Visconde do Rio Branco e a liberdade
“É aí, na defesa de uma causa tão justa quão humana, que a sua figura se agiganta e toma as proporções dos estadistas que as pátrias predestinam — como Lincoln.” – General Affonso de Carvalho sobre o Visconde do Rio Branco.
Winston Churchill talvez seja o mais importante político inglês do século XX. Sua atuação nas decisões políticas e militares, que influenciaram a 1ª Grande Guerra, e sua brilhante liderança, que conduziu o Reino Unido na 2ª Guerra Mundial, colocaram-no nesse status. Porém, foram os estudos de sua vida e obra, bem como as manifestações culturais a seu respeito, que o transformaram no maior personagem britânico de todos os tempos, imagem sedimentada no imaginário coletivo.
Figuras históricas como Churchill são depositárias dos valores morais mais importantes de suas nações. É a elas que seus compatriotas recorrem nos momentos de crise.
Por ser fonte inesgotável de inspiração, a vida do ex-primeiro-ministro britânico foi escrita, reescrita e traduzida para diversos idiomas, sendo retratada, também, em muitas produções audiovisuais. Não por acaso, ele foi retratados em diversos filmes, sendo os últimos “Churchill” e “O destino de uma nação”, lançados com poucos meses de defasagem.
Este artigo pretende trazer à tona as seguintes reflexões: quem são os personagens brasileiros que podem inspirar o Brasil de hoje? Quais são os valores que devem nortear o País, para vencermos mais esta crise que vivemos?
O Visconde do Rio Branco
É verdade que a história do Brasil é repleta de personagens grandiosos. Homens e mulheres abnegados que viveram intensamente em prol da Nação. O que nos cabe, hoje, é estudar a vida e os feitos dessas personalidades, se não pelos bancos escolares — há muito tempo ideologicamente enviesados –, pelo menos por iniciativa própria. Em tempos de Google, Amazon e e-books, a busca individual do conhecimento nunca esteve tão acessível a todos nós.
Se nos prontificarmos a buscar essas referências históricas, encontraremos, entre tantos estadistas existentes em nossa história, José Maria da Silva Paranhos — o Visconde do Rio Branco, pai do Barão do Rio Branco. Militar, professor, jornalista, redator, deputado, diplomata, ministro, Visconde do Rio Branco notabilizou-se desde cedo e, por toda a vida, dedicou-se a engrandecer o Brasil.
Já aos 25 anos, influenciava a elite intelectual do País. Suas ideias poderiam perfeitamente ser publicadas nos editoriais dos jornais de hoje:
Liberalismo econômico
“Alargai a esfera dos cidadãos que podem tomar parte nos negócios do Estado, prescrevei o exclusivismo, que manda somente dar importância a um limitado número de pessoas”.
Combate à corrupção
“Estendei a espada da justiça até os lugares onde empregados dilapidadores estragam a riqueza pública”.
Representatividade política
“Que as Câmaras sejam realmente a expressão do país inteiro”.
Liberdade de expressão
“Quereis a desgraça do país? Exercei a parcialidade e a injustiça para com aqueles cujas opiniões forem diversas”.
Por fim, Paranhos criticava a fomentação da luta de classes, o que, segundo ele, desmantelaria o Império e aniquilaria tudo que tem de mais caro à Nação.
Na função de diplomata, o Visconde foi responsável pela fixação das fronteiras entre Brasil e Uruguai; afastou a proibição, imposta pelo ditador Lopez, de o Brasil navegar no Rio Paraguai até o Mato Grosso; esteve à frente da celebração do Tratado do Paraná em 1856, importante marco fronteiriço para a questão das Missões. Após a Guerra da Tríplice Aliança, foi designado para organizar o novo governo paraguaio, que fora totalmente desmantelado.
Porém, foi no cargo de Presidente do Conselho de Ministros, à frente da Campanha Abolicionista, que Visconde do Rio Branco elevou-se à condição de estadista. Assim diz seu biógrafo, General Affonso de Carvalho: “É aí, na defesa de uma causa tão justa quão humana, que a sua figura se agiganta e toma as proporções dos estadistas que as pátrias predestinam — como Lincoln”. A vitória de seu trabalho foi a promulgação, em 28 de setembro de 1871, da Lei Rio Branco, assinada pela Princesa Isabel e conhecida, também, como Lei do Ventre Livre.
Se não foi possível libertar todos os escravos na época, foi graças à postura apaziguadora de Rio Branco que não sofremos cisões políticas, que poderiam descambar para uma guerra como a norte-americana. Assim como Lincoln, o povo fez justiça ao Visconde do Rio Branco: “Aí vai o nosso protetor!”, gritavam as mães escravas levantando seus bebês, ao avistá-lo nas ruas cariocas.
Foi responsável, ainda, por reformas do judiciário e da magistratura; instituiu os registros civis de nascimento, casamento e óbito; autorizou a concessão de empréstimos oficiais a juros; reformou a Casa da Moeda; estabeleceu as moedas de níquel; iniciou o arrasamento do Morro do Castelo, além de muitas outras iniciativas governamentais. Foi um verdadeiro reformista.
Conclusão
A história de José Maria da Silva Paranhos é um exemplo de vida dedicada ao Brasil.
Poderia a figura do Visconde do Rio Branco inspirar nossos políticos de hoje? Seus valores deveriam guiar a todos nós nos enfrentamentos das atuais – e recorrentes – crises? As respostas são, indubitavelmente, positivas.
O Brasil não teve Churchill. O Brasil não precisa de um Lincoln. Nós tivemos nossos heróis, como o Visconde do Rio Branco. E precisamos conhecê-los.