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Dostoievsky e o PT

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A maneira de o PT fazer política é simples e consabida: cria “programas sociais” que nada mais são do que modelos de cotas para qualquer atividade humana, tentando “incluir” mais pessoas na sociedade economicamente ativa.

Funcionais ou não, tais programas repetem a mesma estrutura em todos os ramos, tornando cada novo passo político petista apenas uma repetição do mesmo script.

O Fome Zero, pelo qual Lula foi até indicado ao Prêmio Nobel da Paz antes de descobrirem quão mal feito e risível era (gerou ruptura de Lula até com Frei Betto, notório caudatário da ditadura de Fidel Castro), nada mais era do que a “transferência” forçada de dinheiro dado em gorjetas em restaurantes para um “fundo” que daria parte do montante a alguns pobres.

Fracassado de cabo a rabo, o programa logo foi forçosamente “esquecido” pelo partido, sem que praticamente ninguém na imprensa, que deveria vigiar o governo, cobrasse os governantes pelo desastre. A seguir, veio o Bolsa Família, aparentemente com menos furos, em que o governo simplesmente dinheiro que toma por impostos de outras pessoas para alguns pobres, que lhe respondem com uma obediência eleitoral de joelhos, como se Brasília fosse Meca.

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Assim é o Minha Casa, Minha Vida: toma-se dinheiro de impostos para criar casas para os mesmos que pagam impostos. Assim é o Mais Médicos: cria-se postos de saúde ocupados por semi-escravos cubanos ao invés de permitir que profissionais trabalhem onde querem. O Fundo de Amparo ao Trabalhador também toma dinheiro do trabalhador para que este agradeça ao governo quando este resolve lhe dar uma parte de volta. O PROUNI também força cotas em universidades.

E assim segue o modelo, do Luz no Campo ao Brasil Carinhoso, que “tira da miséria” modificando os critérios de pobreza, dando dois reais aos pobres e dizendo que “acabou com a miséria”. O esquema permanece até em fiascos retumbantes, como o Primeiro Emprego ou o Fome Zero.

Antes do PT, “programas sociais” eram formas mais “ativas” de o governo intervir na economia.

Num sistema capitalista, as pessoas produzem riqueza (material ou mesmo de idéias) e trocam pelo produto do trabalho das outras. É o chamado laissez-faire (“deixe-os fazer”). Alguns, que não gostam do esforço necessário para enriquecer, buscam atalhos. Usualmente através do Estado, a única instituição que pode agir sempre por força, tomando algo de algumas pessoas e “dando” a outras, através de um planejamento central de alguns burocratas. É o intervencionismo, chamado politicamente de “social-democracia”, ou Welfare State.

Acreditada por muito tempo como a melhor forma de governo, pois aparentemente “tira os pobres da pobreza”, a social-democracia soa inatacável até hoje, depois de exibir sinais de derrocada até no suposto paraíso nórdico.

Os liberais, tratados como insensíveis à pobreza, apenas conhecem o truque: o governo não produz nada, então, quando um governante aparentemente “dá” algo a alguém, não está tirando dinheiro do seu próprio bolso, e sim tomando do bolso alheio. Sem produção de riqueza no processo, os produtores têm menos incentivos para produzir (sendo consumidos por impostos), e a riqueza vai diminuindo, tendo-se cada vez menos algo a “distribuir”.

Aproxima-se os pobres dos ricos não tornando os pobres ricos (no máximo, ganham algumas migalhas da obediência eleitoral), mas sim tornando os ricos mais pobres. A social-democracia, aparentemente perfeita no curtíssimo prazo, é uma catástrofe humanitária no longo, enquanto o capitalismo enriquece cada vez mais os pobres, como mostra o Índice da Liberdade Econômica  o migalhismo contra a riqueza da liberdade.

Tais programas sociais do Welfare State eram combatidos por Lula quando era oposição. Lula era contra o Bolsa Escola, que pagava uma mensalidade a famílias pobres, desde que mantivessem os filhos na escola. Era contra o Leve Leite de Paulo Maluf em São Paulo, que fazia o mesmo com latas de leite em pó. Era contra qualquer distribuição de cesta básica ou outras formas de compra de voto disfarçadas.

Tal fato ficou registrado em um famoso vídeo de Lula em 2000, quando ainda não estava no governo, xingando os críticos de seus programas de imbecil e ignorante.

O Bolsa Família simplificou tudo: acabou com o disfarce. Compra-se o voto e pronto, e com dinheiro vivo. O Lula que criticava quem votava com o estômago agora é contra quem não vota estomagado.

Por que isto se dá? A resposta também é simples: a tentação do poder. Libido dominandi, estudada desde Santo Agostinho. Para explicá-la, nada melhor do que recorrer ao maior clássico russo.

 

Nem só de pão vive o homem

Assistindo a todo o teatrinho petista desde 1880, Fiódor Dostoievsky, considerado por 9 em cada 10 falantes o maior romancista de todos, sem que nunca seja entendido direito, conhecia muito bem os planos de Lula, Dirceu, Dilma e toda a caterva petista.

