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John Galt já está em Miami

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Na política, dizem que não há melhor pesquisa qualitativa do que uma conversa com um taxista. A minha versão pessoal é o meu cabelereiro – ou barbeiro, na tradução heterossexual. Talvez por isso eu converse com tanto interesse com o sujeito que apara minha cabeleira há uns 15 anos em um salão bacana na orla do Rio. Em nosso último bate-papo, chamou-me a atenção que ele se queixava da perda de vários clientes fiéis por um motivo: estavam todos se mudando do Brasil.

O mesmo assunto dominava o jantar no fim de semana na casa de um amigo na Barra da Tijuca. Dos presentes, entre executivos, empresários e escritores, quem não estava de mudança do Brasil invejava os demais. E assim tem sido, de forma cada vez mais frequente: amigos, fornecedores e até concorrentes me confidenciam que deixarão o Brasil, sem data para voltar. O motivo principal varia, muitos citam a violência, outros a bolivarização do ensino e da mídia, e tantos mais mencionam o inóspito ambiente para negócios, mas o pano de fundo é sempre o mesmo: a completa falta de esperança no Brasil.

O fenômeno, inclusive, parece generalizado, mas, para evitar o terreno subjetivo, sinto-me obrigado a citar exemplos reais. Em meu ramo, mesmo com toda a pujança, recebi a notícia de que a Host Hotels (dona de diversos hotéis no mundo, inclusive os da rede Marriott no Brasil), ao final do ano passado, fechou o escritório do Brasil e cuidará de seus interesses remotamente, de Miami. Algo parecido aconteceu com a gigante Starwood Hotels (dona das marcas Sheraton, Meridien, W, dentre outros), que também cerrou seu escritório de desenvolvimento no Brasil.

Ainda digna de nota foi a verdadeira história recente de outro projeto de hotelaria de altíssimo luxo, cujos investidores – que estão habituados a projetos no Caribe, Angola e Senegal – deixaram o país e encerraram os seus investimentos por aqui com a melancólica frase: “Fuck Brazil!”. Preferiram abandonar as obras pela metade e assimilar um prejuízo multimilionário a permanecer no país que, ainda nas palavras deles, “tem o ambiente de negócios mais hostil que já viram na vida”.

Independentemente de exemplos pontuais, desafio o leitor a examinar sua rede de relacionamentos e me jurar que não conheça alguém que esteja deixando o Brasil. O destino geralmente é Miami (“o Rio de Janeiro que deu certo”), mas pode variar. O importante é que, em minha vida, não consigo me lembrar de um fenômeno deste tipo e nesta magnitude, incluindo o grande êxodo de cariocas após a onda de sequestros no início dos anos 90.

Mas o que me causa grande preocupação não é propriamente a quantidade de pessoas que têm ido embora, mas a qualidade do material humano que nos deixa. Estamos perdendo alguns dos nossos melhores empresários, advogados, engenheiros, cientistas e até intelectuais. Em outras palavras: estamos perdendo aqueles que carregam o Brasil nas costas.

É impossível não estabelecer um paralelo com o livro da filósofa Ayn Rand, A Revolta de Atlas(também publicado com o título “Quem é John Galt?”). Para quem não leu o romance (leia!), trata-se de uma distopia onde, em um país controlado pelo governo e em uma sociedade dominada pelo relativismo e pelo coitadismo, todos os melhores cidadãos produtivos resolvem desistir de seus ramos e se exilar secretamente em um território inalcançável. Não estarei estragando nenhuma surpresa ao dizer que a massa que fica passa a pedir mais intervenção do governo, que é, naturalmente, inútil. Não restava mais ninguém de quem a riqueza pudesse ser sugada e todo o sistema entrava em colapso.

Nada disso aparece em alguma estatística do IBGE, nas projeções do IPEA ou mesmo no relatório Focus do Banco Central. Entretanto, metas de inflação, ajustes no orçamento, PACs, estímulos pontuais a setores, empréstimos do BNDES, regulamentações, programas de distribuição de renda e todas as ações que o governo brasileiro conseguir inventar não surtirão nenhum efeito se aqueles que carregaram o Brasil nas costas até hoje não estiverem mais aqui para fazê-lo. Como andam dizendo, o último que sair não precisará apagar a luz, pois já não haverá energia elétrica.

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Paulo Figueiredo Filho

Paulo Figueiredo Filho

Cursou Comunicação Social e Economia na PUC-Rio e é bacharel em Filosofia. Teve significativa passagem pelo setor público como assessor especial e chefe de gabinete no Governo do Estado e na Prefeitura do Rio de Janeiro. De volta à iniciativa privada, hoje atua como CEO do grupo Polaris Brazil, à frente de empreendimentos imobiliários e hoteleiros de porte internacional, incluindo o Trump Hotel do Rio de Janeiro.

