Uma história real sobre a burocracia brasileira
BERNARDO SANTORO *
Por motivos particulares, precisei dos números dos recibos das duas últimas declarações de imposto de renda. Aproveitei que fui fazer um exame de vista ao lado da Receita Federal e passei por lá.
Chegando ao balcão de informações, a atendente, muito simpática, se prontificou a me atender. Eu perguntei onde pegava os números dos recibos, e ela me respondeu que, infelizmente, eu precisava agendar uma reunião com o funcionário responsável no site da Receita, e só teria horário no final da semana que vem.
Absolutamente assustado, perguntei para ela se isso era mesmo necessário, afinal, são só números de recibos e eu nem estava interessado em expedir documentos ou certidões. Ela me disse, lamentando, que meu caso era mesmo de agendamento.
Inconformado, ainda fiz uma última indagação: “Já que eu vou entrar mesmo no site para agendar a entrega da informação, eu não conseguiria pegar esses números pelo próprio site, evitando assim ter de voltar aqui?”
A resposta foi a mais inacreditável possível: “Olha, até dá para conseguir, mas para entrar na área do site onde tem os números dos recibos, o senhor precisa dos números dos dois últimos recibos, que é justamente o que o senhor não tem”. Logo após essa resposta bizarra, ela deu uma risada nervosa, típica de quem entende a esquizofrenia da situação.
Eu ainda perguntei, descontraído pela risada nervosa dela, se ela achava isso normal. A resposta foi a melhor piada que eu ouvi em tempos: “Normalidade? O senhor não acha que está exigindo muito do governo?”
Então rimos os dois juntos. E pela primeira vez eu senti alguma simpatia por uma agente da Receita.
* DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL