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We are the bridges of Indonesia

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nias

A frase acima estampa a fuselagem de alguns aviões de uma companhia aérea da Indonésia controlada pelo governo. Frase que me lembrou uma ponte no centro da cidade de Barra do Piraí, região serrana do Rio de Janeiro. Uma ponte que se eleva de uma margem para pousar na mesma margem. Isso é o Estado! Isso é o Estado em qualquer lugar do mundo!

Estou há mais de um mês viajando pela Indonésia, conhecendo lugares bem distintos uns dos outros em cultura, desenvolvimento econômico e perfil social; da ilha hindu de Bali a ilha muçulmana de Sumatra, passando pela ilha cristã de Nias. A única coisa que todas elas têm em comum é estarem subjugadas por um governo espoliador, intervencionista, notoriamente burocrático e corrupto. Um governo que mantém o país na 71° posição (entre 80 países) do ranking de qualidade de vida do Economist Intelligence Unit e, não por acaso, a 105° posição (entre 178 países) no ranking de liberdade econômica da Heritage Fundation.

Por que será que esses índices sempre estão correlacionados?

Fui à Indonésia para surfar, assim como milhares de surfistas fazem todos os anos. Na busca pela “onda perfeita”, surfistas desbravam o litoral do país alavancando um grande negócio que envolve principalmente pequenas comunidades e pessoas comuns que, sem esses visitantes, estariam em condições muito piores do que se encontram hoje.

Tomo como exemplo a ilha de Nias, localizada na costa noroeste de Sumatra. Extremamente pobre, carente das infraestruturas mais básicas, seus moradores dispersos em dezenas de vilas vivem de agricultura básica, comércio e serviços locais. Os moradores que conseguem uma vida melhor são pequenos empresários bem relacionados com o governo ou pessoas comuns que prestam serviços aos surfistas.

Além de dólares, os surfistas há décadas vêm oferecendo a ilha informações sobre higiene e saneamento domésticos; obviamente, para melhorar as condições de suas próprias permanências na ilha, o que acaba beneficiando toda a comunidade − a casa do morador que se transforma em pousada, que logo começa a tratar melhor sua água, seu lixo e seu esgoto para atender os hóspedes e que, em consequência disso, melhora as condições de vida da família e estimula os vizinhos a fazerem o mesmo.

Entre os surfistas, estão médicos, dentistas, engenheiros e outros profissionais que voluntaria e gratuitamente prestam serviço aos moradores. Muitas são as comunidades que só tiveram tratamento dentário por meio desses voluntários. Além de serviços profissionais, quase todos os surfistas deixam roupas e itens de higiene pessoal. Alguns saem de seus países com malas preenchidas inteiramente por coisas para serem doadas aos moradores. E que fique claro: Isso não é socialismo. Isso é o que Mises descreve como Ação Humana e que Hayek indica como Ordem Espontânea − indivíduos agindo por conta própria em função de suas ideias e de seus interesses particulares, convergindo em benefícios coletivos. Socialismo é quando o Estado tenta anular a Ação Humana e a Ordem Espontânea para impor sua própria e nunca comprovada sabedoria.

We are the bridges of Indonesia.

O Segundo pensamento que veio à minha mente ao ler esta frase foi sobre a arrogância de um governo ao se apresentar como as “pontes” de um país como a Indonésia − milhares de ilhas, cidades e vilas, cada uma com características próprias, sendo obrigadas a sustentar um governo central controlado por pessoas que não têm qualquer relação com elas. Isso é o Estado! Isso é o Estado em qualquer lugar do mundo!

Enquanto as pessoas são as reais pontes entre elas mesmas, Estados insistem, por meio da força, em se posicionar entre as pessoas e suas necessidades. Sobre cada produto que chega a Nias incide um imposto. Cada lâmpada. Cada motor de popa. Cada sabonete. Cada gerador de energia. Cada telefone celular. Seja qual for o produto, por meio dele o governo tira seu terço. Cabe ao cidadão comum não apenas trabalhar para poder pagar pelo produto que precisa, mas também para pagar ao governo pela permissão de comprá-los.

We are the bridges of Indonesia.

Conheci um casal de brasileiros que tentou ser a ponte entre o voluntarismo e as necessidades humanas. Reuniram, através de doações de amigos e conhecidos, duas malas de roupas para serem doadas às crianças da pequena vila de Nias que hospeda os surfistas. Porém, a alfandega apreendeu as duas malas, alegando que o casal tinha interesses comerciais. Não havia multa ou taxa a ser paga para se liberar as malas, apenas propina. Cem dólares por mala. Duzentos dólares na Indonésia é muito dinheiro. Dinheiro que seria gasto na vila para a qual estavam indo mas que acabou no bolso de um representante das boas intenções estatais.

We are the bridges of Indonesia.

Conversando com um australiano que mora no país há muitos anos, que já domina a língua e empreende negócios, soube da escala da burocracia e da corrupção no país. Um dos casos que me contou foi o de um amigo dele interessado em construir um resort (que na verdade seria apenas uma pousada de poucos quartos numa ilha isolada) para surfistas. Um resort que, como a maioria do tipo no país, empregaria um morador local para cada hóspede. Por que o negócio não foi para frente? Porque faltou dinheiro para propina. Ele pagou um, dois, três… muitos funcionários públicos para ter as assinaturas que precisava para se aprovar o empreendimento, porém, para cada funcionário subornado, surgia outro e mais outro e mais outro também querendo a dele. O dinheiro acabou. O projeto, mesmo tendo sido aprovado logo no começo pela comunidade que o abrigaria, foi cancelado. Uma comunidade de pescadores perdeu 30 empregos diretos mais o voluntarismo de centenas de surfistas por ano. Isso é o Estado! Isso é o Estado em qualquer lugar do mundo!

Obviamente, existem Estados menos espoliadores do que outros, mas a verdade é que, de uma forma ou de outra, quanto mais um governo se coloca entre as pessoas e suas necessidades, menos condições as pessoas têm de resolver seus problemas, os quais, apenas elas sabem exatamente quais são.

Um empresário estrangeiro, diante dos obstáculos de um governo, simplesmente redireciona seus investimentos para outro país, no entanto, a população local não tem como escapar. No caso dos indonésios, mesmo sendo extremamente trabalhadores e práticos, sempre encontram pela frente as mesmas muralhas que qualquer brasileiro encontra quando tenta empreender um negócio. É assim que a pobreza se perpetua pelo mundo…

We are the bridges of Indonesia.

Nâo! Não são!

Enquanto o capitalismo dá um jeito de seus produtos chegarem às pessoas – até às mais isoladas ilhas do Oceano Índico −, o Estado cria formas de dificultar isso. Enquanto o satanizado capitalismo entrega seus produtos a quem paga por eles, o cultuado Estado se dá ao direito de cobrar por serviços que na maioria das vezes não fornece.

Qual a razão prática de centenas de ilhas, de milhares de vilas e cidades estarem sob o poder de um único governo? O que aconteceria se cada ilha, se cada vila, se cada cidade tivesse plena autonomia para cobrar (ou não) e fazer uso de impostos em função de suas necessidades concretas; e também para legislar no sentido de atrair visitantes e investidores estrangeiros? É realmente um absurdo se cobrar que comunidades tenham autonomia sobre suas próprias vidas?

Não. Não estou falando apenas da Indonésia.

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João Cesar de Melo

João Cesar de Melo

É militante liberal/conservador com consciência libertária.

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