Em sua última obra, Os Irmãos Karamázov, uma disparidade de vozes adversas e cheias de conflitos internos são postas a debater os assuntos mais filosóficos, sobretudo concernentes à religião.

Ivan Karamázov, o irmão do meio, intelectual e lutando contra a flavio3melancolia da rejeição e inadequação ao mundo, é um ateu descrente dos descrentes da época, preferindo mesmo argumentar a favor da superioridade moral da Igreja, ainda que sem Deus, aos fanáticos revolucionários ou até aos burocratas do Estado moderno.

Em um dos momentos mais sublimes da prosa mundial, Ivan conta a seu irmão Aliócha Karamázov, noviço de um monastério, um poema que pretende escrever, chamado O Grande Inquisidor (trecho tão grandioso que é muitas vezes tratado como um conto à parte do livro). No poema, Jesus Cristo volta à Terra em plena Inquisição espanhola, sendo trancafiado por um velho inquisidor imediatamente.

Seu algoz comenta a Jesus de quando Ele fora “tentado” no deserto (Mateus, 4:1-11), afiando que o espírito tentador, na verdade, conseguiu reunir a sapiência de todos os sábios futuros da Terra – “governantes, sacerdotes, cientistas, filósofos, poetas”. Lula e o PT inclusos. Resumiu o diabo “toda a futura história do mundo e da humanidade” nestas três tentações.

Quando o espírito quer que Jesus prove ser o Filho de Deus transformando as pedras em pães, Jesus obtempera, mesmo faminto no jejum: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”.

O que o tentador faz, na verdade, além de demonstrar simploriedade e reducionismo no falso ceticismo, é resumir toda a questão da liberdade dos homens diante dos governantes, “porquanto para o homem (…) nunca houve nada mais insuportável do que a liberdade!”

No bojo da tentação impingida a Jesus, resta o pecado mortal e mortífero da subordinação de toda a raça humana. É como se o diabo pedisse para transformar as pedras em pães “e atrás de ti correrá como uma manada a humanidade agradecida e obediente, ainda que tremendo eternamente com medo de que retires tua mão e cesse a distribuição dos teus pães”.

Jesus-bibliaAlguém mais notou que Jesus resistiu à tentação, mas nenhum petista, nenhum social-democrata, nenhum burocrata da “reforma social” deixou de sucumbir à perdição de transformar pedras em pães, ainda que temporariamente, ainda que falsamente, mesmo que simplesmente manipulando índices, em nome de ter agradecimentos obedientes, de homens reduzidos a pedintes gratos, despidos de toda vergonha, honra, trabalho e destino próprios, solícitos a cobrir de ovações e votos ao primeiro que sacrificar sua liberdade no altar da mistificação e da manipulação da realidade em troca da mais ínfima migalha gratuita?

Jesus notou a contradição: “Que liberdade é essa se a obediência foi comprada com o pão?” Certamente não a liberdade de ver a realidade como é, sem querer manipulá-la pela bruxaria e tapeação.

Alguém que viva apenas de pão pode ver algo além do maior tirano como um grande benfeitor, escondendo o seu medo de que pare de lhe dar pães?

É o que diz o inquisidor, crendo que o tentador mostrou tão bem como o homem se resume a uma besta fera buscando saciar seus apetites quando não é mais livre: “Sabes tu que passarão os séculos e a humanidade proclamará através da sua sabedoria e da sua ciência que o crime não existe, logo, também não existe pecado, existem apenas famintos?”

Pode-se ler tal clarividência sem pensar em como são fracos os espíritos de quem justifica o mensalão – ou mesmo de quem o aceita como um “mal menor” em nome da “justiça social” da “distribuição de renda”, o migalhismo esmolista petista? Pode-se não se pensar na mídia governista? Na blogosfera progressista? Em homens menos rastejantes, mas ainda verminosos, do escol de Foucault, Lacan, Gramsci, Marcuse, Derrida, Zaffaroni, Negri e outros negadores do crime?

São os que preferem o rebanho obediente, que dirá: “É preferível que nos escravizeis, mas nos deem de comer”. Não existe mais crime, apenas “causas sociais”, sobretudo a desigualdade econômica. Para estes, “até a morte é mais cara do que o livre-arbítrio no conhecimento do bem e do mal”. É o selvagem de Rousseau, só consciente de seu apetite.

A crise do PT disputando poder ou da social-democracia precisando pagar a conta surpreende alguém? Não ao inquisidor de Ivan Karamázov: “Finalmente compreenderão que, juntos, a liberdade e o pão da terra em quantidade suficiente para toda e qualquer pessoa são inconcebíveis, pois eles nunca, nunca saberão dividi-los entre si!”

lenin-propagandaJesus rejeita a bandeira do pão e da terra (curiosamente, divisa comum aos comunistas, nazistas e futuros partidos sindicalistas e “trabalhistas”) em nome da liberdade e do pão dos céus. Todavia, alerta o inquisidor, “Eles destruirão os templos e cobrirão a terra de sangue. Mas essas tolas crianças finalmente perceberão que, mesmo sendo rebeldes, são rebeldes fracos que não aguentam a própria rebeldia.”