10 comentários em “John Galt já está em Miami

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    29/01/2015 em 10:25 am
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    O diagnóstico está muito bem feito pelo Paulo. Só tem um porém. Esse pessoal pensa que o Paraíso é aqui na Terra. E por isso acham mais cômodo virar as costas para o País que lhes deu tudo o que são e têm para cuidarem dos seus interesses umbilicais. Acho que a Cleide comentou muito bem.

    Quero ver se já pensaram em botar um pouco do seu dinheiro em algum projeto para mudar a situação. É bom que vão! Boca Ratoon virou refúgio dos bacanas brasileiros… E outros covardes!

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      29/01/2015 em 11:16 am
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      “Quero ver se já pensaram em botar um pouco do seu dinheiro em algum projeto para mudar a situação. ”

      Já pagamos impostos demais e ainda temos que fazer por fora? É brincadeira né? Como disseram aí…é murro em ponta de faca.
      O Brasil não tem o menor risco de dar certo. Quem puder saia e vá viver em um lugar melhor.

      Eterno país do futuro.

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        29/01/2015 em 1:58 pm
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        “Só perfeito” o seu comentário… Parabéns!

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    28/01/2015 em 3:09 pm
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    É muito tarde. Somos no máximo 20% do nosso meio, em grau de instrução. As universidades estão lotadas de doutrinados. Ficar e tentar mudar algo é dar murro em ponta de faca. Fazendo parte da analogia, eu plantei minha horta no meu quintal, mas cansei de virem e roubarem ela, para depois ficar só com os restos.
    Mais uma vez, vocês ficariam horrorizados quando soubessem o número de pessoas que pensa como a Luciana Genro.

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      28/01/2015 em 7:18 pm
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      Verdade, e ficariam mais chocados ainda de saber que esses que pensam como Luciana Genro não são analfabetos e favelados, mas pessoas com nível superior e pós-graduação. Ou seja, supostamente tem oportunidade para buscar informação.

      Infelizmente o problema do Brasil não está na ignorância, como muitos pensam, está no caráter. Conheço muita gente com mestrado e doutorado que são eleitores ferrenhos do PT, que defendem esse partido mais do que defenderiam a própria mãe. E também conheço muito favelado (a palavra é essa mesmo) que sequer terminou o ensino fundamental e não vota no PT de jeito nenhum, além de fazer campanha contra.

      Ora, a televisão, que é um veículo midiático de massa, não está aí mostrando os fatos? Mesmos com canais e “jornalistas” tendenciosos dá sim pra saber o que está acontecendo no país. Mesmo que quisessem não dava pra esconder o Lava Jato. Embora a maioria não saiba explicar o que de fato foi o esquema, todos sabem os nomes envolvidos (inclusive partidos) e que houve roubo do nosso dinheiro.

      Não precisa ser um expert para saber que o preço das coisas aumentou, que falta energia e água, que a corrupção reina, que temos 50 mil mortos por ano, que sofremos uma epidemia de drogas e, principalmente, que a pobreza persiste. Quem melhor que o pobre pra saber que a pobreza ainda está entre nós?

      Uma coisa que foi dita no artigo me entristece bastante: que uma pequena parcela da sociedade carrega o país nas costas. Mas parece que o fardo se tornou pesado demais.

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    28/01/2015 em 2:45 pm
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    Cláudio,

