, mas a verdade é que ela se dava das mais diversas formas e nos mais diferentes níveis, com apenas uma coisa em comum entre os senhores: A preocupação de se manter os escravos vivos. Em situações normais, nenhum escravo morria de fome, afinal, um escravo morto era uma força de trabalho a menos.

O cuidado com os escravos era definido pela relação entre a atividade que desempenhavam e o caráter de seu proprietário. No caso brasileiro, os negros que trabalhavam no campo tinham direito à basicamente comida e abrigo. Negros utilizados no serviço doméstico ganhavam banhos e roupas melhores. Os “escravos de ganho”, aqueles que trabalhavam em pequenos negócios nas cidades, recebiam tratamentos um pouco melhores e alguns chegavam a ter direito a parte do lucro.  

Independentemente das diferenças de tratamento, todos eram escravos. Todos eram obrigados a servir seus proprietários. Ninguém tinha o direito de definir o destino de sua própria potência. Porém, a maior parte das pessoas acredita que a escravidão foi quase completamente erradicada em nosso tempo, a despeito da vergonhosa realidade de que nunca antes na história desse planeta se viu tanta escravidão. Antes, eram escravos um ou outro povo, uma ou outra raça. Hoje, todos são escravos.

Eugen von Bohm-Bawerk divide a civilização humana em três grupos de escravos: Um que vive sob regimes comunistas, outro que vive sob sistemas econômicos socialistas e o resto que vive sob a tutela de governos que, apesar de se apresentarem como “mundo livre”, impõem leis, intervenções, restrições e programas sociais que raramente são percebidas como ferramentas de controle da liberdade.

“Quando só se pode optar entre a segurança numa posição de dependência e a extrema precariedade numa situação em que tanto o fracasso quanto o êxito são desprezados, poucos resistirão à tentação da segurança ao preço da liberdade”, já disse Hayek.

Passado um século, Bohn-Bawerk continua certo; e Tocqueville foi preciso ao prever que a servidão seria aperfeiçoada de tal maneira que um dia não seria percebida.

Hoje, não há cidadão nesse planeta que não esteja sob a mira de um governo. Não há ser humano que tenha plena liberdade para decidir sobre o fruto de seu próprio trabalho. Não há pessoa que não seja obrigada a servir ao Estado.

Se, naqueles tempos, o ser humano que se negava a trabalhar para o seu dono era preso e torturado, hoje, o cidadão que se nega a trabalhar para o seu governo é preso e espoliado. O cidadão neste século XXI não tem o direito de se negar a pagar os impostos que julga ser abusivos, nem pode rejeitar as regulações profissionais quando as percebe absurdas. Mas o pior de tudo é a incapacidade do cidadão comum de nossos dias de enxergar-se como escravo, de entender que todas as vezes que o Estado aumenta ou cria um imposto ele está apenas gritando: “Trabalhe mais, seu animal!”.

Se os escravos de outros tempos temiam o capataz, os escravos modernos temem o fiscal, o oficial de justiça, o juiz, o parlamentar, o prefeito, o governador, o presidente e até mesmo aquele calhamaço de papel chamado de Constituição.

Sim, uns escravos são mais escravos que outros. O norte-coreano é um escravo privado de tudo e o povo cubano um pouco menos, enquanto venezuelanos e argentinos sentem a corrente que lhes amarra ao Estado cada dia mais curta.

Os brasileiros estão no grupo dos escravos felizes, aqueles que são obrigados a trabalhar metade do ano apenas para sustentar o Estado, que sofrem cotidianamente as torturas legais impostas pelo governo mas, apesar disso, sentem-se livres e sortudos por poderem ir a praia, por poderem se embebedar, jogar futebol, construir igrejas, montar empresas, dançar desvairadamente e usufruir do privilégio de eleger novos senhores a cada 4 anos.

Hoje, a grande maioria dos escravos sequer tenta fugir.

Engana-se quem enxerga os países ricos como exemplo de sociedades livres. Da mesma forma que noutros tempos havia senhores que ofereciam aos seus escravos comida e abrigo melhores do que os eram oferecidos por outros, hoje existem governos que distinguem-se por certa generosidade ao oferecer comida, abrigo e também assistência médica e escolas onde os jovens escravos aprendem ler, escrever, fazer contas e a amar seu proprietário. Um adestramento tão eficiente que faz com que a grande maioria dos escravos sinta-se tão grato pela ração que recebe que está sempre pedindo cada vez mais limites à sua própria liberdade, sempre implorando por mais leis, por mais normas, por mais vigilância, por mais Estado sobre a vida de todos.

Assim como faziam os senhores de outros tempos, os atuais governos identificam e criam grupos de escravos especiais, concedendo-lhes tratamentos diferenciados em função de suas utilidades, o que é facilmente percebido no Brasil, onde todos que trabalham nos palácios do governo recebem certos privilégios que os qualificam como escravos mais iguais que outros.

Se naqueles tempos o senhor construía e mantinha a senzala, hoje, cabe a cada escravo construir a sua, estando ciente de que irá perdê-la caso não pague os impostos.

Meses atrás, um deputado lançou um projeto de lei que obrigaria as escolas a oferecer aulas sobre a Constituição. Os próprios escravos apoiaram a proposta, evidenciando que eles mesmos gostariam de ser melhor instruídos sobre suas obrigações.

Na mesma época, escravos de todo o mundo se uniram numa única comemoração: O governo dos Estados Unidos permitiu que pessoas do mesmo sexo se casem. Uau! A torcida agora é para que outros governos concedam a seus escravos o mesmo tiquinho de liberdade e quem sabe um dia… um dia… conceda também o direito de defenderem suas próprias vidas, de educar seus filhos da forma que quiserem… Tenhamos esperança!

Uma boa forma de determinar o nível de escravidão de uma sociedade é reparar a quantidade e o contexto com que os governos usam os termos “igualdade social”, “justiça social” e “bem-estar social”, termos que juntos ou em separado moldam a principal justificativa de todo regime de escravidão: Fazer com que toda pessoa seja uma propriedade do Estado, de uma maneira ou de outra.

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João Cesar de Melo

João Cesar de Melo

É militante liberal/conservador com consciência libertária.

2 comentários em “Sete bilhões de escravos

  • Avatar
    02/11/2015 em 1:44 am
    Permalink

    Eugen von Bohm-Bawerk chegou a ser contemporâneo de algum regime comunista?

  • Avatar
    30/09/2015 em 8:51 am
    Permalink

    Seria o caso de acabar com a existência do Estado?

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