Se antes o rei benevolente precisava ser milagroso, hoje o burocrata da obediência mundial, da destruição de consciências no formigueiro da igualdade e unanimidade modista, pode ser um novo ídolo sem tanto: “Ao receberem os pães de nossas mãos, eles, evidentemente, verão com clareza que os pães, que são seus, que eles conseguiram com as próprias mãos, nós os tomamos para distribuí-los entre eles sem qualquer milagre, verão que não transformamos pedras em pães e, em verdade, estarão mais alegres com o fato de receberem o pão de nossas mãos do que com o próprio pão!”

Fica alguma dúvida da razão do fanatismo petista, da crença de que a distribuição justifica qualquer crime, da mistificação sobre as figuras falsas dos mandantes-em-chefe, da nulidade cultural e de consciências inovadoras entre as hostes petistas?

Dostoievsky, é claro, sabia antever tudo. E nunca votaria na esquerda ou no PT.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern

Analista político, palestrante e tradutor. Escreve para o jornal Gazeta do Povo , além de sites como Implicante e Instituto Millenium. Lançou seu primeiro pela editora Record Por trás da máscara, sobre os protestos de 2013.

4 comentários em “Dostoievsky e o PT

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    10/02/2015 em 2:29 pm
    Permalink

    A pergunta é: Como que a Rússia, um país de alta cultura figurada em como escritores do cacife de Dostoiévski foi descambar no Comunismo, um século depois?

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    10/02/2015 em 12:30 am
    Permalink

    “E como se tudo confluísse para o mesmo lugar, optei por ler o mais curto: “O Sonho de um homem ridículo”, que é o texto mais místico que li do monstro russo. No mesmo estilo ‘fluxo de pensamento’ que me apaixonou em Memórias de Subsolo, Dostoievski discorre sobre nossos anseios existenciais que só encontram plenitude e descanso na fé imaterial. É pisado falar o quanto Dostoievski me esmaga com tudo o que escreveu. Não sei se qualquer pessoa lendo Dostoievski vá sentir a mesma coisa, portanto não posso te garantir que te sentirás assim, mas comigo é como se ele tivesse roubado pensamentos soltos da minha mente e os organizado numa história coesa e sensata, ao contrário das linhas soltas que confabulo. É como se fosse uma leitura telepática, onde todos os meus medos, dúvidas e sentimentos vários aparecessem continuamente nas páginas descobertas. Seria como ler o próprio diário, caso eu fosse capaz do que mais ninguém é, foi ou será: escrever como Dostoiévski.

    Não vou dizer do que se trata, nem resumir o texto; quem tiver interesse que busque a leitura, que não leva sequer uma hora. Mas posso adiantar a citação do segundo mandamento: “Ama ao próximo como a ti mesmo”. Suspeito que nenhum ateu tenha lido Dostoievski, ou se leu, não foi ao âmago do escritor além das personagens. Faltou a Nietzsche ter lido Dostoievski; se o tivesse feito, não teria falado em ubermensch, pois compreenderia o misticismo que há entre o homem e seu remorso. Destrinchem Dostoievski e percebam a Verdade que correntes filosóficas distintas discutiram por longas décadas: Não há amoralidade. A moral humana não é um contrato social. Está aí e esta aqui, cá dentro. É impossível ignorá-la sem que se definhe como um louco, tal como o autor de O Anticristo.

    Por isso o mestre, que cito paulatinamente, Nelson Rodrigues, quando indagado sobre o que havia lido durante sua vida, foi sucinto: Dostoiévski. O que mais?! Perguntou o interlocutor, do alto de seus milhares de volumes, ao que ouviu novamente dO Reacionário: Dostoiévski. E concluiu, relatando a importância da releitura dos grandes livros, ao invés de perdermos tempo com maus livros (sem essa de relativizar o bom, certas “artes” não valem um minuto de vida, e azar dos que pensam o contrário).

    Assim como vale a pena rever grandes filmes. Este, para quem já viu, vale rever, e quem não viu, tem que ver ainda hoje, porque não sabemos quando avançaremos o sinal vermelho e: – A Felicidade Não Se Compra, de Frank Capra. O ensejo da data natalina reforça a intimação. É um filme sem defeitos. Os fãs de Senhor dos Anéis e Avatar talvez chiem, dizendo: “Mas é antigo. Preto e branco. E os efeitos especiais?”. Mas esses daí, faça o levantamento quem duvidar, preferem ler Nietzsche a Dostoiévski, quando não Paulo Coelho.”

    https://www.facebook.com/cronicasinteligentinhas/posts/756072104467221

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    09/02/2015 em 8:08 pm
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    Flávio, estou boquiaberto. Essa é sem dúvida a sua coluna mais brilhante e inspiradora.
    O tempo está lhe fazendo muito bem!

    Um grande abraço meu caro!
    Estou ansioso para ler seu livro…

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    09/02/2015 em 4:31 pm
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    Doistoievski melor gyy toda ps tejpsZ

    9enyte 10?

Fechado para comentários.

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