    quando eu falo elite não é desse bando de porcos que está no poder, não. Isso para mim é uma quadrilha que tomou de assalto o país por conta da ignorância desse povo que de tão ludibriado parece ter aprendido que o oportunismo é a única atitude coerente a corresponder com o que lhe foi reservado, ou seja, se comporta sacrificando princípios, para transigir com as circunstâncias e acomodar-se a elas. Essa é a forma que a maioria dos brasileiros encontra para sobreviver nesse contexto cultural estéril e desesperançoso. E isso independentemente, de estrato social e renda. Quando eu falo elite eu me refiro às pessoas que reúnem conhecimento e consciência da situação do país e que deveriam estar à frente, orientando os rumos da sociedade para permitir que o futuro das novas gerações seja melhor, mais justo e alvissareiro. Para mim elite é liderança, e líder é uma coisa séria. Essa elite emergente à qual me refiro, deveria tomar o lugar que lhe é reservado, não por direito, porque não dizer, por dever, mas infelizmente, parece não querer fazê-lo. Ou você não concorda que nós pertencemos a uma elite privilegiada que consegue discernir o que é correto para a sociedade brasileira? Se conseguimos por conta de uma série de condições que no foi permitida, vislumbrar algo de coerente e justo para nossa sociedade, porque nos furtamos? Como você, eu também tenho dupla cidadania e considero muito triste ter de fazer o que fizeram meus antepassados. Para mim é como se fôramos furtar na horta do vizinho aquilo que não nos dispusemos a plantar na nossa. Considero absolutamente legítimo fazer uma opção por outro país, claro. Mas só considero louvável quando o sujeito o faz por uma necessidade eminentemente pessoal. Vai estudar, arrumou um bom emprego, quer experimentar algo diferente. O caso, ao qual nos referimos aqui, trata-se de abandonar um país num momento de profunda crise social, para depois, quem sabe, voltar para usufruir as conquistas, caso elas tenham sido obtidas com o sacrifício de alguns. Sinceramente, considero um ato de grande covardia ir embora agora. Que se mudem os oportunistas, mas que por lá permaneçam se um dia esse país despertar e se desenvolver. Jactar-se de poder sair e abandonar o país num momento desses é zombar com os milhares, embora ainda poucos, brasileiros que estão nas ruas fazendo resistência. Espero que tenha conseguido traduzir meus sentimentos.

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      29/01/2015 em 11:19 am
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      “…se um dia esse país despertar e se desenvolver…”

      Senta e espera…muito!

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    28/01/2015 em 11:34 am
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    Cleide, primeiro vamos definir o que é elite no Brasil, certamente quem faz parte dos 5% que ganham mais de 10 mil por mês pode ser considerado elite no “país de classe média” que só existe na propaganda do PT. Como Paulo mencionou no artigo, tenho sim um amigo no meu circulo de amizades que também tem planos de deixar o Brasil em direção a Miami, por coincidência, é um pequeno empresário, acredito que ele se refira a essa elite de pequenos e médios empresários, executivos de empresas, advogados, médicos, em resumo, profissionais liberais que pagam impostos altos e em cascata e que não tem nada em troca, os serviços são péssimos, a violência só aumenta e agora além disso tudo a corrupção está institucionalizada e caminhamos para a “venezuelização” do Brasil. A elite a que você se refere deve ser a dos grandes empresários associados ao governo (alguns agora atrás das grades, até quando?) e que devemos ter vergonha sim, eu tenho. Esses são os covardes que gritam Viva o Brasil! erguendo o braço esquerdo em punho e com a outra mão fazem uma figa e continuam a dilapidar o país em associação com um partido que é uma seita mafiosa infelizmente poupada pela grande mídia (mais uns covardes para você apontar o dedo) e que conseguiu entender a gênese do povo brasileiro, que é bovino e enquanto estiver pastando não percebe que logo logo estará indo para o matadouro também. Me julgo um cidadão melhor como falou e mesmo com dupla cidadania não fui embora, mas quem sou eu para julgar quem já desistiu? ficar para a qualquer tentativa de colocar os pingos nos is ser taxado de fascista, racista, homofóbico e etc. por uma turba parasitária e canalha está cada dia mais difícil, como o Paulo disse, se bobear ficarei no escuro.

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    28/01/2015 em 9:52 am
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    Esse é mais um grande problema do Brasil. Sua elite. Que os capitais procurem ambientes mais seguros para seus negócios, tudo bem. O capital não tem pátria. Cidadãos sim. Brasileiros intelectuais, cientistas e outros de valor, que tal mudarem de ideia? Ficar pelo menos uma vez na sua terra, abraçar um projeto de mudança e mudar essa merda de país. Maquiavel na sua obra O Príncipe, diz que “a elite tem o povo que merece”, e não o contrário, como pensa a elite. Uma elite que se preze conquista seu espaço e não usurpa ou mendiga o espaço de outrem, feito chupim. Nosso país é mesmo uma maravilha: sua vocação é produzir cidadãos de baixa categoria e quando num acidente de percurso, gera um cidadão melhor, esse procura ser um cidadão de segunda linha em outro lugar. Covardes! Viva o Brasil!

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      29/01/2015 em 11:23 am
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      “…esse procura ser um cidadão de segunda linha em outro lugar…”
      Essa é a sua linha de pensamento. Não é pq vc vai ter subemprego em outro país que todos que vão sair daqui também.

      A maioria que conheço está indo para posições semelhantes as que ocupam aqui.

      CovardeS? Quer coragem maior do que aprender um novo idioma, ir para uma cultura diferente, ficar longe da família e brigar por uma vida melhor? Isso é covardia? Ahhh me poupe. Sai pra lá ufanismo tolo.

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